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Édipo, um rapaz de Lisboa - Fonoteca Municipal de Lisboa

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“O Toiro Enraivecido”, cruzandoShakespeare com o Brando <strong>de</strong> “HáLodo no Cais”. Por causa dos pugilistascomo actores, como “performers”,e obcecados pelos actores e pelos“performers”. “É verda<strong>de</strong>, alguém jáme disse que quando Bobby Cassidy,no meu filme, está a contar históriasreais é mais teatral do que quandoestá a representar o monólogo. O boxeé <strong>um</strong>a representação”, confirma.Isso é das coisas mais bonitas <strong>de</strong>“Bobby Cassidy”: a disposição paraoferecer o ringue ao corpo do pugilista,para <strong>de</strong>ixá-lo representar(-se).Isso e a maneira como, com a subtilinserção <strong>de</strong> fotos, acaba por fazer <strong>um</strong>doc<strong>um</strong>entário sobre a Nova Iorquedos anos 70. E sobre o cinema <strong>de</strong>ssadécada – <strong>um</strong> doc<strong>um</strong>entário imaginado,está sobretudo na nossa memória<strong>de</strong> espectadores.Passamos a “Os Incorruptíveiscontra a Droga”, <strong>de</strong> William Friedkin,por causa dos viadutos do metro,por causa <strong>de</strong> <strong>um</strong>a cida<strong>de</strong> que já<strong>de</strong>sapareceu, e porque Bobby é parecidocom Gene Hackman. Mas, respon<strong>de</strong>Bruno, melhor seria pegar emSidney L<strong>um</strong>et, no seu “Serpico” ouno seu “Dia <strong>de</strong> Cão”. “Cresci comeste cinema; os meus pais eram membrosda Comissão <strong>de</strong> Classificação <strong>de</strong>Espectáculos, e por isso entre os 11 eos 14 anos vi esses filmes”. E Brunofaz entrar Harry Nilsson e o nostálgicoe <strong>de</strong>vastador “Everybody’s Talkin”<strong>de</strong> “O Cowboy da Meia-Noite”, <strong>de</strong>John Schlesinger.“É dos meus favoritos”, extasia-se(para acrescentar que mesmo assimnão encontra em Dustin Hoffman a“mesma verda<strong>de</strong>” que encontra emDe Niro ou em Pacino). Extasia-se mesmo,Bruno. Com o olhar exterior <strong>de</strong>steinglês, Schlesinger, fascinando pelaAmérica: “É quase o filme perfeito arepresentar aquela época... Olha o quese passa aqui...”. E o que se passa alié <strong>um</strong> compacto <strong>de</strong> “flashbacks” e“flashforwards” com que – estávamosem pleno “mainstream” dos anos 70(o “mainstream” já não é mesmo oque era!) – Schlesinger experimentava,introduzia <strong>um</strong>a dimensão alucinatóriano realismo. E já que estamos aí...“Taxi Driver”. “Eu gosto mais do‘Taxi Driver’ do que do ‘Toiro Enraivecido’.A minha Nova Iorque [Brunoviveu na cida<strong>de</strong> entre 1985 e 2006] éainda a do ‘Taxi Driver’”. A solidão...“É talvez o filme mais nova-iorquino,estamos mais sozinhos em Nova Iorquedo que noutra cida<strong>de</strong> qualquer”.A <strong>de</strong>ambulação inicial, o rosto <strong>de</strong>De Niro, a música <strong>de</strong> Bernard Herrmann,as cores (“isto é lindo, isto vemdo Mario Bava”) são <strong>um</strong> <strong>de</strong>slize irreversível.Bruno também trata por tuo filme. “A [montadora] Marcia Lucasnão gostava <strong>de</strong>stes cortes [três vezesrepetem-se, cadência musical marcada,os planos dos sinais l<strong>um</strong>inosos <strong>de</strong>trânsito], mas são do Scorsese. É <strong>um</strong>filme influenciado pelo Godard. Egosto mais do De Niro aqui do que noO Toiro Enraivecido Há aquele momento em que Jake La Motta se oferece a Sugar RayRobinson, “Hey Ray, you’ve never got me down...”, e Sugar Ray faz <strong>um</strong> banquete... “Como é que sefaz <strong>um</strong> filme <strong>de</strong> boxe a seguir a este?”, pergunta Bruno <strong>de</strong> AlmeidaO Cowboy da Meia-Noite É Bruno quefaz entrar Harry Nilsson a cantar o nostálgico e<strong>de</strong>vastador “Everybody’s Talkin”. “É dos meusfilmes favoritos”, extasia-se, para acrescentar quemesmo assim não encontra em Dustin Hoffman a“mesma verda<strong>de</strong>” que encontra em Robert DeNiroou em Al PacinoTaxi Driver “Eu gosto mais do ‘Taxi Driver’do que do ‘Toiro Enraivecido’. A minha NovaIorque [Bruno viveu na cida<strong>de</strong> entre 1985 e 2006]é ainda a do ‘Taxi Driver’. É talvez o filme maisnova-iorquino, estamos