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Há um novo Alain Platel à nossa espera - Fonoteca Municipal de ...

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po<strong>de</strong> dizer que <strong>um</strong>a peça estápronta?Neste caso, <strong>de</strong>z dias antes da estreia.Mas, às vezes, só quatro ou cinco diasantes. Quando estreia é porque estáperto do fim, e só sobram <strong>de</strong>talhes.E, <strong>de</strong>pois da estreia, não mudo as coisas.Não vejo que <strong>um</strong>a peça possamudar radicalmente <strong>de</strong>pois da estreia.Mas muda muito em termos <strong>de</strong>presença ao longo das apresentações.E isso não se po<strong>de</strong> prever completamente.E lida como com essaincompletu<strong>de</strong>?Esta peça toca em zonas muito profundasque, na altura da estreia, nãoo sentimos. Hoje, quando olho paraela, percebo que sou responsável por“isto”, sou consciente do que fiz. Maso modo como ela se tornou <strong>um</strong>a entida<strong>de</strong>viva, não sei qual foi.Descobre coisas no seu trabalhoquando o vê?Sim, pelo modo como as pessoas falam<strong>de</strong>le. Tanto interna como externamente.Tenho a minha própriafantasia quando vejo o espectáculo,vejo o que os bailarinos fazem, massó percebo o que querem dizer atravésdo efeito que as pessoas dizemque teve nelas. Por isso, po<strong>de</strong> ser interessanteler, por vezes, sobre o quese fez. Nem sempre, mas às vezes.Ainda se po<strong>de</strong> surpreen<strong>de</strong>r peloque escrevem e dizem sobre oque não tinha pensado fazer ounão tinha previsto?Claro. Durante os ensaios a minhamãe, que tem 80 anos, veio ver a peça.Estávamos a <strong>um</strong> mês da estreia. Eestávamos ainda a trabalhar a paisagemsonora, quando o microfone caiue ouvimos <strong>um</strong> baque, seguido <strong>de</strong> <strong>um</strong>“tic-tic”, e ela disse que se lembrava<strong>de</strong> sons <strong>de</strong> guerra que ouvia durantea noite. Isso fez-me olhar para aquelemomento <strong>de</strong> modo diferente. Eu chamo-lhe“o efeito Iraque”. Algo muitodistante no <strong>de</strong>serto on<strong>de</strong> há <strong>um</strong>aguerra a <strong>de</strong>correr. Era só <strong>um</strong> som <strong>de</strong>que eu gostava e agora tinha <strong>um</strong> significado.Isso foi <strong>um</strong>a surpresa.Mas a peça está cheia <strong>de</strong>zonas <strong>de</strong>ssas, on<strong>de</strong> é ainterpretação do espectadorque activa os sentidos domovimento.FRANS BROODEu gosto muito do modo como a peçacomeça, e os bailarinos também, masera a sequência que mais me assustava.Não tinha <strong>um</strong>a ligação com ela,era muito severo, não me pareciabem. Não sei o que a faz funcionar,mas há <strong>um</strong>a forma muito fria <strong>de</strong> seconstruir, que não cabe em nada doque fiz, nem se compromete com oprazer que se po<strong>de</strong> ter, ou dar, no início<strong>de</strong> <strong>um</strong>a peça.Porque instala <strong>um</strong>a ari<strong>de</strong>z e<strong>um</strong>a frieza no movimento queo vai obrigar a <strong>um</strong>a justificaçãopela acção ao invés <strong>de</strong> seguir<strong>um</strong> esquema formal <strong>de</strong>narrativida<strong>de</strong>?Sim, é <strong>um</strong> movimento muito frio o<strong>de</strong>sta peça. Isso, e o lado técnico,preocuparam-me. O que procureiconstruir foi <strong>um</strong>a paisagem feita apartir dos movimentos <strong>de</strong> cada intérprete,on<strong>de</strong> se produzissem encontros.Cada movimento tem a sua história,<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> quem o faz. Nãoé transmissível, mesmo que em certosmomentos [os bailarinos] possam estara fazer a mesma frase.Ou possam, em momentosmusicais distintos, uns maisclássicos, outros mais pop,reagir da mesma maneiraporque, afinal, são o mesmocorpo.Exactamente. Eu não mo<strong>de</strong>lo aquelescorpos. Dou-lhes liberda<strong>de</strong> para exploraremas i<strong>de</strong>ias, i<strong>de</strong>ias que nemsempre são precisas. Vendo-os vou<strong>de</strong>scobrindo mais e mais. É isso quegostava que acontecesse a quem vê apeça. Não sei se estamos sempre certosdo lugar que cada <strong>um</strong> vai ocupar.Há pessoas com as quais se po<strong>de</strong> irmuito longe e outras não. Alguns po<strong>de</strong>mdar mais que outros, porque têminspiração ilimitada, e outros têm <strong>um</strong>outro tempo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta e exploração.Como escolhe os bailarinos?É frequente as pessoas escreveremme,como aconteceu com RomeuRuna. Mas a maioria das pessoas nestapeça conheci-as através <strong>de</strong> audições,que também não são a melhorforma <strong>de</strong> conhecer pessoas.Mas não procura <strong>um</strong>a coisaespecífica?Têm que ser boas pessoas, simpáticase que não gostam <strong>de</strong> confronto. Têmque ser muito bonitas em palco, etêm que dançar, o que é raro <strong>de</strong> encontrar,especialmente em bailarinoscontemporâneos. As pessoas queremfalar sobre isso, não querem dançar.Eu gosto <strong>de</strong> <strong>um</strong>a certa timi<strong>de</strong>z, <strong>de</strong><strong>um</strong>a certa reserva. Isto combinadocom a alegria criada pelo movimentoé a comunicação perfeita. Já trabalheicom pessoas que gostavam <strong>de</strong> conflitose já não consigo. Há intérpretesque conseguem encontrar inspiraçãoem conflitos, isso não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> meimpressionar, mas entristece-me.Descobri que ser simpático é muitocompensador porque torna toda aatmosfera mais doce, calma e leve.Tenho bailarinos que são muito provocadores,mas <strong>um</strong>a coisa não contradiza outra, porque é feito comamor, porque querem levar toda agente para a frente, e não iniciar <strong>um</strong>abatalha.Desliga-se das peças que faz?Não, é muito difícil. É como lhe dizia:às vezes surpreendo-me com o quefiz. Pergunto-me como cheguei ali.Mas é verda<strong>de</strong> que não as acompanhoem todas as <strong>de</strong>slocações. E mesmoque possa ver alg<strong>um</strong>as coisas erradas,sei que os bailarinos são capazes <strong>de</strong>resolver o problema. Afinal, são elesque ali estão, mesmo quando é muitoaborrecido fazer <strong>um</strong>a peça cinquentaou cem vezes. Quando estou comeles, é muito divertido estarmos juntos.Espero que não pareça que osestou a controlar.MGMT1ª PARTE SMITH WESTERNS18 DEZ CAMPO PEQUENO23 MARÇOCOLISEU LISBOANESTE NATAL TODOS VÃO ACHARO SEU PRESENTE UM ESPECTÁCULOBILHETES: FNAC, WORTEN, CTT, EL CORTE INGLÉS, MEDIA MARKT, AGÊNCIA ABEP,SALAS DE ESPECTÁCULOS, TICKETLINE 707 234 234 | WWW.TICKETLINE.PT | M/6Ípsilon • Sexta-feira 17 Dezembro 2010 • 11

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