edição de 19 de dezembro de 2016
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mkt<br />
MF Ilustra<br />
É impossível ser<br />
feliz nas torres<br />
“Às vezes ouço passar o vento; e só <strong>de</strong><br />
ouvir o vento passar vale a pena ter nascido”.<br />
Fernando Pessoa<br />
Francisco alberto Madia <strong>de</strong> souza<br />
Está com dificulda<strong>de</strong> para pegar no sono.<br />
Carneirinhos... Esqueça! Recomendo<br />
holocracia e metrópoles verticais. Vez por<br />
outra manifestações <strong>de</strong> excentricida<strong>de</strong>s e<br />
<strong>de</strong>spropósitos. E a imprensa, por sobra <strong>de</strong><br />
espaço ou falta <strong>de</strong> juízo, acaba embarcando<br />
e engrossando o festival <strong>de</strong> estultices.<br />
O caminho pela frente está <strong>de</strong>finido, claro,<br />
quase pavimentado. É horizontal, compartilhado,<br />
colaborativo. Num Admirável<br />
Mundo Novo – <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> e não o The Brave<br />
New World, <strong>de</strong> Huxley – plano e líquido, <strong>de</strong><br />
custo marginal zero ou próximo <strong>de</strong>.<br />
Tony Hsieh construiu um sonho. A Zappos.<br />
Colaboradores e clientes apaixonados.<br />
O primeiro comércio eletrônico que provou<br />
ser possível trabalhar com o aditivo <strong>de</strong> serviços<br />
<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, transcen<strong>de</strong>ndo amor<br />
entre o time interno e na relação com os<br />
clientes, e em que o resultado final traduzia-se<br />
em lucro e felicida<strong>de</strong>. E aí Tony e a<br />
Zappos foram comprados pela Amazon.<br />
Choque natural <strong>de</strong> cultura e Tony <strong>de</strong>ci<strong>de</strong><br />
seguir as tolices <strong>de</strong> Brian Robertson, apologista<br />
da holocracia – estruturar as empresas<br />
a partir das funções e não das pessoas. Em<br />
vez da pirâmi<strong>de</strong>, estrutura vertical, “fazer<br />
a empresa funcionar em círculos semi-in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />
englobando uns aos outros”.<br />
Preciso continuar? Começou a bocejar?<br />
E aí o festival prospera, ainda que e supostamente<br />
holística, “um círculo mais<br />
baixo está sempre ligado a um círculo superior...<br />
círculos voltados para a implementação<br />
<strong>de</strong> projetos específicos, outros <strong>de</strong> administração...<br />
cada um <strong>de</strong>les é livre para<br />
criar as próprias políticas e <strong>de</strong>cisões, mas<br />
<strong>de</strong>ve fazer o possível para cumprir as metas<br />
propostas pelo círculo superior...”. Socorro!<br />
Ninguém mais quer falar em holocracia<br />
na Zappos, dois anos <strong>de</strong>pois...<br />
Corta para o economista americano<br />
Edward Glaeser. Defensor intransigente e<br />
radical do vertical num mundo cada vez<br />
mais horizontal. Cida<strong>de</strong>s verticais! Diz e<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>: “Para progredir, uma cida<strong>de</strong> não<br />
po<strong>de</strong> ter restrições excessivas. Limitar alturas<br />
e construções tem um custo alto.<br />
Construir para cima é uma maneira eficaz<br />
<strong>de</strong> driblar a falta <strong>de</strong> espaço. As pessoas ficam<br />
mais próximas uma das outras, mais<br />
conectadas umas às outras: prédios mais<br />
altos e com mais capacida<strong>de</strong> são a melhor<br />
coisa para o meio ambiente”! Pela segunda<br />
vez, e agora urrando, socorro!<br />
Poucas vezes em minha vida vi cegueira<br />
tão radical e ignorância absoluta. Glaeser<br />
permanece com a velha e corrompida moldura<br />
em sua cabeça, e é um dos melhores<br />
exemplos <strong>de</strong> quem olha para o futuro através<br />
do retrovisor. Não <strong>de</strong> qualquer retrovisor.<br />
De um retrovisor sujo, trincado e solto.<br />
Em entrevista à Época, anos atrás, Glaeser<br />
escancarou sua insensibilida<strong>de</strong> e<br />
<strong>de</strong>ficiência visual irreversível. “Nos anos<br />
<strong>19</strong>80, muitos especialistas previam que<br />
as pessoas se retirariam das cida<strong>de</strong>s para<br />
morar nos subúrbios e as cida<strong>de</strong>s seriam<br />
apenas <strong>de</strong>positórios <strong>de</strong> escritórios. A tecnologia<br />
permitiu às pessoas estar conectadas<br />
online, mas elas também querem<br />
se encontrar fisicamente...”, e dá como<br />
exemplo o Vale do Silício: “Aquela região<br />
da Califórnia cresceu drasticamente não<br />
apenas porque empresas <strong>de</strong> tecnologia se<br />
concentram lá, mas porque os jovens que<br />
trabalham nessas empresas quiseram estar<br />
juntos, também, na mesma cida<strong>de</strong>...”.<br />
Mais conhecida pelos que por lá “viveram”<br />
e optaram pela felicida<strong>de</strong> como a<br />
ilha da fantasia...<br />
Mais que nunca as pessoas querem<br />
preservar e cultivar sua individualida<strong>de</strong>.<br />
Adoram encontrar outras pessoas na hora,<br />
lugar e dosagens certas. Reconhecem-<br />
-se mais próximas do que nunca através<br />
da tecnologia. Na medida em que não mais<br />
querem ter, apenas dispor, reduziram radicalmente<br />
a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espaços para<br />
objetos e coisas que jamais voltarão a ter. E<br />
sentem-se seguras morando e vivendo em<br />
comunida<strong>de</strong>s horizontais, no mínimo baixas,<br />
e convivendo com seus queridos vizinhos.<br />
Parafraseando Tom Jobim, em Wave,<br />
é impossível – absolutamente impossível –<br />
ser feliz nas torres...<br />
Francisco Alberto Madia <strong>de</strong> Souza<br />
é consultor <strong>de</strong> marketing<br />
famadia@madiamm.com.br<br />
jornal propmark - <strong>19</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> <strong>2016</strong> <strong>19</strong>