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Há um novo Alain Platel à nossa espera - Fonoteca Municipal de ...

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Um cineasta inglês vaià Transilvânia rodar <strong>um</strong>ahistória <strong>de</strong> vingança <strong>de</strong>mulher influenciada por...Paradjanov e CharlesLaughton? Peter Stricklan<strong>de</strong>xplica que “Katalin Varga”é, no melhor sentido dapalavra, <strong>um</strong> filme amador.Jorge MourinhaO elogiodo amadorPeterStrickland,realizadorFaz agora dois anos, “Katalin Varga”era <strong>um</strong> ovni que não surgia em nenh<strong>um</strong>radar cinéfilo ou cinematográfico:<strong>um</strong>a primeira longa rodada naTransilvânia por <strong>um</strong> realizador inglêsestreante e financiada por <strong>um</strong>a herança<strong>de</strong> família, que <strong>de</strong>pois ficoudois anos e meio à <strong>espera</strong> que alguéminvestisse o dinheiro necessário paraa pós-produção.Depois, houve a selecção para acompetição do festival <strong>de</strong> Berlim 2009– e, diz Strickland ao telefone ao Ípsilon,“foi muito estranho. Andámostanto tempo a ser ignorados e <strong>de</strong>poisaterramos em Berlim e recebemos<strong>um</strong>a avalanche <strong>de</strong> atenção...”“Katalin Varga” saiu <strong>de</strong> Berlim como prémio <strong>de</strong> melhor contribuição artística(entregue ao <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> som <strong>de</strong>Gabor Er<strong>de</strong>lyi e Tamas Székely), e oestatuto <strong>de</strong> surpresa do festival e aaclamação da crítica colocaram o filme,que estreia esta semana a Portugal,no mapa. Nick James, editor darevista inglesa “Sight & Sound”, escreveua seu respeito que “Stricklandtem o potencial <strong>de</strong> se tornar n<strong>um</strong> dosnossos melhores cineastas”.Strickland, 37 anos, natural <strong>de</strong> Rea-ding, autor <strong>de</strong> alg<strong>um</strong>as curtasmetragense ex-membro dogrupo musical Sonic Cate-ring Band, reconhece queexiste <strong>um</strong> <strong>novo</strong> floresci-mento do cinema inglês– mas do qual não se sentepróximo. “Sobretudo nosúltimos dois anos, tem ha-vido gente que fez coisaspessoais – Gi<strong>de</strong>on Ko-ppel, o casal Joe Lawlor/Christine Molloy, SteveMcQueen... E se pensarmoscomo o cinemainglês era horrível nosanos 1990, com o GuyRitchie e toda essagente, agora pareceter regressado <strong>um</strong>cinema mais pessoal– com a tecno-logia a ficar mais acessível, existe <strong>um</strong>apossibilida<strong>de</strong> muito séria das pessoaspo<strong>de</strong>rem propor projectos mais pessoaise conseguir financiá-los. Ditoisto, não sinto especial parentesco comos outros – gosto <strong>de</strong> ver o que eles fazem,mas nunca me senti parte <strong>de</strong> nenh<strong>um</strong>grupo, nunca fui para os coposcom outros realizadores...”“Uso a palavraamador tambémpor raiva, por causado snobismo queexiste na indústriaà volta da palavra‘profissional’, quesempre me transmitiu<strong>um</strong>a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> frieza...Por isso, que se lixem,somos amadores”Que se lixem...A verda<strong>de</strong> é que Strickland está “àparte” dos seus compatriotas. Por <strong>um</strong>lado, “Katalin Varga”, história da vingança<strong>de</strong> <strong>um</strong>a mulher que se revoltacontra o seu lugar n<strong>um</strong>a Transilvâniarural e patriarcal, não teve financiamentoinglês. “Quase o tive, mas assimque ouviram que o filme ia serfalado em húngaro ficaram chocados,disseram que tinha <strong>de</strong> ser falado eminglês – e isso nunca me tinha passadopela cabeça. Isto não é futebol,isto é cinema – <strong>um</strong> filme não tem <strong>de</strong>ter forçosamente <strong>um</strong>a nacionalida<strong>de</strong>,e do modo como o mundo está hojeem dia, tão fluido, o filme não tem <strong>de</strong>ser húngaro ou romeno ou inglês. Ofilme é o que é.”Por outro, as influências ass<strong>um</strong>idasnão vêm em nada do cinema inglês– Strickland fala entusiasmado do georgianoSerguei Paradjanov e sobretudo<strong>de</strong> “Sombras dos AntepassadosEsquecidos” (1964), pela sua capacida<strong>de</strong><strong>de</strong> sintetizar e amalgamar tradiçõesfolclóricas n<strong>um</strong> todo visionário,mas cita também “A Sombra do Caçador”(1955), o único filme dirigidopor Charles Laughton.“Uma das coisas <strong>de</strong> que mais gostono Quentin Tarantino é o entusiasmoque ele tem por nomes que cost<strong>um</strong>amestar nas margens da história do cinema.Adoro que os cineastas façamquestão <strong>de</strong> citar as suas influências– não tenho nada contra o Scorsese,mas há mais cineastas para lá <strong>de</strong>le!Há tantas i<strong>de</strong>ias a flutuar no cinemaque nunca são aproveitadas... Porexemplo, no cinema experimental,os filmes do Stan Brakhage ou do JordanBelson são impenetráveis, mastêm i<strong>de</strong>ias espantosas que ainda nãoforam usadas no cinema ‘mainstream’.Se olharmos para os Sonic Youth,eles pegaram em i<strong>de</strong>ias da vanguardamusical e usaram-nas na música rock– porque não po<strong>de</strong>mos nós pegar emelementos do cinema marginal e usálosno ‘mainstream’?”Seja como for, há algo que Stricklandreivindica: o seu amadorismo.Os 17 dias <strong>de</strong> rodagem <strong>de</strong> “Katalin Varga”(“<strong>um</strong> momento mágico, a melhormemória do filme”) foram suportadospor <strong>um</strong>a herança <strong>de</strong> família e peloemprego diurno do realizador, e amontagem prolongou-se por doisanos e meio, à medida que o dinheiroaparecia e <strong>de</strong>saparecia. “Temos todosoutros empregos, mas é isto que nosalimenta, que nos faz querer sair dacama <strong>de</strong> manhã. Uso a palavra amadortambém por raiva, por causa dosnobismo que existe na indústria àvolta da palavra ‘profissional’, quesempre me transmitiu <strong>um</strong>a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong>frieza... Por isso, que se lixem, somosamadores. Um amador faz as coisaspor amor, e por isso uso essa palavraquase como <strong>um</strong>a medalha. Mas nãoconsigo dar <strong>um</strong> passo atrás, olhar para‘Katalin Varga’ e dizer por que éque o filme resulta. Quem sabe?”Ver crítica <strong>de</strong> filme págs.41 e segs.Os 17 dias <strong>de</strong>rodagem <strong>de</strong>“KatalinVarga” foramsuportadospor <strong>um</strong>aherança <strong>de</strong>família e peloempregodiurno dorealizador32 • Sexta-feira 17 Dezembro 2010 • Ípsilon

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