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Revista Curinga Edição 13

Revista Laboratorial do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

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Resistência e cultura<br />

O estudante Marcelo Vini, 20 anos, se orgulha muito<br />

de seu topete. Desde que começou a fazer mudanças<br />

em seu cabelo, sua auto-estima aumentou bastante. O<br />

estilo afro espetado pra frente chama bastante atenção<br />

das pessoas que passam na rua, o que não o incomoda.<br />

Ele acha graça inclusive, principalmente por sempre<br />

se empolgar muito com os penteados, se inspirando<br />

muitas vezes em cantores de sertanejo. “Sempre tive<br />

complexo de patinho feio, esse corte indiretamente<br />

me forçou a ser mais cuidadoso comigo mesmo. Me<br />

olho muito mais no espelho e fico feliz por isso, me<br />

sinto mais jovem e atual e mais livre por poder aparentar<br />

como quero”, vibra.<br />

Marcelo diz que é muito importante que cada um<br />

assuma a personalidade que tem desejo, principalmente<br />

os homens que ficam envergonhados. ”Infelizmente<br />

as pessoas ainda tem pensamento muito conservador.<br />

Elas precisam se acostumar e aceitar melhor<br />

com a diversidade, até porque isso não é sinônimo de<br />

bagunça nem desunião, podemos ser unidos sendo diferentes.”<br />

Segundo o comediante estadunidense Chris Rock,<br />

em seu documentário Good Hair (2009), existe uma<br />

convenção social de que quanto mais “relaxado” e<br />

amansado o cabelo, mais bonito ele é. Os cremes de<br />

alisamento possuem em sua base soda cáustica e amônia.<br />

A inserção destes produtos no mercado não traz<br />

a preocupação dos efeitos colaterais que estes podem<br />

trazer a saúde daqueles que fazem seu uso, o importante<br />

é criar no individuo a necessidade do consumo<br />

e gerar lucro.<br />

No Brasil, 52% das mulheres são auto declaradas<br />

negras. E ainda assim a supremacia do cabelo liso e<br />

da pele clara está fortemente enraizada na cultura do<br />

país. A pressão colocada sobre um estereótipo ainda<br />

repreende muitas dessas mulheres dependentes da<br />

química, movimentando por ano cerca de R$7 bilhões,<br />

de acordo pesquisa da revista Exame.<br />

Certamente essas cifras seriam menores se mais<br />

pessoas fossem autênticas, valorizando a genética<br />

e lutando contra o preconceito. Para o Movimento<br />

Afro, o cabelo crespo e sua naturalidade sobressaem<br />

aos padrões de beleza ocidentais para se afirmar como<br />

instrumento de resistência e cultura. Na busca de<br />

direitos, cabelo é identidade, forma de expressão e é<br />

também um símbolo de respeito.<br />

Me olho muito mais no espelho<br />

e fico feliz por isso, me sinto mais<br />

jovem, atual e mais livre por poder<br />

aparentar como quero<br />

Marcelo Vini<br />

CURINGA | EDIÇÃO <strong>13</strong><br />

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