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enTrevisTA<br />
AdriAnne eliAs<br />
sócia-fundadora da Content House<br />
Tenho <strong>de</strong> esTAr<br />
<strong>de</strong>nTro do<br />
enTreTenimenTo<br />
Em 2009 nasceu a Content House, uma das<br />
primeiras agências <strong>de</strong> bran<strong>de</strong>d content do<br />
país. O negócio surgiu da inquietação <strong>de</strong> sua<br />
sócia-fundadora, Adrianne Elias, até então<br />
na condição <strong>de</strong> executiva <strong>de</strong> vendas e marketing do<br />
alto escalão <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s anunciantes como Telefônica<br />
e Ambev. Sua intuição apontou para um caminho<br />
que parece sem volta: estratégias mais assertivas e<br />
menos interruptivas <strong>de</strong> estabelecer conexão entre<br />
pessoas e marcas. Nesta entrevista, ela <strong>de</strong>talha<br />
como enxerga a influência cada vez mais po<strong>de</strong>rosa<br />
do conteúdo na propaganda.<br />
RENATO ROGENSKI<br />
Como sua história <strong>de</strong> vida influenciou<br />
seus caminhos profissionais?<br />
Sou filha <strong>de</strong> árabe e eles são<br />
muito voltados para o comércio.<br />
Meus avós chegaram do Líbano<br />
com 13 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e não<br />
sabiam nem falar português.<br />
Eles vendiam lençóis, roupas <strong>de</strong><br />
cama e cortinas nas casas. Além<br />
disso, apesar <strong>de</strong> estudar em um<br />
bom colégio, chegou um momento<br />
em que minha mãe já não<br />
podia pagar a minha escola e a<br />
faculda<strong>de</strong> do meu irmão. Com 13<br />
ou 14 anos resolvi ven<strong>de</strong>r esfiha,<br />
feita a partir <strong>de</strong> uma receita <strong>de</strong><br />
família, no intervalo das aulas.<br />
Montei uma linha <strong>de</strong> produção,<br />
recrutei amigas para me ajudar e<br />
em pouco tempo quebrei a cantina<br />
da escola.<br />
E quando você começou a ter as primeiras<br />
noções profissionais sobre<br />
marketing?<br />
Depois <strong>de</strong> passar por alguns<br />
outros trabalhos, entrei em um<br />
estágio do Banco Nacional. Por<br />
lá circulava nos <strong>de</strong>partamentos<br />
<strong>de</strong> marketing e vendas, apesar<br />
<strong>de</strong> fazer engenharia <strong>de</strong> produção<br />
na Fe<strong>de</strong>ral do Rio. Naquela<br />
época, a indústria financeira<br />
contratava muito engenheiro<br />
<strong>de</strong> produção. Éramos consi<strong>de</strong>rados<br />
administradores 2.0. E a<br />
marca já era muito mo<strong>de</strong>rna para<br />
a época, tanto que foi a primeira<br />
a colocar em prática uma política<br />
<strong>de</strong> patrocínio com o Ayrton Senna.<br />
Depois fui para a TVA, que<br />
era do Grupo Abril, uma verda<strong>de</strong>ira<br />
escola <strong>de</strong> conteúdo. Quando<br />
lançamos por lá a primeira<br />
banda larga do país (Ajato), eu<br />
comecei a enten<strong>de</strong>r parte do<br />
que era bran<strong>de</strong>d content. Antes<br />
do lançamento fiz imersão high<br />
tech, com ajuda <strong>de</strong> consultorias<br />
que me mostrassem algo sobre<br />
o futuro. Quando se começou a<br />
falar sobre VOD e mobile first comecei<br />
a me provocar... Como vai<br />
ser a propaganda?<br />
E quando foi a primeira experiência<br />
prática com bran<strong>de</strong>d content?<br />
Saí da Telefônica e fui cuidar<br />
dos não-alcoólicos da Ambev.<br />
Peguei Guaraná Antarctica numa<br />
<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte histórica <strong>de</strong> market<br />
share. E tínhamos <strong>de</strong> melho-<br />
rar a entrada do produto com o<br />
público jovem. Fizemos um reposicionamento,<br />
trazendo atributos<br />
<strong>de</strong> energia. Havia espaço<br />
para sair do tradicional da propaganda<br />
com a marca. Primeiro<br />
realizamos o evento GAS Street<br />
Festival. Depois <strong>de</strong>senvolvemos<br />
o primeiro programa <strong>de</strong> bran<strong>de</strong>d<br />
content na Re<strong>de</strong>TV, o Gas Sound.<br />
Era um concurso <strong>de</strong> bandas, colado<br />
no Pânico, que chegou a dar<br />
dois pontos no Ibope. Para um<br />
programa proprietário, era muita<br />
coisa. O ano era 2007 e não existia<br />
nenhum reality musical na<br />
época. Quando eu fiz o programa,<br />
pensei: é isso! Eu tenho <strong>de</strong><br />
