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Édipo, um rapaz de Lisboa - Fonoteca Municipal de Lisboa

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DiscosA colecção <strong>de</strong> discos<strong>de</strong>dicada a Schubertque Matthias Goernetem vinda a registaré já <strong>um</strong> marcona discografia da canção<strong>de</strong> câmara germânicaClássicaA arteintrospectiva<strong>de</strong> MathiasGoerneEm “Heliopolis”, o barítonoalemão reafirma a excelenteforma vocal e <strong>um</strong>a profundamaturida<strong>de</strong> interpretativa.Cristina Fernan<strong>de</strong>sSchubertHeliopolisMatthias Goerne (barítono)Ingo Metzmacher (piano)mmmmnA colecção <strong>de</strong>discos <strong>de</strong>dicada aSchubert queMatthias Goernetem vinda a registarna Harmonia Mundicom diferentes pianistas vai apenasno quarto vol<strong>um</strong>e — prevêem-se 11até 2011 — mas não é arriscado dizerseque é já <strong>um</strong> marco na discografiada canção <strong>de</strong> câmara germânica. Asinterpretações são também <strong>um</strong>excelente testemunho <strong>de</strong> <strong>um</strong> pontoalto carreira do barítono alemão,marcada por <strong>um</strong>a crescentematurida<strong>de</strong> e <strong>um</strong> perfil vocal comforte i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.Este quarto vol<strong>um</strong>e, intitulado“Heliopolis” sob a inspiração dosdois Lie<strong>de</strong>r homónimos D. 753 e D.754, centra-se em gran<strong>de</strong> parte emcanções que evocam figuras míticase lendas da Grécia Antiga. Tal comonos discos anteriores, e apesar daalusão à “cida<strong>de</strong> do Sol” expressa notítulo, o tom geral é mais sombrio doque l<strong>um</strong>inoso, sendo marcado por<strong>um</strong>a profunda instrospecção.Goerne possui <strong>um</strong>a vozbelíssima que se foitornando mais <strong>de</strong>nsacom os anos, mas quepermanece capaz<strong>de</strong> produzir <strong>um</strong>agran<strong>de</strong> paleta <strong>de</strong>cores. Com <strong>um</strong>atécnicaimpecável egran<strong>de</strong> nobreza<strong>de</strong> fraseadosfaz-nosmergulhar emcada canção emmundos diversose experimentar<strong>um</strong>a gran<strong>de</strong>varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>emoções. Em vez <strong>de</strong>miniaturas <strong>de</strong> salão (comopor vezes surgem noutrasinterpretações), na voz <strong>de</strong>stedistinto discípulo <strong>de</strong> Fischer-Dieskau e Elisabeth Schwarzkopt, ascanções revelam <strong>um</strong>a profundida<strong>de</strong>impressionante, traduzem dramas epaixões (que o Goerne não se inibe<strong>de</strong> vincar <strong>de</strong> forma veemente) ousurgem como visões fugazes ouaforismos poéticos. A versatilida<strong>de</strong>com que Goerne oscila entre apujança rítmica e assertiva e abeleza do “cantabile” está bempatente em “An die Lie<strong>de</strong>r” ou nasduas versões contrastantes <strong>de</strong>“Heliopolis”. Há tambémmomentos <strong>de</strong> pura magia, cominspiradas nuances, por exemplo nasingeleza refinada <strong>de</strong> “WandrersLied”, em “Der König in Thule”,“Blon<strong>de</strong>l zu marien” ou“Pilgerweise”. O piano <strong>de</strong> IngoMetzmacher é também <strong>um</strong>po<strong>de</strong>roso auxiliar na caracterização<strong>de</strong> cada peça, formando <strong>um</strong>a eficazparceria com o cantor. O CD éacompanhado por <strong>um</strong> DVD <strong>de</strong> 17minutos com o “making of” dagravação.PopIrrepetívelOs Feelies não eram parte<strong>de</strong> nenh<strong>um</strong>a cena, nãopareciam ter filiação óbviacom qualquer genealogia.Mário LopesFeeliesCrazy RhythmsDomino; distri. E<strong>de</strong>lmmmmmFeeliesThe Good EarthDomino; distri. E<strong>de</strong>lmmmnnNestas canções, osom das guitarras émicroscópico.Move-se com riffsnervosos emmovimentos febris,subterrâneos.Nestes Feelies <strong>de</strong> “Crazy Rhythms”,álb<strong>um</strong> <strong>de</strong> estreia, ano 1980,<strong>de</strong>scobre-se <strong>um</strong>a banda <strong>de</strong> “geeks”que se inventou como VelvetUn<strong>de</strong>rground do subúrbio on<strong>de</strong>nada se passa, como estrela rockcom óculos <strong>de</strong> Buddy Holly ecanções sem refrão – não se retêmmelodias, antes <strong>um</strong> fluído contínuo,<strong>um</strong> seco tilintar eléctrico.