18.08.2018 Views

edição de 20 de agosto de 2018

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

AgênciAs<br />

“A propaganda não<br />

rompeu com velhos<br />

clichês femininos”<br />

Monica Moro, diretora <strong>de</strong> criação da<br />

McCann Espanha, em Madri, é a única<br />

li<strong>de</strong>rança feminina na criação <strong>de</strong> uma<br />

agência <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> naquele país e<br />

uma das poucas na Europa. Para ela, a indústria<br />

da publicida<strong>de</strong> está longe <strong>de</strong> ser o que <strong>de</strong>veria e <strong>de</strong><br />

muitas indústrias nas quais hoje muitas mulheres<br />

ocupam cargos <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança. No entanto, ela<br />

acredita que as coisas estão mudando. “É claro que<br />

não se fazem barbarida<strong>de</strong>s como há <strong>20</strong> anos, mas<br />

ainda há exemplos que objetificam as mulheres<br />

ou fazem clichês sobre o homem”, disse Monica.<br />

Confira a sua entrevista a seguir.<br />

Monica Moro é a única li<strong>de</strong>rança feminina na criação <strong>de</strong> uma agência na Espanha<br />

Divulgação<br />

Claudia Penteado<br />

EmpodErAmEnto<br />

Empo<strong>de</strong>ramento é uma palavra<br />

que se fala o tempo todo<br />

e adoraria que <strong>de</strong>ixássemos <strong>de</strong><br />

ouvi-la. Pois isso significaria que<br />

as mulheres já alcançaram esse<br />

po<strong>de</strong>r que merecem. No entanto,<br />

ainda há muito a ser feito. Não se<br />

trata <strong>de</strong> fazê-lo sozinhas, precisamos<br />

dos homens como aliados<br />

em alguns casos. Em algumas<br />

indústrias mais conservadoras<br />

continua sendo difícil ver as mulheres<br />

chegarem aos postos mais<br />

altos. Mas não é isso que mais me<br />

preocupa, estou preocupada com<br />

a falta <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra, o assédio,<br />

a violência contra as mulheres, a<br />

pressão pela beleza e a construção<br />

<strong>de</strong> estereótipos.<br />

FEminismo<br />

Sim, sou feminista. Ser feminista<br />

é acreditar na igualda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> direitos entre homens e<br />

