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Revista Curinga Edição 13

Revista Laboratorial do Curso de Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto.

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Opinião<br />

Reflexões<br />

de um fiasco<br />

TEXTO:: DANILO MOREIRA<br />

ARTE:: ISRAEL MARINHO<br />

FOTO: N<br />

Texto: Danilo Moreira<br />

Foto: Aldo Damasceno<br />

Arte: Israel Marinho<br />

Ninguém acreditou. Sete a um. A maior derrota<br />

sofrida pela seleção brasileira em cem anos. Sete gols,<br />

sete pancadas. Aqui na nossa casa, nossa Copa, em pleno<br />

Brasil. Vencendo, o próximo passo seria o último, a finalíssima.<br />

Ficamos pelo caminho, desnorteados. Perdidos, como<br />

em 1950, quando o Uruguai foi campeão em um lotado Maracanã.<br />

Mas, dessa vez, foi pior. Mais do que uma simples<br />

vitória, a emblemática goleada da seleção da Alemanha registrou<br />

que há muito a refletir sobre o atual estado<br />

do futebol nacional. Muitos definiram como<br />

“tragédia” o que aconteceu no Mineirão,<br />

naquela tarde do dia oito de julho. Será<br />

mesmo?<br />

Primeiro, é preciso entender<br />

que o estilo de jogo praticado<br />

em solo brasileiro é ultrapassado.<br />

A mediocridade, em grande<br />

parcela, é culpa de técnicos que<br />

recusam a adaptarem-se às modernidades<br />

do esporte. O futebol<br />

da Seleção comandada até então<br />

por Luiz Felipe Scolari era rude, em<br />

que a correria e as jogadas aéreas prevaleciam.<br />

Seu sucessor, Dunga, segue a<br />

mesma linha pragmática. O craque Tostão,<br />

em sua coluna na Folha de S. Paulo, destacou<br />

que “desaprendemos a jogar coletivamente”. É verdade.<br />

Posse de bola e passes inteligentes, como os desenvolvidos<br />

pela Alemanha, estão distantes da realidade dos comandantes<br />

do futebol nacional.<br />

Se o pensamento tático está atrasado em relação ao<br />

padrão mundial, a técnica dos jogadores acaba sofrendo<br />

essa influência já nas as bases dos clubes. O talento fica<br />

em segundo plano, sobreposto à força física dos atletas. Habilidade<br />

e criatividade se perdem na formação dos jovens<br />

jogadores, o que torna-se um problema a longo prazo.Dessa<br />

forma, é difícil perceber brasileiros com características<br />

semelhantes aos espanhóis Iniesta e Xavi ou aos alemães<br />

Kroos e Schweinsteiger, por exemplo. Um meio-de-campo<br />

“aberto” e “escancarado” foi, na opinião do jornalista da<br />

ESPN, Paulo Vinicius Coelho, a principal causa da derrota<br />

na Copa do Mundo. Inegável.<br />

Outro aspecto relevante é que o ritmo das partidas no<br />

Brasil é diferente do restante do mundo e isso não nos ajuda<br />

nem um pouco. Os campeonatos estaduais fazem com<br />

que os clubes abdiquem de uma pré-temporada completa.<br />

Sem preparação ou descanso adequados, os atletas fazem<br />

séries de jogos – muitas vezes, em condições abaixo do razoável<br />

– para satisfazer os compromissos firmados pelos times<br />

com federações e emissoras de TV. Contrariando o modelo<br />

europeu (as ligas nacionais começam em agosto e terminam,<br />

no máximo, em maio), a exaustão passa a<br />

ser comum aos jogadores que, muitas vezes,<br />

jogam de janeiro a dezembro, sem pausas.<br />

Há que se registrar, também, que<br />

na última década, todo jogador que<br />

se destaca nacionalmente é negociado<br />

em breves intervalos de tempo<br />

com grandes times europeus ou<br />

com ricos clubes asiáticos. O lucro,<br />

portanto, supera o desejo de constituir<br />

equipes competitivas. As ligas<br />

são enfraquecidas e o nível técnico<br />

apresenta-se cada vez menor. Clubes<br />

chegam a arriscar títulos ou rebaixamentos<br />

vendendo seus principais valores.<br />

Existe ainda uma significativa parcela de jogadores<br />

muito jovens que são comprados pelas<br />

potências estrangeiras sem sequer serem titulares nos times<br />

de ponta no Brasil. A mentalidade tacanha permeia o<br />

futebol nacional.<br />

Entretanto, nem tudo está perdido. Iniciativas pontuais,<br />

como o Bom Senso FC, podem ser uma das soluções<br />

para nosso futebol. O movimento defende a viabilidade aos<br />

direitos dos jogadores no Brasil. É um começo. O processo<br />

de mudanças deverá ser lento. Assim como tem sido nos<br />

últimos quinze anos, a Seleção precisará contar com boas<br />

atuações dos (poucos) talentos individuais que temos. Reside<br />

em Neymar, principalmente, a esperança dos brasileiros<br />

que esperam um futuro recente mais próspero, futebolisticamente<br />

falando. A reflexão, de toda forma, é essencial<br />

para que nunca mais tenhamos que ouvir sete gritos de gols<br />

adversários de uma só vez.

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