mais sozinhos em NovaIorque do que noutra cida<strong>de</strong> qualquer”New York, New York “O Scorsese foicriticado por ter <strong>de</strong>morado alguns segundos sobreos olhos da Liza Minnelli ao espelho neste plano.Ele estava completamente apaixonado por ela”A Ultrapassagem “O meu primeiro filme[‘On the Run’] é influenciado por este, por causada relação entre as personagens: <strong>um</strong> ingénuo quecomeça a viver [Trintignant] e <strong>um</strong> extrovertido”que o perverte [Gassman]O Samurai “Cost<strong>um</strong>o mostrar este filme aosmeus actores. Pela economia. Isto é só cinema. Nãotem a ver com mais nada. O De Niro e o Pacino nãoconseguiam fazer o que faz aqui o Alain Delon,que nem era gran<strong>de</strong> actor. Não conseguiriamaguentar o lado artificial <strong>de</strong> tudo isto”Os Sapatos Vermelhos “Não há este<strong>de</strong>splante hoje. Acho que é [Michael Powell] maisrelevante do que o Hitchcock. É <strong>um</strong> cineasta queinfluenciou todos os outros”‘Toiro Enraivecido’, porque é menosrepresentação, há <strong>um</strong> lado neste filmequase doc<strong>um</strong>ental, antropológico.Lembro-me <strong>de</strong> ter chegado a NovaIorque [em 1985] e <strong>de</strong> sentir a verda<strong>de</strong>do ‘Taxi Driver’”.Solidão por solidão... “O Samurai”,<strong>de</strong> Jean-Pierre Melville. “Sefizesse <strong>um</strong>a sessão dupla, seria como ‘Taxi Driver’ e com ‘O Samurai’. Estáentre os meus <strong>de</strong>z filmes favoritos.Cost<strong>um</strong>o mostrar este filme aos meusactores. Pela economia. Isto é só cinema.Não tem a ver com mais nada.O De Niro e o Pacino não conseguiamfazer o que faz aqui o Alain Delon, quenem era gran<strong>de</strong> actor. Não conseguiriamaguentar o lado completamenteartificial <strong>de</strong> tudo isto” – no ecrã, Delone o seu chapéu, gesto que se ritualizaao longo da obra <strong>de</strong> Melville. “Isto é<strong>um</strong> gajo francês influenciado pelosfilmes americanos que <strong>de</strong>pois vai influenciaros americanos!”.Este tráfico é a história do cinemaamericano e do cinema europeu. Eeste tráfego, entre realismo e artificialismo,é o fascínio <strong>de</strong> Bruno. “Adoravafazer <strong>um</strong> filme completamenteplástico”. Vejam: “Os Chapéus <strong>de</strong>Chuva <strong>de</strong> Cherburgo”, <strong>de</strong> JacquesDemy, logo no genérico. “Incrível...os franceses conseguem sempre sairsebem”. “Os Sapatos Vermelhos”,<strong>de</strong> Michael Powell: “Não há este <strong>de</strong>splantehoje. Acho que é mais relevantedo que o Hitchcock. É <strong>um</strong> cineastaque influenciou todos os outros. Olhaas cores do ‘Querelle’, do Fassbin<strong>de</strong>r...E o ‘New York, New York’ [Scorsese]é todo tirado daqui”.“New York, New York”... “Os melhoresmovimentos <strong>de</strong> câmara <strong>de</strong>Scorsese estão neste filme”. Que juntao artifício total à saturação cassavetesianado improviso. O que fascinaBruno. Faz-nos parar n<strong>um</strong> plano que,no seu artificialismo, é também <strong>um</strong>pedaço <strong>de</strong> doc<strong>um</strong>entário: “O Scorsesefoi criticado por ter <strong>de</strong>morado algunssegundos sobre os olhos da LizaMinnelli ao espelho neste plano. Eleestava completamente apaixonadopor ela”.Trânsito final, para algo só aparentementediferente porque vive da mesmaoscilação entre o doc<strong>um</strong>ento e avoracida<strong>de</strong> da construção: “A Ultrapassagem”,Dino Risi. “O meu primeirofilme [‘On the Run’] é influenciadopor este, por causa da relaçãoentre as personagens, a história <strong>de</strong>opostos: <strong>um</strong> ingénuo que começa aviver [Jean-Louis Trintignant] e <strong>um</strong>extrovertido” que o perverte [VittorioGassman]. “É <strong>um</strong> ‘buddy movie’, é <strong>um</strong>‘road movie’, não se percebe bem, queinfluenciou o Scorsese na utilização damúsica popular na banda sonora. É <strong>um</strong>filme sobre a perda da inocência”.Depois disto ainda tentámos QuentinTarantino. E a resposta veio eminglês: “Smart movies for supermarketaudiences”.Ver crítica <strong>de</strong> filmes pags 52 e segsÍpsilon • Sexta-feira 19 Fevereiro 2010 • 25

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