“Crazy Rhythms” é <strong>um</strong> álb<strong>um</strong>aMa<strong>um</strong>MedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelenteThe Feelies: a banda <strong>de</strong> “geeks” que se inventoucomo Velvet Un<strong>de</strong>rground do subúrbio on<strong>de</strong> nada se passairrepetível. Os Feelies, queexpunham o fraseado nasalado e<strong>de</strong>sinteressado <strong>de</strong> Lou Reed, quemostravam estar atentos aos duelosespiralados dos Television e quehabitavam o mesmo tempo <strong>de</strong> ACertain Ratio e Talking Heads, nãoeram parte <strong>de</strong> nenh<strong>um</strong>a cena, nãopareciam ter filiação óbvia comqualquer genealogia. Se “CrazyRhythms” é a maravilha queouvimos, <strong>de</strong>ve-o a essa insularida<strong>de</strong>.“What I say is hopeless / we’ll singas one”, atiram em “Loveless love”.É a continuação daquilo que lhesouvimos logo no início, em “The Boywith the perpetual nervousness”:“boy next door is into bigger things /the boy next door is me”. E sim, os<strong>rapaz</strong>es da porta ao lado, batidamarcial sem pratos a estilhaçar nosouvidos (os timbalões fazem otrabalho), com <strong>um</strong>a versão dosBeatles, “Everybody’s got somethingto hi<strong>de</strong> (except for me and mymonkey)”, transformada em hino aobom uso <strong>de</strong> anfetaminas, e com orock’n’roll reinventado como efusãoque o<strong>de</strong>ia espalhafato, estavamrealmente <strong>de</strong>stinados a “coisasmaiores”. “Crazy Rhythms”, que sãoos Velvet Un<strong>de</strong>rground sem Factory,enfiados n<strong>um</strong> salão <strong>de</strong> jogos a ouviro tilt dos “flippers” e a irritar-se porestarem aborrecidos <strong>de</strong> morte, é otestemunho disso mesmo.“Good Earth”, o segundo álb<strong>um</strong>,editado seis anos <strong>de</strong>pois, comprodução do fã Peter Buck, dosR.E.M., procura outro tipo <strong>de</strong>insularida<strong>de</strong>. Os urbanói<strong>de</strong>s <strong>de</strong>subúrbio pegam em guitarrasacústicas, eliminam os tiquesnervosos e criam canções comprincípio meio e fim – continuampresentes os histriónicos bailados <strong>de</strong>guitarra <strong>de</strong> Glenn Mercer e BillMillion, mas estão domados às novascircunstâncias. Ou seja, tudo maissereno, tudo <strong>de</strong> bom gosto, tudoimpecável.Vozes em harmonia e oclassicismo dos Byrds em “Let’s go”,<strong>um</strong> teclado a ver<strong>de</strong>jar na Beatlesca“Slow down” e <strong>um</strong>a “Slipping (intosomething)” que se prolonga, tensae minimal, provando que, apesar <strong>de</strong>tudo, nem sonhar com bucolismosaplacava o incómodo que o mundolhes provocava.“The Good Earth” é <strong>um</strong> óptimoálb<strong>um</strong>. “The Good Earth”, perante“Crazy Rhythms”, é <strong>um</strong> disquitosimpático.Um clássicomo<strong>de</strong>rnoThe Strange BoysBe BraveIn The Red; distri. PopstockmmmmnAparentemente,nada resta daeuforia <strong>de</strong> “TheStrange Boys andGirls Club”, oálb<strong>um</strong> <strong>de</strong> estreiados texanos Strange Boys. Nessedisco ressaltava <strong>um</strong>a i<strong>de</strong>ia: se Dylanli<strong>de</strong>rasse <strong>um</strong>a banda garage, se essabanda existisse agora e se Dylantrocasse os jogos narrativos e apoética surreal por histórias<strong>de</strong>sgarradas do quotidiano, oresultado po<strong>de</strong>riam ser os StrangeBoys <strong>de</strong> voz esganiçada e bailepreparado pelo sempre fiável comboguitarras/baixo/bateria/teclasocasionais.Não se preten<strong>de</strong> com aconvocação da imagem Dylanescamenorizar a banda <strong>de</strong> Ryan Sambol,atirando-a para <strong>um</strong> limbo on<strong>de</strong> nãoexiste por si, mas apenas comoreflexo distorcido <strong>de</strong> <strong>um</strong> outro. “BeBrave”, reverso perfeito do disco <strong>de</strong>estreia, não nos <strong>de</strong>ixa fazê-lo.Nele, os Strange Boys mergulhamem introspecção blues, sopramharmónicas sobre trejeitosVelvetianos - e o Max Kansas Citypasssa a saloon no Texas -, dilacerama folk com a voz à beira do colapso<strong>de</strong> Ryan Sambol. A euforia juvenil <strong>de</strong>outrora é aqui <strong>um</strong>a outra coisa. “Bebrave”, o primeiro single, tem oritmo cool do rock’n’roll que nãoesqueceu a soul, tem palmas amarcar o ritmo, <strong>um</strong> riff apontado àsancas <strong>de</strong> quem ouve e <strong>um</strong> solo <strong>de</strong>44 • Sexta-feira 19 Fevereiro 2010 • Ípsilon

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