Identidade O xadrez das últimas eleições presidenciais polarizou discursos de ideologias extremadas, distintas pelo conhecido viés da luta Direita vs. Esquerda. No imaginário eleitoral, a separação pareceu resolvida. No tabuleiro da política, porém, nem tudo é o que parece... Opostos em
A palavra “política”, derivada do grego politikós, diz respeito àquilo que é da cidade, da pólis (na Grécia Antiga) e da sociedade. Desde Aristóteles é vista como uma prática enraizada, de interesse humano enquanto cidadão. “Todo homem é um ser político por natureza”, afirmou o filósofo grego em sua mais célebre obra, “A Política”. Ao longo do tempo, o termo assumiu outras conotações, como o modo de “saber lidar” com as coisas da sociedade. Assim, a política se manifesta não só pelas ações do governo e de administração do Estado, mas também pela forma como a sociedade civil se relaciona com esse mesmo Estado. Para o filósofo político italiano Norberto Bobbio a política pensada como prática humana está ligada ao conceito de poder, à ideia de posse para obtenção de vantagem de um homem ou grupo sobre o outro. “O poder político, enfim, funda-se sobre a posse dos instrumentos através dos quais se exerce a força física (armas de todo tipo e grau): é o poder coativo no sentido mais estrito da palavra”. Em consonância a isso, a divisão radical dos partidos políticos e seus candidatos entre os extremos Direita e Esquerda, podem ser, a princípio, entendidas a partir da definição clássica da Revolução Francesa, no fim do século XVIII. Texto: Daniella Andrade e Danilo Moreira Foto: Aldo Damasceno Arte: Ana Elisa Siqueira Droit X gauche Poucas pessoas sabem identificar por qual razão esses termos de orientação possuem a função de descrever uma perspectiva ou ideologia ligada a um partido ou político. Em 1789, a população francesa era considerada a maior do mundo, se dividia em três estados (1º clero, 2º nobreza e 3º povo) e sofria grande crise econômica. Com a organização da Assembleia dos Estados Gerais, a Assembleia Nacional Constituinte ganhou força política e representatividade, formada pelo 3º estado. Durante as reuniões, as tendências políticas na Assembleia Nacional se distribuíam fisicamente. À direita (droit), se colocavam os integrantes do funcionalismo real – nobres, proprietários de terra, burgueses enriquecidos e alguns clérigos - identificados como Gironda e à esquerda (gauche) os representantes do povo – membros da pequena e média burguesia, Jacobinos, que buscavam reforma para findar a grave crise que se estendia. Com o tempo, a disseminação dos atos e ideias, que provocaram a Revolução, foi determinante para a adoção dos termos de Direita e Esquerda política sob a perspectiva da Assembleia Nacional. De acordo com o historiador Murilo Cisalpino, “havia outra identificação física, ou geográfica, dentro da assembleia: ‘A Montanha’, para os jacobinos que se sentavam no alto e à esquerda e ‘A Planície’, para o grupo de deputados independentes, que costumavam se reunir na parte mais baixa da assembleia”. xeque CURINGA | EDIÇÃO <strong>13</strong> 33