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edição de 13 de março de 2017

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Divulgação<br />

James Scavone é CCO da<br />

Salve Tribal Worldwi<strong>de</strong><br />

LeoPatrizi/iStock<br />

JAMES SCAVONE<br />

Especial para o PROPMARK<br />

coisa que mais me inspira é andar pela cida<strong>de</strong>.<br />

A Andar e ler. Fazer os dois ao mesmo tempo costuma<br />

ser complicado. É a fusão que vou tentar por<br />

aqui. Tenho sido leitor compulsivo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Tintim,<br />

Asterix e Tio Patinhas. Que na adolescência se seguiram<br />

a Stevenson e Julio Verne. A Kafka, Calvino,<br />

Garcia Marques e Borges. Li tudo <strong>de</strong>les e aí queria<br />

escrever contos fantásticos e me transformar em<br />

barata (cheguei a escrever um esboço <strong>de</strong> personagem<br />

que se transforma em empregada doméstica e<br />

acorda no quarto dos fundos <strong>de</strong> um apartamento<br />

em Moema). Li tudo <strong>de</strong> Paul Auster e Orwell; Philip<br />

Roth e Camus; e Kurt Vonnegut. Queria ser como<br />

eles. Queria o humor, o pós-mo<strong>de</strong>rnismo, o sarcasmo,<br />

a distopia, queria escrever sobre o bombar<strong>de</strong>io<br />

<strong>de</strong> Dres<strong>de</strong>n, sobre a morte da minha mãe (sem matá-la,<br />

sem matá-la), queria ser um existencialista.<br />

Tive a fase dos mo<strong>de</strong>rnos ingleses: Amis, Barnes<br />

e McEwan. Não-ficção foi o próximo passo. Comecei<br />

com Christopher Hitchens, o quase-inglês Bill<br />

Bryson e o superinglês Geoff Dyer (recomendo<br />

muito). Cronistas <strong>de</strong> escrita fácil e apurada (le mot<br />

juste) me levaram a outros escritores <strong>de</strong> não-ficção,<br />

quase sempre relacionados ao ato <strong>de</strong> andar pela cida<strong>de</strong>.<br />

Comecei a absorver os clássicos <strong>de</strong> urbanismo<br />

e não tem mais clássico que Morte e Vida das Gran<strong>de</strong>s<br />

Cida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> Jane Jacobs. Nos anos 1960, Jacobs<br />

comprou briga com Robert Moses, o capitalista que<br />

queria uma via expressa elevada atravessando Greenwich<br />

Village. Em termos locais, é como se uma<br />

dona <strong>de</strong> casa, mãe <strong>de</strong> dois filhos pequenos, tivesse<br />

disputado (e ganhado) com um jovem Paulo Maluf<br />

dos anos 1970, o aparecimento do Elevado Costa e<br />

Silva, sobre a Avenida São João.<br />

A gran<strong>de</strong> estrela do urbanismo <strong>de</strong>fendido por Jane<br />

Jacobs é a calçada, é o palco do balé, um ato que começa<br />

com entregadores <strong>de</strong> jornal e <strong>de</strong> pão, que saem<br />

<strong>de</strong> cena e dão lugar aos trabalhadores, que <strong>de</strong>ixam<br />

suas casas e caminham até o ponto <strong>de</strong> ônibus até<br />

que crianças <strong>de</strong> mochilas nas costas saem em direção<br />

da escola com cara <strong>de</strong> sono. Velhos, mendigos,<br />

motoboys, entregadores <strong>de</strong> flores, açougueiros e<br />

instaladores <strong>de</strong> TV a cabo completam a coreografia.<br />

Andar e ler. Essa dupla me fez amar o urbanismo,<br />

as teorias sobre o surgimento das cida<strong>de</strong>s e o que<br />

as torna lugares tão inspiradores, <strong>de</strong> uma energia<br />

tremenda. Tentar enten<strong>de</strong>r essa monstruosida<strong>de</strong><br />

urbana me inspira a andar por todos os cantos em<br />

busca <strong>de</strong> encantos e <strong>de</strong> soluções para lugares sem<br />

encanto algum. Digo monstruosida<strong>de</strong> porque sou<br />

filho <strong>de</strong> São Paulo e admiro todos os seus tentáculos<br />

e por mais que an<strong>de</strong>, an<strong>de</strong> e an<strong>de</strong>, e nunca encontre<br />

Ipanema (como diria Vinicius <strong>de</strong> Morais), continuo<br />

andando e pensando. Tenho certeza <strong>de</strong> que o<br />

paulistano bípe<strong>de</strong> é mais feliz que o paulistano <strong>de</strong><br />

quatro rodas.<br />

A falta <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> arquitetônica estimula o cérebro<br />

a encontrar padrões. Cida<strong>de</strong>-caos. Os prédios<br />

fora do prumo são como uma escrivaninha <strong>de</strong>sorganizada<br />

cheia <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias rabiscadas, umas melhores<br />

que as outras. “The chaos in your soul will give<br />

birth to a dancing star”. Recomendo Walkable City,<br />

<strong>de</strong> Jeff Speck, e This is Where You Belong, da Melody<br />

Warnick, e Street Fight, <strong>de</strong> Janette Sadik-Khan.<br />

Warnick me introduziu ao placemaking, o conceito<br />

<strong>de</strong> transformar a cida<strong>de</strong> em produto consumível<br />

e assim atrair famílias, profissionais <strong>de</strong> ponta, novos<br />

negócios e empreendimentos turísticos. Outro<br />

clássico é o do iluminado Rem Koolhaas: Delirious<br />

New York. E caso este texto se torne a faísca que<br />

originou o incêndio, recomendo entrar no Coursera<br />

e escolher algum curso sobre o tema. Tenho me<br />

divertido (<strong>de</strong> graça) com Cities are back in Town,<br />

do professor Patrick Le Galès, da Sorbonne. É isso.<br />

Vou andando.<br />

Divulgação<br />

wsfurlan/iStock<br />

Divulgação<br />

Divulgação<br />

Andanças com muitas histórias<br />

Pessoas caminham em faixa <strong>de</strong> pe<strong>de</strong>stres num cruzamento<br />

<strong>de</strong> Toronto, no Canadá, na página ao lado; e em rua <strong>de</strong> Paris<br />

e no centro <strong>de</strong> São Paulo, nas fotos <strong>de</strong>sta página. Capas dos<br />

livros <strong>de</strong> Janette Sakik-Khan e <strong>de</strong> Rem Koolhaas. Acima uma<br />

imagem aérea da Gran<strong>de</strong> São Paulo à noite. James Scavone<br />

escreve: “Andar e ler. Essa dupla me fez amar o urbanismo,<br />

as teorias sobre o surgimento das cida<strong>de</strong>s e o que as tornam<br />

lugares tão inspiradores, <strong>de</strong> uma energia tremenda...”<br />

jornal propmark - <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>março</strong> <strong>de</strong> <strong>2017</strong> 23

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