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edição de 8 de outubro de 2018

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enTrevisTA<br />

AdriAnne eliAs<br />

sócia-fundadora da Content House<br />

Tenho <strong>de</strong> esTAr<br />

<strong>de</strong>nTro do<br />

enTreTenimenTo<br />

Em 2009 nasceu a Content House, uma das<br />

primeiras agências <strong>de</strong> bran<strong>de</strong>d content do<br />

país. O negócio surgiu da inquietação <strong>de</strong> sua<br />

sócia-fundadora, Adrianne Elias, até então<br />

na condição <strong>de</strong> executiva <strong>de</strong> vendas e marketing do<br />

alto escalão <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s anunciantes como Telefônica<br />

e Ambev. Sua intuição apontou para um caminho<br />

que parece sem volta: estratégias mais assertivas e<br />

menos interruptivas <strong>de</strong> estabelecer conexão entre<br />

pessoas e marcas. Nesta entrevista, ela <strong>de</strong>talha<br />

como enxerga a influência cada vez mais po<strong>de</strong>rosa<br />

do conteúdo na propaganda.<br />

RENATO ROGENSKI<br />

Como sua história <strong>de</strong> vida influenciou<br />

seus caminhos profissionais?<br />

Sou filha <strong>de</strong> árabe e eles são<br />

muito voltados para o comércio.<br />

Meus avós chegaram do Líbano<br />

com 13 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e não<br />

sabiam nem falar português.<br />

Eles vendiam lençóis, roupas <strong>de</strong><br />

cama e cortinas nas casas. Além<br />

disso, apesar <strong>de</strong> estudar em um<br />

bom colégio, chegou um momento<br />

em que minha mãe já não<br />

podia pagar a minha escola e a<br />

faculda<strong>de</strong> do meu irmão. Com 13<br />

ou 14 anos resolvi ven<strong>de</strong>r esfiha,<br />

feita a partir <strong>de</strong> uma receita <strong>de</strong><br />

família, no intervalo das aulas.<br />

Montei uma linha <strong>de</strong> produção,<br />

recrutei amigas para me ajudar e<br />

em pouco tempo quebrei a cantina<br />

da escola.<br />

E quando você começou a ter as primeiras<br />

noções profissionais sobre<br />

marketing?<br />

Depois <strong>de</strong> passar por alguns<br />

outros trabalhos, entrei em um<br />

estágio do Banco Nacional. Por<br />

lá circulava nos <strong>de</strong>partamentos<br />

<strong>de</strong> marketing e vendas, apesar<br />

<strong>de</strong> fazer engenharia <strong>de</strong> produção<br />

na Fe<strong>de</strong>ral do Rio. Naquela<br />

época, a indústria financeira<br />

contratava muito engenheiro<br />

<strong>de</strong> produção. Éramos consi<strong>de</strong>rados<br />

administradores 2.0. E a<br />

marca já era muito mo<strong>de</strong>rna para<br />

a época, tanto que foi a primeira<br />

a colocar em prática uma política<br />

<strong>de</strong> patrocínio com o Ayrton Senna.<br />

Depois fui para a TVA, que<br />

era do Grupo Abril, uma verda<strong>de</strong>ira<br />

escola <strong>de</strong> conteúdo. Quando<br />

lançamos por lá a primeira<br />

banda larga do país (Ajato), eu<br />

comecei a enten<strong>de</strong>r parte do<br />

que era bran<strong>de</strong>d content. Antes<br />

do lançamento fiz imersão high<br />

tech, com ajuda <strong>de</strong> consultorias<br />

que me mostrassem algo sobre<br />

o futuro. Quando se começou a<br />

falar sobre VOD e mobile first comecei<br />

a me provocar... Como vai<br />

ser a propaganda?<br />

E quando foi a primeira experiência<br />

prática com bran<strong>de</strong>d content?<br />

Saí da Telefônica e fui cuidar<br />

dos não-alcoólicos da Ambev.<br />

Peguei Guaraná Antarctica numa<br />

<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte histórica <strong>de</strong> market<br />

share. E tínhamos <strong>de</strong> melho-<br />

rar a entrada do produto com o<br />

público jovem. Fizemos um reposicionamento,<br />

trazendo atributos<br />

<strong>de</strong> energia. Havia espaço<br />

para sair do tradicional da propaganda<br />

com a marca. Primeiro<br />

realizamos o evento GAS Street<br />

Festival. Depois <strong>de</strong>senvolvemos<br />

o primeiro programa <strong>de</strong> bran<strong>de</strong>d<br />

content na Re<strong>de</strong>TV, o Gas Sound.<br />

Era um concurso <strong>de</strong> bandas, colado<br />

no Pânico, que chegou a dar<br />

dois pontos no Ibope. Para um<br />

programa proprietário, era muita<br />

coisa. O ano era 2007 e não existia<br />

nenhum reality musical na<br />

época. Quando eu fiz o programa,<br />

pensei: é isso! Eu tenho <strong>de</strong><br />

estar <strong>de</strong>ntro do entretenimento.<br />

Eu não posso representar nenhuma<br />

interrupção. A marca precisa<br />

fazer alguma uma coisa que o<br />

consumidor realmente queira<br />

assistir. Mas na época não havia<br />

nenhuma agência pronta no país<br />

para fazer isso.<br />

E como foi a saída <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong><br />

