10.07.2015 Views

Édipo, um rapaz de Lisboa - Fonoteca Municipal de Lisboa

Édipo, um rapaz de Lisboa - Fonoteca Municipal de Lisboa

Édipo, um rapaz de Lisboa - Fonoteca Municipal de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

“Comecei pelo óbvio,Rimbaud, que é muitoexcitante ler quandose é miúdo. Depoisvirei-me para ossurrealistas, paraAndré Breton. Osamericanos, comoWalt Whitman, são<strong>um</strong>a presençaconstante. E DorothyParker, <strong>de</strong> que gostomuito, ocupou <strong>um</strong>aparte da minha vida”Ryan Sambolmou com o baterista Matt Hammerem Devon, Texas, em 2003, tem sido,precisamente, pôr-se em “<strong>de</strong>terminadassituações”.Algo íntimoQuando editaram “The Strange BoysAnd Girls Club”, o primeiro álb<strong>um</strong>,em 2009, já tinham seis anos <strong>de</strong> digressões.Entre elas, foram bandasuporte <strong>de</strong> Rocky Erikson, o lendáriolí<strong>de</strong>r dos 13th Floor Elevators, ou <strong>de</strong>Mighty Hannibal, misterioso mito dor&b e funk americanos. A vida <strong>de</strong>les,quando a Ryan e Matt já se haviamjuntado Greg Enlow e o irmão <strong>de</strong>Ryan, Phillip, era a banda, era a estradaque a banda lhes dava. Por issoRyan, enquanto <strong>um</strong> jazz “cool” o <strong>de</strong>spertaserenamente para o dia queavança n<strong>um</strong>a manhã lisboeta, diz-nosque, não fosse a banda e o mais provávelseria “andar a lavar pratos”.Porque nunca fez nada mais que tocarna banda, porque não há nada maisque saiba ou queira realmente fazer:“Não fui para a Universida<strong>de</strong> e sintoque a minha educação foi horrível,tal como a da maioria dos miúdosamericanos que conheço. Encontreinos livros e nos discos tudo o que mefaltava na escola”.Os Strange Boys têm <strong>um</strong> novo disco,“Be Brave”, sucessor introspectivo<strong>de</strong> <strong>um</strong>a estreia eufórica e contagiante,on<strong>de</strong> se ouviam ecos dosRolling Stones amantes do blues, dosKinks cronistas do quotidiano ou doBob Dylan convertido à electricida<strong>de</strong>.Nada disso <strong>de</strong>sapareceu em “Be Brave”,mas nele acentua-se <strong>um</strong>a marcaautoral, como que a revelação <strong>de</strong> algoverda<strong>de</strong>iramente íntimo.Entre “Strange Boys And Girls Club”e “Be Brave”, a banda alterou-se. SaiuGreg Enlow e entraram o bateristaSeth Densham e a vocalista/saxofonistaJenna Thornhill-DeWitt, ambosdos Mika Miko. O disco foi gravadon<strong>um</strong> ápice. Como sempre, Ryan compôsas canções à guitarra acústica.Mostrou-as à banda e, dias <strong>de</strong>pois,seguiram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Austin, Texas, a cida<strong>de</strong>on<strong>de</strong> vivem, para <strong>um</strong> festival naCalifórnia. Antes do concerto, cujoalinhamento seria composto das novascanções, fizeram <strong>um</strong> único ensaio<strong>de</strong> duas horas e meia na garagem <strong>de</strong><strong>um</strong> amigo. Depois do festival, meteram-se<strong>um</strong> par <strong>de</strong> dias em estúdio egravaram “Be Brave”. Ryan Sambol<strong>de</strong>testa repetir-se e passar anos a tocaras mesmas canções: fala-nos <strong>de</strong>“honestida<strong>de</strong>”, <strong>de</strong> como sente queesta transparece no momento em quea canção é ainda <strong>um</strong> espaço em aberto,<strong>um</strong>a sensação <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta, <strong>um</strong>apossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> erro. Daí não maisque <strong>um</strong> par <strong>de</strong> dias para gravar <strong>um</strong>disco, daí a liberda<strong>de</strong> e a carga emotivaque ele carrega.O poema e a cançãoOs Strange Boys formaram-se muitoantes <strong>de</strong> editarem os primeiros discos.Tocaram e fartaram-se <strong>de</strong> errar, virambandas, como os Black Lips, que lhesofereceram <strong>um</strong>a quase epifania (“pelaatitu<strong>de</strong>, pela compreensão profunda<strong>de</strong> que, para além <strong>de</strong> tudo o resto,é suposto que <strong>um</strong> concerto seja divertido”).Descobriram-se e pu<strong>de</strong>ramchegar a isto, a “Be Brave”: 20 e poucosanos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, mas música e voz<strong>de</strong> gajos com muita vida em cima.Ryan olha para trás: “Sinto que fomosafortunados por não sermos bonsno início. Ouço gravações que fizemosno passado e até têm boas canções,mas a minha voz mata tudo. Porquenão era eu, porque era eu a tentar cantarcomo <strong>de</strong>masiadas pessoas. ‘E seme limitasse a cantar como canto?’Essa foi <strong>um</strong>a gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta”.Ryan a olhar o presente: “Nuncaquererei ser <strong>um</strong> músico a solo. Gosto<strong>de</strong>masiado <strong>de</strong> tocar com os StrangeBoys... Componho as canções emguitarra acústica e quando as levoao Greg e ao Phillip ficam sempremelhores. Na verda<strong>de</strong>, nem sei secomponho canções a sério. Muitas<strong>de</strong>las não têm refrões ou as estruturasnormais. Porque são apenas poemas.E quando acaba o poema,acaba a canção”.Há <strong>um</strong>a razão para Ryan invocar apoesia. Foi por ela que começou.Elenca-nos o seu percurso: “Comeceipelo óbvio, Rimbaud, que é muito excitanteler quando se é miúdo. Depoisvirei-me para os surrealistas, para AndréBreton. Os americanos, comoWalt Whitman, são <strong>um</strong>a presençaconstante. E Dorothy Parker, <strong>de</strong> quegosto muito, ocupou <strong>um</strong>a parte daminha vida”. Contudo, procuraremosem vão por qualquer <strong>um</strong> <strong>de</strong>stes nomesna música dos Strange Boys. Elesnão estão lá. Po<strong>de</strong>m ter enformado acriativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ryan Sambol, mas estamanifesta-se <strong>de</strong> outra forma. Comose a música, esta música que se firmano presente por oposição a “este tempoon<strong>de</strong> anda tudo obcecado com asimagens uns dos outros e em que existemdistracções como nunca antes nahistória da H<strong>um</strong>anida<strong>de</strong>”, contaminasseirremediavelmente o tom e aforma daquilo que os Strange Boyscantam.Ele confessa que, entre a música eos livros, a escolha foi fácil: “Possoficar no meu quarto a lutar para serpoeta, esperando que alguém publiquea minha poesia. Mas se quisertocar rock’n’roll vou ao bar. Dou <strong>um</strong>concerto e estarão alg<strong>um</strong>as pessoasa ver, dou outro e serão alg<strong>um</strong>as mais.Nenh<strong>um</strong> dos meus amigos lê vol<strong>um</strong>esmo<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> poesia, mas se os puserem canção, chego a todos eles”. Maisque isso, as suas canções são as pessoasà sua volta, são pequenos instantâneosque lhes resgata ao quotidiano.E os Strange Boys são, como poucosactualmente, rock’n’roll enquantomúsica popular urbana, firmementeassente em raízes antigas, mas pulsante<strong>de</strong> vida.O calceteiro texano“Be Brave” é <strong>um</strong> disco mais introspectivoque a estreia. Perguntamos aRyan se a sua vida mudou e ele contrapõeque a vida não mudou, “a vidaaconteceu”. Aconteceu aos StrangeBoys saírem em digressões <strong>de</strong> calendáriomais intenso que anteriormente,culpa da óptima recepção <strong>de</strong> “AndGirls Club”, e aconteceu a ressaca <strong>de</strong>toda essa euforia: “Dás <strong>um</strong> concertoe está lá todo aquele público, mas acabadoo concerto, vais para o hotel oupara a casa <strong>de</strong> alguém e pronto, acabaali” – neste caso, começa ali: “All youcan hi<strong>de</strong> insi<strong>de</strong>”, por exemplo, nasceun<strong>um</strong> quarto parisiense durante aúltima digressão europeia dos StrangeBoys.A entrevista caminha para o seu fime Ryan Sambol conta-nos a sua viagementre Madrid e <strong>Lisboa</strong>. Recorda a chegadaà capital portuguesa e <strong>de</strong> comoficou surpreendido quando <strong>de</strong>scobriuque as primeiras duas estátuas queviu eram <strong>de</strong> escritores – “Um escritor?Normalmente são criminosos <strong>de</strong> guerra”.Confessa que consegue imaginarsea viver por aqui. E divaga: “Queromudar-me para cá e arranjar emprego.Quero ser o encarregado das pedras.Sempre que for necessário cortar<strong>um</strong>a pedra para os passeios estaremarranjados, eu estaria lá”.Dificilmente será a sua vida no futuro,mas ainda assim, seria imperdível acanção que daí sairia: A história dotexano que se transforma no últimocalceteiro <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong>.Ver crítica <strong>de</strong> discos págs. 44 e segs© CLEMENTINA CABRALHAVIA UM MENINO QUE ERA PESSOAFernando Pessoa para CRIANÇAS M/6continua aos sábados e domingos às 15hCANTIGAS DE UMA NOITE DE VERÃO<strong>um</strong>a peça <strong>de</strong> amores e <strong>de</strong>sencontros <strong>de</strong> David Greig e Gordon McIntyreARTISTAS UNIDOS4ª a sáb às 21h45 e dom às 17h30 na Sala Estúdio M/12Ípsilon • Sexta-feira 19 Fevereiro 2010 • 35

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!