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O rastro especulatório que se<br />
segue a uma crise é alerta que<br />
Sérgio Tikhomiroff, diretor da<br />
área <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> da Mixer,<br />
faz. “Com queda na <strong>de</strong>manda e<br />
na verba publicitária, e inflação<br />
em alta, o resultado é uma dificulda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> repasse para orçamentos.<br />
Impostos aumentam,<br />
os custos trabalhistas também,<br />
a mão <strong>de</strong> obra especializada aumenta<br />
acima da inflação e equipamentos<br />
e upgra<strong>de</strong>s/updates<br />
são em dólar, com toda a oscilação<br />
que tem acompanhado sua<br />
cotação”, afirma Tikhomiroff.<br />
A competitivida<strong>de</strong> setorial<br />
é um dos motivos que Pedro<br />
Bueno, produtor-executivo da<br />
Shinjitsu Filmes, observa. A solução<br />
é o ajuste do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />
negócios com equipes enxutas<br />
e multidisciplinares. “Temos<br />
visto uma crescente <strong>de</strong>manda<br />
por produções menos elaboradas<br />
e mais baratas. Com a falta<br />
<strong>de</strong> dinheiro geral, a mídia offline<br />
ainda continua muito cara,<br />
se comparada com o digital.<br />
Esta projeção ajudou a consolidar<br />
um cenário em que muitos<br />
clientes migraram suas verbas<br />
e campanhas para o online. Porém,<br />
por ser uma mídia mais<br />
barata, muitos clientes querem<br />
pagar menos pelas produções<br />
feitas para o online, pois acreditam<br />
que essa equação é diretamente<br />
proporcional à produção<br />
audiovisual, ledo engano. Quase<br />
toda a infraestrutura, recursos,<br />
equipamentos, processos,<br />
mão <strong>de</strong> obra e outros <strong>de</strong>talhes<br />
são os mesmos que usamos nas<br />
produções para TV, o que muda<br />
é a plataforma <strong>de</strong> veiculação”.<br />
Drasticamente é a palavra<br />
que Mayara Auad, da Yourmama<br />
Films, usa para respon<strong>de</strong>r<br />
à questão sobre custos <strong>de</strong> produção.<br />
“A crise trouxe uma necessida<strong>de</strong><br />
dos clientes reverem<br />
suas verbas <strong>de</strong> marketing, o que<br />
gerou diminuição drástica nas<br />
verbas <strong>de</strong> produção. Além disso,<br />
os clientes têm buscado produtoras<br />
diretamente em busca<br />
<strong>de</strong> preços menores, prática que<br />
<strong>de</strong>svaloriza o trabalho do setor,<br />
pois estamos falando <strong>de</strong> visões<br />
e talentos únicos, quando o valor<br />
se diferencia por um serviço<br />
artístico com níveis <strong>de</strong> entregas<br />
diferentes e não simplesmente<br />
pelo preço mais baixo”.<br />
Para Renato Assad, fundador<br />
e diretor <strong>de</strong> cena da Si<strong>de</strong><br />
Cinema, o preço médio caiu e<br />
credita essa tendência à pulverização<br />
omnichannel. E não<br />
Schmidt: “produtoras estão entregando trabalhos com qualida<strong>de</strong> muito superior aos recursos contratados”<br />
“vivemos um<br />
verda<strong>de</strong>iro<br />
paradoxo e talvez,<br />
<strong>de</strong>vido a inúmeros<br />
fatores, esteja<br />
havendo Confusão<br />
e difiCulda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
diagnostiCar o<br />
Cenário atual”<br />
tem volta. “A lucrativida<strong>de</strong> caiu<br />
muito e me parece uma tendência<br />
sem volta. Vamos ter <strong>de</strong><br />
achar soluções para isso, mas os<br />
clientes vão precisar enten<strong>de</strong>r<br />
também que, se querem filmes<br />
com qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realização,<br />
vão ter <strong>de</strong> pagar pra isso. Caso<br />