estar <strong>de</strong>ntro do entretenimento.<br />
Eu não posso representar nenhuma<br />
interrupção. A marca precisa<br />
fazer alguma uma coisa que o<br />
consumidor realmente queira<br />
assistir. Mas na época não havia<br />
nenhuma agência pronta no país<br />
para fazer isso.<br />
E como foi a saída <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong><br />
empresa para os rumos do empreen<strong>de</strong>dorismo?<br />
Eu tinha 17 anos <strong>de</strong> carreira<br />
e algumas ações na Ambev. No<br />
meu cargo só tinham três mulheres<br />
na companhia e nenhuma<br />
acima <strong>de</strong> mim. Eu era CMO <strong>de</strong><br />
não-alcoólicos. Mesmo assim eu<br />
pensei: vou abrir o próprio negócio.<br />
O problema? Fui falar com<br />
vários lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong> agências, veículos<br />
e muita gente me <strong>de</strong>sanimou.<br />
Todo mundo dizia que ia fazer<br />
exatamente a mesma coisa que<br />
eu estava planejando: trabalhar<br />
com conteúdo. Foi complicado<br />
porque eu era uma executiva<br />
sênior, mas era uma empresária<br />
júnior. Os dois primeiros anos<br />
foram extremamente difíceis.<br />
Quando conceituei a agência, eu<br />
queria fazer projetos como esse<br />
que fiz para a TV, mas daí repensei<br />
o mo<strong>de</strong>lo e acabei focando<br />
também o digital.<br />
E quando você teve certeza sobre o<br />
melhor caminho para trilhar?<br />
Foi quando eu <strong>de</strong>cidi fazer o<br />
Nails Fashion Week, o primeiro<br />
<strong>de</strong>sfile <strong>de</strong> esmaltes do mundo.<br />
Diversas marcas entraram no<br />
evento. Esse case foi um divisor<br />
<strong>de</strong> águas. As pessoas passaram a<br />
enten<strong>de</strong>r que nós fazíamos bran-<br />
<strong>de</strong>d content. Tivemos mais <strong>de</strong><br />
R$ 15 milhões em mídia espontânea.<br />
O que nem todo mundo<br />
sabe é que eu banquei o projeto<br />
antes mesmo <strong>de</strong> ven<strong>de</strong>r as cotas<br />
<strong>de</strong> patrocínio. Confiei tanto na<br />
i<strong>de</strong>ia que resolvi arriscar. Tomei<br />
um certo prejuízo, mas a agência<br />
começou a dar certo a partir<br />
daí. Foi quando ganhamos a concorrência<br />
para cuidar <strong>de</strong> todo<br />
o merchandising da Avon. Esse<br />
mesmo incomodo me fez abrir a<br />
Cocreators (agência com foco em<br />
marketing <strong>de</strong> influência) há dois<br />
anos.<br />
E <strong>de</strong> que maneira sua experiência<br />
trabalhando como cliente te ajudou<br />
a ver os gaps do mercado?<br />
Quando eu entendi o mo<strong>de</strong>lo<br />
<strong>de</strong> remuneração das agências,<br />
pensei: está tudo errado. Quanto<br />
mais eu gasto, mais ela ganha.<br />
Então qual vai ser o interesse da<br />
agência em fazer eu gastar bem<br />
o meu dinheiro? Também me<br />
incomodava <strong>de</strong>mais a falta <strong>de</strong><br />
foco no que era realmente relevante<br />
para o meu negócio. Daí<br />
me perguntei: o que quero eu<br />
fazer diferente? A primeira coisa:<br />
quero que meus objetivos estejam<br />
alinhados com os objetivos<br />
dos clientes. Se eles estiverem<br />
alinhados, o princípio está garantido.<br />
Por isso criei um mo<strong>de</strong>lo<br />
diferente.<br />
Como é esse mo<strong>de</strong>lo?<br />
É parecido com uma consultoria.<br />
Eu cobro por hora/homem do<br />
time alocado para aquele cliente.<br />
Mas será que também não tem<br />
ineficiência? Por isso uso parâmetros<br />
<strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> e preços<br />
por peças, mais competitivos<br />
que preços <strong>de</strong> Sinapro e Abraji.<br />
Procuro me guiar pelo padrão<br />
do mercado para que eu não seja<br />
improdutiva. Outra coisa: eu até<br />
abro a minha margem para o<br />
cliente. Não posso ter vergonha<br />
<strong>de</strong> dizer como eu ganho dinheiro.<br />
Eu quero mais é que ele saiba<br />
mesmo. Porque se eu trabalhar<br />
<strong>de</strong> graça tem alguma coisa errada.<br />
Então é isso. É quase como<br />
uma consultoria. E, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo<br />
do cliente, eu tenho mo<strong>de</strong>los variáveis<br />
em função <strong>de</strong> resultado,<br />
quantas vendas e market share,<br />
entre outros KPIs.<br />
36 8 <strong>de</strong> <strong>outubro</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> - jornal propmark