mulheres. Quem não é feminista<br />

não enten<strong>de</strong>u o que ocorreu<br />

na história. Mas o que eu não sou<br />

é alguém rancorosa do sexo masculino<br />

ou alguém que procura<br />

um confronto. Eu não acredito na<br />

luta dos sexos, e sim no oposto.<br />

Tudo o que fizermos, precisamos<br />

fazer juntos. Sempre se constrói<br />

melhor e se vai além.<br />

QuEbrAndo inérciAs<br />

Algum tempo atrás, quando<br />

falavam sobre cotas comigo, me<br />

parecia ofensivo. Eu achava que<br />

as mulheres já eram boas o suficiente<br />

para conseguir coisas por<br />

conta própria para precisar <strong>de</strong><br />

ajuda. No entanto, percebi que é<br />

necessário que as empresas aju<strong>de</strong>m<br />

e direcionem o caminho das<br />

mulheres quando isso não acontece.<br />

Existem inércias que não se<br />

quebram, e é aí que elas precisam<br />

do impulso <strong>de</strong>sses programas. Na<br />

McCann eles existem em nível<br />

regional, eles são programas <strong>de</strong><br />

li<strong>de</strong>rança que ajudam na formação<br />

e visibilida<strong>de</strong> dos melhores<br />

talentos femininos na re<strong>de</strong>.<br />

“Sim, Sou<br />

feminiSta. Quem<br />

não é feminiSta<br />

não enten<strong>de</strong>u<br />

o Que ocorreu<br />

na hiStória”<br />

Assédio<br />

Na Espanha, eu pessoalmente<br />

não tenho nem dados e nem<br />

conhecimento sobre casos <strong>de</strong><br />

assédio. Isso não significa que<br />

eles não possam existir. Mas suponho<br />

que os casos americanos<br />

fizeram com que todos assumissem<br />

posições mais cautelosas e<br />

respeitosas com as mulheres, o<br />

que é <strong>de</strong> se louvar. Mas também<br />

há exemplos em que a situação<br />

chegou a um ponto que não favorece<br />

ninguém, como no caso<br />

do Diet Madison Avenue. Claro<br />

que você tem <strong>de</strong> <strong>de</strong>nunciar as<br />

pessoas que abusam <strong>de</strong> outra<br />

pessoa, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do<br />

gênero, mas você precisa fazê-<br />

-lo seguindo os procedimentos<br />

legais. A criação <strong>de</strong> listas negras<br />

anônimas parece uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

filme ruim, que também <strong>de</strong>ixa<br />

as mulheres numa posição bastante<br />

negativa. Sei que há mulheres<br />

furiosas sobre como elas<br />

foram tratadas nas agências e<br />

isso é uma questão intolerável,<br />

mas insisto que isso <strong>de</strong>ve ser resolvido<br />

<strong>de</strong> maneira inteligente e<br />

não <strong>de</strong> forma visceral.<br />

VElhos clichês<br />

A propaganda ainda não rompeu<br />

com velhos clichês femininos.<br />

Quem <strong>de</strong>ra! A construção<br />

do estereótipo é feita a partir do<br />

cultural, da linguagem e, às vezes,<br />

não percebemos como existem<br />

i<strong>de</strong>ias que são estabelecidas<br />

em nossa cabeça e as normalizamos.<br />

É claro que não se fazem<br />

barbarida<strong>de</strong>s como há <strong>20</strong> anos,<br />

mas ainda há exemplos que objetificam<br />

as mulheres ou fazem<br />

clichês sobre o homem. É difícil,<br />

mas eles continuam ven<strong>de</strong>ndo<br />

i<strong>de</strong>ias baseadas em imagens que<br />

às vezes parecem uma piada <strong>de</strong><br />

mau gosto. Ainda sinto falta <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> inteligência em muitas<br />

campanhas. O uso da linguagem<br />

também é um veículo superpo<strong>de</strong>roso<br />

para estabelecer este estereótipo<br />

e continuamos a cons-<br />

truir expressões e frases que não<br />

ajudam do ponto <strong>de</strong> vista cultural<br />

e social a fazer uma mudança<br />

<strong>de</strong> paradigma.<br />

lidErAnçA<br />

Ser lí<strong>de</strong>r nunca foi um objetivo<br />

prioritário, mas não encontro<br />

uma posição melhor para mim<br />

do que a <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>r. Sinto-me confortável<br />

e gosto <strong>de</strong> exercitá-la.<br />

Quando você sabe o que po<strong>de</strong><br />

conseguir para o seu pessoal e<br />

para o trabalho li<strong>de</strong>rando um <strong>de</strong>partamento<br />

<strong>de</strong> criação, parece-<br />

-me que, para muitas mulheres,<br />

<strong>de</strong>ve ser um objetivo primordial.<br />

Não é uma questão <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, mas<br />

<strong>de</strong> conquistas.<br />

Futuro<br />

O futuro das agências é difícil,<br />

mas possível. Se a criativida<strong>de</strong><br />

ainda é o motor <strong>de</strong> uma agência,<br />

não haverá problema. Mas é claro<br />

que o mo<strong>de</strong>lo está vivendo sua<br />

maior mudança. O que eu consi<strong>de</strong>ro<br />

verda<strong>de</strong>iramente inovador<br />

e criativo hoje na publicida<strong>de</strong>?<br />

Não olhar tanto para o próprio<br />

umbigo. Não há fórmulas mágicas.<br />

Tudo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do valor da<br />

sua organização, do tamanho da<br />

sua agência e <strong>de</strong> quem você quer<br />

ser. Quero crer que há lugar para<br />

todos. Mas insisto que o único<br />

mo<strong>de</strong>lo no qual acredito é no<br />

qual as i<strong>de</strong>ias estejam no centro.<br />

É a única coisa pela qual os clientes<br />

pagarão, mesmo que ainda<br />

não saibamos para quem.<br />

jornal propmark - <strong>20</strong> <strong>de</strong> <strong>agosto</strong> <strong>de</strong> <strong>20</strong>18 15

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!