contrário, o nível <strong>de</strong> produção<br />
será cada dia pior”.<br />
riscOs<br />
Pelo cálculo <strong>de</strong> Alex Mehedff,<br />
sócio da Hungry Man, nos<br />
últimos dois anos a queda chega<br />
35%, mas com os insumos<br />
crescendo entre 20% e 30%.<br />
“As produtoras que têm estrutura<br />
gran<strong>de</strong> correm gran<strong>de</strong>s<br />
riscos. O mercado já não comporta<br />
produtoras <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 50<br />
funcionários há muitos anos.<br />
Quem tem e administra uma<br />
produtora <strong>de</strong>ste porte acaba<br />
fazendo ‘dumping’ <strong>de</strong> preço <strong>de</strong><br />
um filme publicitário ou pacote<br />
<strong>de</strong> dois ou três filmes no mercado<br />
para sustentar por quase<br />
nenhum lucro seu negócio. E<br />
isso coloca em risco toda ca<strong>de</strong>ia<br />
produtiva, já que, na maioria<br />
das vezes, acabam entregando<br />
filmes aquém do possível<br />
resultado ou da expectativa<br />
que a agência/cliente tem. Essas<br />
empresas precisam ser responsáveis,<br />
<strong>de</strong> forma geral, por<br />
si próprias, com o mercado <strong>de</strong><br />
produção, com seus clientes,<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente se têm<br />
sócios ‘do mercado financeiro’<br />
que somente cobram resultados<br />
em ‘balance sheet’. É duro<br />
dizer isso, mas é o que estamos<br />
observando ocorrer com as<br />
gran<strong>de</strong>s produtoras do mercado<br />
brasileiro recentemente”.<br />
Especializada em bran<strong>de</strong>d<br />
content, a Oficina, <strong>de</strong> Nelson<br />
Enohata, já convive com os orçamentos<br />
mais reduzidos. Ele<br />
lembra que as mesas <strong>de</strong> compra<br />
objetivam o menor custo.<br />
“As taxas das produtoras estão<br />
se tornando um seguro <strong>de</strong> trabalho”,<br />
diz ele sobre prazos<br />
longos e inadimplência. Porém,<br />
sobre as novas formas <strong>de</strong> produção,<br />
faz uma ressalva. “Existe<br />
uma falsa i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que muita<br />
coisa po<strong>de</strong> ser gravada por um<br />
celular. Mas a questão não é<br />
apenas o suporte <strong>de</strong> gravação<br />
em si (celular, HD, 4K, Red,<br />
etc), mas também a produção<br />
que está por trás. Não é porque<br />
o suporte é amador que toda a<br />
produção será amadora”.<br />
A crise e a diminuição da importância<br />
do comercial <strong>de</strong> 30<br />
segundos para os anunciantes<br />
são os atores <strong>de</strong>sse cenário no<br />
mercado brasileiro, na opinião<br />
<strong>de</strong> Eduardo Tibiriçá, CEO da<br />
Bossa Nova Group. “Apesar da<br />
pressão por parte dos anunciantes<br />
para redução dos custos,<br />
os insumos do mercado<br />
brasileiro continuam altos. Por<br />
isso, os valores das produções<br />
não foram alterados, refletindo,<br />
na verda<strong>de</strong>, na diminuição das<br />
margens das produtoras. Para<br />
agravar o cenário, as produtoras<br />
precisam ter fluxo <strong>de</strong> caixa<br />
para arcar com os custos das<br />
produções, já que os prazos <strong>de</strong><br />
pagamentos dos anunciantes<br />
estão dada vez maiores”.<br />
Antonio Carlos Accioly, produtor-executivo<br />
da Movie &<br />
Art, argumenta que uma produtora<br />
<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte é chamada<br />
para uma concorrência <strong>de</strong><br />
um job e na maioria das vezes<br />
“compete com produtoras que<br />
não têm estrutura”.<br />
30 <strong>28</strong> <strong>de</strong> <strong>novembro</strong> <strong>de</strong> <strong>2016</strong> - jornal propmark