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Édipo, um rapaz de Lisboa - Fonoteca Municipal de Lisboa

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logias”. Porquê? “Porque é isso quetenho <strong>de</strong> transmitir n<strong>um</strong>a canção”.Ou seja: reescrever as canções significaprocurar <strong>um</strong>a espécie <strong>de</strong> exactidãoemocional que não tinha sidoalcançada.Esta abordagem à música tem-lhevalido o epíteto <strong>de</strong> compositora difícil,algo com que não concorda:“Não ponho a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serdifícil: se faço as coisas é porque nãome é assim tão difícil”. Tão menos<strong>de</strong>saprova a música dita “fácil.” “Nãoé que não goste <strong>de</strong> pop, apenas hácoisas que cansam <strong>de</strong>masiado. Quandose repete <strong>de</strong>masiadas vezes amesma frase musical, por exemplo”.Ainda assim, tem <strong>um</strong>a abordagemracional às músicas que não lhe interessam:“Tudo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do que<strong>um</strong>a canção que ser: há canções quenão são feitas para serem ouvidasmas sim dançadas, e há algo <strong>de</strong> ritualnisso, pelo que a repetição fazsentido. Mas no que eu faço isso nãofaz sentido”.Curiosamente, diz, <strong>de</strong>scobriu quehá muito mais potencial para remexernas canções mais simples que nasmais complexas: “É engraçado queas músicas que só têm meia dúzia <strong>de</strong>acor<strong>de</strong>s têm mais ambiências harmónicaspara experimentar que as cançõesem que a sucessão <strong>de</strong> harmónicosjá é muito rica.”Isto justifica alg<strong>um</strong>as das opçõesque fez em termos <strong>de</strong> revisão do seucatálogo. Em particular, o crescenteuso da electrónica. “Estou interessadaem explorar o espaço do não acústico,que tem estado muito associadocom <strong>de</strong>terminados géneros, mas quetem mais para dar”.Quer tirar a electrónica dos génerosa que está confinada e usá-la paracriar paisagens mentais inusitadasn<strong>um</strong> universo que <strong>de</strong>ve muito aosFaustos, aos Sérgios e aos Zecas, comoela admite e como é notório poralg<strong>um</strong>as opções vocais no disco.“Quando estou a compor e sinto quehá afinida<strong>de</strong>s no que estou a fazercom o trabalho <strong>de</strong> alguém que meensinou alg<strong>um</strong>a coisa, aí <strong>de</strong>nuncioa homenagem. Pisco o olho ao Fausto,ao Sérgio, admito”.Um ouvido giganteAmélia diz não acreditar “nada nainspiração”, naquela imagem doautor “<strong>de</strong> olhos em alvo e a espreitaras estrelas”. Criar “tem a vercom reor<strong>de</strong>nar o que se ouve, massabendo <strong>de</strong> on<strong>de</strong> é que as coisasvêm”. De qualquer modo, não é “capaz<strong>de</strong> compor à X ou à Y”: “Quandoestou a compor só estou a tentarresolver problemas com os materiaisque tenho.” E para isso precisa<strong>de</strong> ser melómana – e é-o – porqueprecisa <strong>de</strong> conhecer mais, já que“conhecer mais é aguçar a sensibilida<strong>de</strong>”.A sua sensibilida<strong>de</strong>, diga-se, é aguçada,como se tivesse <strong>um</strong> ouvido giganteque <strong>de</strong>turpasse todos os sonsque o mundo produz. Herança <strong>de</strong> infância.“Eu venho <strong>de</strong> <strong>um</strong>a família <strong>de</strong>músicos. O meu pai era <strong>um</strong> barítonoque cantava em corais e compravadiscos <strong>de</strong> todos os géneros”.É daí que tantas contradições permeiema sua obra. Ela tem os adufese a electrónica. A guitarra e a voz <strong>de</strong><strong>um</strong> lado, e polifonias em barda do“As canções são <strong>um</strong>aespécie <strong>de</strong> poeira quevai assentando”Em “Uma Autora, 202Canções” reúnem-secanções originais,revisões por vezesradicais <strong>de</strong> temasantigos e faixas queAmélia havia escritopara fadistasoutro. Po<strong>de</strong> ser assustadora e aomesmo tempo as crianças gostam <strong>de</strong>canções suas, talvez resquícios dainfluência <strong>de</strong> Zeca ou do facto <strong>de</strong> ternascido em Moçambique, on<strong>de</strong> trabalhoua cantar para os miúdos: faziacampanhas <strong>de</strong> educação em quecriava canções como “Quem gostada mosca?” ou temas em que falavados perigos da lombriga. A nossopedido canta-as e é difícil resistir aoapelo imediato das canções – o quemais <strong>um</strong>a vez entra em contradiçãocom o seu lado complexo. Certo éque alguém <strong>de</strong>via obrigá-la a gravarestes temas ou a fazer <strong>um</strong> disco paracrianças.Enquanto isso não acontece e enquantonão sai o disco com músicagrega que há muito quer fazer ou osdois discos que já terminou e não aindanão editou por falta <strong>de</strong> financiamentoé possível que haja <strong>um</strong>a sequela<strong>de</strong>ste disco.“Isto é <strong>um</strong>a i<strong>de</strong>ia em viagem: enquantoeu tiver canções posso continuar,porque há sempre canções quetêm outras canções <strong>de</strong>ntro”.Ípsilon • Sexta-feira 19 Fevereiro 2010 • 33

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