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edição de 12 de dezembro de 2016

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opinião<br />

Halfpoint/iStock<br />

o sucesso da<br />

verda<strong>de</strong> nua e crua<br />

Celso Forster<br />

Qual a razão do sucesso <strong>de</strong> tantos youtubers?<br />

Muitos falam bobagens, têm<br />

atitu<strong>de</strong>s inesperadas, são politicamente<br />

incorretos, gordinhos, magrelos, feios, vesgos<br />

e falam palavrões como se estivessem<br />

num estádio <strong>de</strong> futebol. Em geral, são a<br />

antítese dos galãs e das bond-girls. E, mesmo<br />

assim, fazem sucesso. Muito sucesso!<br />

Alguns com milhões <strong>de</strong> inscritos nos seus<br />

canais. Como po<strong>de</strong>?<br />

A resposta talvez esteja na sociologia.<br />

Cada vez mais pessoas, não só no Brasil,<br />

mas no mundo, estão <strong>de</strong>screntes das instituições.<br />

Começando pelos lí<strong>de</strong>res políticos<br />

– o que acabou por garantir a eleição <strong>de</strong><br />

não políticos como prefeitos <strong>de</strong> São Paulo e<br />

do Rio <strong>de</strong> Janeiro, além <strong>de</strong> Donald Trump<br />

como presi<strong>de</strong>nte dos Estados Unidos –, este<br />

<strong>de</strong>sencanto se esten<strong>de</strong> para<br />

as mais diversas instituições,<br />

como as religiosas, a polícia, a<br />

Justiça e aí vai. Tudo e todos<br />

são questionados, e as certezas<br />

<strong>de</strong> sempre já não são aceitas.<br />

“Em gEral, Os<br />

yOutubErs<br />

dE maiOr<br />

sucEssO sãO<br />

ExatamEntE<br />

Os mais<br />

autênticOs”<br />

Mas o que tem isso a ver<br />

com o sucesso dos youtubers?<br />

Tudo! Em meio a este cenário<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>scrença e incertezas, a<br />

autenticida<strong>de</strong> passa a ser cada<br />

vez mais valorizada. E, em geral,<br />

os youtubers <strong>de</strong> maior sucesso são exatamente<br />

os mais autênticos. São os que se<br />

apresentam como eles mesmos e não como<br />

personagens. Mostram suas qualida<strong>de</strong>s,<br />

mas também, e especialmente, seus <strong>de</strong>feitos.<br />

Não estão em cenários elaborados,<br />

mas na própria cozinha, quarto, sala e até<br />

mesmo no banheiro. São gente <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>,<br />

como seus seguidores. A pare<strong>de</strong> atrás po<strong>de</strong><br />

estar <strong>de</strong>scascada, a casa inacabada, mas<br />

isso não é problema, ao contrário. Isso confirma<br />

que são reais.<br />

Isso é o que as pessoas estão buscando.<br />

I<strong>de</strong>ntificação, autenticida<strong>de</strong> e atitu<strong>de</strong>.<br />

Conceitos que cada vez mais ultrapassam<br />

a barreira o digital e chegam à publicida<strong>de</strong><br />

tradicional. Que valem tanto para pessoas<br />

físicas quanto para marcas. Que estão<br />

criando uma nova estética e <strong>de</strong>mandando<br />

novas posturas. Os consumidores não acreditam<br />

mais no mundo perfeito. Muito menos<br />

que a protagonista da novela da Globo<br />

use uma marca <strong>de</strong> cosmético popular. Ou<br />

que o artista <strong>de</strong> Hollywood consuma produtos<br />

brasileiros. Ou que o jogador <strong>de</strong> futebol<br />

que atua no exterior e está entre os atletas<br />

mais bem pagos do planeta use cuecas<br />

nacionais. São ações que po<strong>de</strong>m funcionar<br />

para chamar a atenção para <strong>de</strong>terminada<br />

marca (algumas vezes até pelo absurdo),<br />

mas será que alguém realmente acredita<br />

nessas mensagens?<br />

A maioria dos youtubers, ao contrário,<br />

procura se manter no universo da realida<strong>de</strong>.<br />

Opta por mostrar sua verda<strong>de</strong>ira vida e<br />

só aceita fazer merchandising <strong>de</strong> produtos<br />

com os quais realmente se i<strong>de</strong>ntifica.<br />

Talvez por eles estarem,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>de</strong> suas “carreiras”,<br />

muito próximos <strong>de</strong> seu público, <strong>de</strong><br />

não terem um chefe e serem gestores<br />

das próprias trajetórias, sabem<br />

o valor que sua credibilida<strong>de</strong><br />

tem para manter e aumentar a sua<br />

base <strong>de</strong> fãs. Traia a sua confiança<br />

e, num passe <strong>de</strong> mágica, o engajamento<br />

se acaba.<br />

E, então, chegamos em nosso<br />

aparente paradoxo. Se, por um lado, muitas<br />

marcas querem não apenas falar com<br />

a audiência fiel dos youtubers, mas também<br />

se beneficiar com sua autenticida<strong>de</strong>,<br />

por outro, muitas vezes seu discurso e<br />

posicionamento tenta levar os influenciadores<br />

a uma posição falsa e antinatural. O<br />

que, normalmente, eles não aceitam – por<br />

melhor que seja a oferta comercial. Este<br />

é um cenário <strong>de</strong>safiador para algumas<br />

marcas, acostumadas a ter o controle total<br />

<strong>de</strong> sua imagem. Precisam aceitar a cocriação,<br />

a parceria, a releitura. Mas o benefício<br />

po<strong>de</strong> ir muito além da exposição<br />

pontual. Po<strong>de</strong> ser a ponte para construir<br />

uma relação <strong>de</strong> efetivo engajamento com<br />

o consumidor.<br />

Celso Forster é sócio e diretor <strong>de</strong> atendimento do<br />

BR Media Group<br />

celso.forster@br-mediagroup.com<br />

60 <strong>12</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> <strong>2016</strong> - jornal propmark

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