inspiração Guia passo a passo para a criativida<strong>de</strong> CCO da Salve Tribal Worldwi<strong>de</strong> escreve sobre os seus hábitos <strong>de</strong> andar e ler. Conta sua compulsão, que começou com títulos como Tio Patinhas e Asterix, chegando a Albert Camus e Rem Koolhaas 22 <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>março</strong> <strong>de</strong> <strong>2017</strong> - jornal propmark
Divulgação James Scavone é CCO da Salve Tribal Worldwi<strong>de</strong> LeoPatrizi/iStock JAMES SCAVONE Especial para o PROPMARK coisa que mais me inspira é andar pela cida<strong>de</strong>. A Andar e ler. Fazer os dois ao mesmo tempo costuma ser complicado. É a fusão que vou tentar por aqui. Tenho sido leitor compulsivo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Tintim, Asterix e Tio Patinhas. Que na adolescência se seguiram a Stevenson e Julio Verne. A Kafka, Calvino, Garcia Marques e Borges. Li tudo <strong>de</strong>les e aí queria escrever contos fantásticos e me transformar em barata (cheguei a escrever um esboço <strong>de</strong> personagem que se transforma em empregada doméstica e acorda no quarto dos fundos <strong>de</strong> um apartamento em Moema). Li tudo <strong>de</strong> Paul Auster e Orwell; Philip Roth e Camus; e Kurt Vonnegut. Queria ser como eles. Queria o humor, o pós-mo<strong>de</strong>rnismo, o sarcasmo, a distopia, queria escrever sobre o bombar<strong>de</strong>io <strong>de</strong> Dres<strong>de</strong>n, sobre a morte da minha mãe (sem matá-la, sem matá-la), queria ser um existencialista. Tive a fase dos mo<strong>de</strong>rnos ingleses: Amis, Barnes e McEwan. Não-ficção foi o próximo passo. Comecei com Christopher Hitchens, o quase-inglês Bill Bryson e o superinglês Geoff Dyer (recomendo muito). Cronistas <strong>de</strong> escrita fácil e apurada (le mot juste) me levaram a outros escritores <strong>de</strong> não-ficção, quase sempre relacionados ao ato <strong>de</strong> andar pela cida<strong>de</strong>. Comecei a absorver os clássicos <strong>de</strong> urbanismo e não tem mais clássico que Morte e Vida das Gran<strong>de</strong>s Cida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> Jane Jacobs. Nos anos 1960, Jacobs comprou briga com Robert Moses, o capitalista que queria uma via expressa elevada atravessando Greenwich Village. Em termos locais, é como se uma dona <strong>de</strong> casa, mãe <strong>de</strong> dois filhos pequenos, tivesse disputado (e ganhado) com um jovem Paulo Maluf dos anos 1970, o aparecimento do Elevado Costa e Silva, sobre a Avenida São João. A gran<strong>de</strong> estrela do urbanismo <strong>de</strong>fendido por Jane Jacobs é a calçada, é o palco do balé, um ato que começa com entregadores <strong>de</strong> jornal e <strong>de</strong> pão, que saem <strong>de</strong> cena e dão lugar aos trabalhadores, que <strong>de</strong>ixam suas casas e caminham até o ponto <strong>de</strong> ônibus até que crianças <strong>de</strong> mochilas nas costas saem em direção da escola com cara <strong>de</strong> sono. Velhos, mendigos, motoboys, entregadores <strong>de</strong> flores, açougueiros e instaladores <strong>de</strong> TV a cabo completam a coreografia. Andar e ler. Essa dupla me fez amar o urbanismo, as teorias sobre o surgimento das cida<strong>de</strong>s e o que as torna lugares tão inspiradores, <strong>de</strong> uma energia tremenda. Tentar enten<strong>de</strong>r essa monstruosida<strong>de</strong> urbana me inspira a andar por todos os cantos em busca <strong>de</strong> encantos e <strong>de</strong> soluções para lugares sem encanto algum. Digo monstruosida<strong>de</strong> porque sou filho <strong>de</strong> São Paulo e admiro todos os seus tentáculos e por mais que an<strong>de</strong>, an<strong>de</strong> e an<strong>de</strong>, e nunca encontre Ipanema (como diria Vinicius <strong>de</strong> Morais), continuo andando e pensando. Tenho certeza <strong>de</strong> que o paulistano bípe<strong>de</strong> é mais feliz que o paulistano <strong>de</strong> quatro rodas. A falta <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> arquitetônica estimula o cérebro a encontrar padrões. Cida<strong>de</strong>-caos. Os prédios fora do prumo são como uma escrivaninha <strong>de</strong>sorganizada cheia <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias rabiscadas, umas melhores que as outras. “The chaos in your soul will give birth to a dancing star”. Recomendo Walkable City, <strong>de</strong> Jeff Speck, e This is Where You Belong, da Melody Warnick, e Street Fight, <strong>de</strong> Janette Sadik-Khan. Warnick me introduziu ao placemaking, o conceito <strong>de</strong> transformar a cida<strong>de</strong> em produto consumível e assim atrair famílias, profissionais <strong>de</strong> ponta, novos negócios e empreendimentos turísticos. Outro clássico é o do iluminado Rem Koolhaas: Delirious New York. E caso este texto se torne a faísca que originou o incêndio, recomendo entrar no Coursera e escolher algum curso sobre o tema. Tenho me divertido (<strong>de</strong> graça) com Cities are back in Town, do professor Patrick Le Galès, da Sorbonne. É isso. Vou andando. Divulgação wsfurlan/iStock Divulgação Divulgação Andanças com muitas histórias Pessoas caminham em faixa <strong>de</strong> pe<strong>de</strong>stres num cruzamento <strong>de</strong> Toronto, no Canadá, na página ao lado; e em rua <strong>de</strong> Paris e no centro <strong>de</strong> São Paulo, nas fotos <strong>de</strong>sta página. Capas dos livros <strong>de</strong> Janette Sakik-Khan e <strong>de</strong> Rem Koolhaas. Acima uma imagem aérea da Gran<strong>de</strong> São Paulo à noite. James Scavone escreve: “Andar e ler. Essa dupla me fez amar o urbanismo, as teorias sobre o surgimento das cida<strong>de</strong>s e o que as tornam lugares tão inspiradores, <strong>de</strong> uma energia tremenda...” jornal propmark - <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>março</strong> <strong>de</strong> <strong>2017</strong> 23