empresa para os rumos do empreen<strong>de</strong>dorismo?<br />

Eu tinha 17 anos <strong>de</strong> carreira<br />

e algumas ações na Ambev. No<br />

meu cargo só tinham três mulheres<br />

na companhia e nenhuma<br />

acima <strong>de</strong> mim. Eu era CMO <strong>de</strong><br />

não-alcoólicos. Mesmo assim eu<br />

pensei: vou abrir o próprio negócio.<br />

O problema? Fui falar com<br />

vários lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong> agências, veículos<br />

e muita gente me <strong>de</strong>sanimou.<br />

Todo mundo dizia que ia fazer<br />

exatamente a mesma coisa que<br />

eu estava planejando: trabalhar<br />

com conteúdo. Foi complicado<br />

porque eu era uma executiva<br />

sênior, mas era uma empresária<br />

júnior. Os dois primeiros anos<br />

foram extremamente difíceis.<br />

Quando conceituei a agência, eu<br />

queria fazer projetos como esse<br />

que fiz para a TV, mas daí repensei<br />

o mo<strong>de</strong>lo e acabei focando<br />

também o digital.<br />

E quando você teve certeza sobre o<br />

melhor caminho para trilhar?<br />

Foi quando eu <strong>de</strong>cidi fazer o<br />

Nails Fashion Week, o primeiro<br />

<strong>de</strong>sfile <strong>de</strong> esmaltes do mundo.<br />

Diversas marcas entraram no<br />

evento. Esse case foi um divisor<br />

<strong>de</strong> águas. As pessoas passaram a<br />

enten<strong>de</strong>r que nós fazíamos bran-<br />

<strong>de</strong>d content. Tivemos mais <strong>de</strong><br />

R$ 15 milhões em mídia espontânea.<br />

O que nem todo mundo<br />

sabe é que eu banquei o projeto<br />

antes mesmo <strong>de</strong> ven<strong>de</strong>r as cotas<br />

<strong>de</strong> patrocínio. Confiei tanto na<br />

i<strong>de</strong>ia que resolvi arriscar. Tomei<br />

um certo prejuízo, mas a agência<br />

começou a dar certo a partir<br />

daí. Foi quando ganhamos a concorrência<br />

para cuidar <strong>de</strong> todo<br />

o merchandising da Avon. Esse<br />

mesmo incomodo me fez abrir a<br />

Cocreators (agência com foco em<br />

marketing <strong>de</strong> influência) há dois<br />

anos.<br />

E <strong>de</strong> que maneira sua experiência<br />

trabalhando como cliente te ajudou<br />

a ver os gaps do mercado?<br />

Quando eu entendi o mo<strong>de</strong>lo<br />

<strong>de</strong> remuneração das agências,<br />

pensei: está tudo errado. Quanto<br />

mais eu gasto, mais ela ganha.<br />

Então qual vai ser o interesse da<br />

agência em fazer eu gastar bem<br />

o meu dinheiro? Também me<br />

incomodava <strong>de</strong>mais a falta <strong>de</strong><br />

foco no que era realmente relevante<br />

para o meu negócio. Daí<br />

me perguntei: o que quero eu<br />

fazer diferente? A primeira coisa:<br />

quero que meus objetivos estejam<br />

alinhados com os objetivos<br />

dos clientes. Se eles estiverem<br />

alinhados, o princípio está garantido.<br />

Por isso criei um mo<strong>de</strong>lo<br />

diferente.<br />

Como é esse mo<strong>de</strong>lo?<br />

É parecido com uma consultoria.<br />

Eu cobro por hora/homem do<br />

time alocado para aquele cliente.<br />

Mas será que também não tem<br />

ineficiência? Por isso uso parâmetros<br />

<strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> e preços<br />

por peças, mais competitivos<br />

que preços <strong>de</strong> Sinapro e Abraji.<br />

Procuro me guiar pelo padrão<br />

do mercado para que eu não seja<br />

improdutiva. Outra coisa: eu até<br />

abro a minha margem para o<br />

cliente. Não posso ter vergonha<br />

<strong>de</strong> dizer como eu ganho dinheiro.<br />

Eu quero mais é que ele saiba<br />

mesmo. Porque se eu trabalhar<br />

<strong>de</strong> graça tem alguma coisa errada.<br />

Então é isso. É quase como<br />

uma consultoria. E, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<br />

do cliente, eu tenho mo<strong>de</strong>los variáveis<br />

em função <strong>de</strong> resultado,<br />

quantas vendas e market share,<br />

entre outros KPIs.<br />

36 8 <strong>de</strong> <strong>outubro</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> - jornal propmark

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