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edição de 8 de outubro de 2018

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MkT<br />

stevanovicigor/iStock<br />

A bancarização<br />

da Mãe Terra<br />

“Nenhum homem merece uma<br />

confiança ilimitada. Na melhor das<br />

hipóteses sua traição apenas espera<br />

por uma tentação suficiente”.<br />

Henryn Mencken”<br />

Francisco alberto Madia <strong>de</strong> souza<br />

No suplemento Eu & Fim De Semana, do<br />

jornal Valor do fim <strong>de</strong> 2017, a matéria<br />

principal é um almoço com o empresário<br />

Alexandre Borges, que no segundo semestre<br />

do ano passado ven<strong>de</strong>u a sua empresa,<br />

Mãe Terra, para a Unilever. No começo do<br />

papo com Vanessa Adachi, do jornal Valor,<br />

Alexandre vai reconstituindo sua narrativa.<br />

Fez administração na FGV on<strong>de</strong>, confessa,<br />

sentiu-se <strong>de</strong>sconfortável. “Senti-me<br />

inquieto <strong>de</strong> estar apren<strong>de</strong>ndo ferramentas<br />

para replicar o sistema. Achava que precisava<br />

dar um sentido para aquele curso <strong>de</strong><br />

administração...”.<br />

Mais adiante revela sua motivação: “É<br />

um privilégio po<strong>de</strong>r fazer a transformação<br />

não numa montanha, num mosteiro, numa<br />

praia, numa barraca <strong>de</strong> coco, mas <strong>de</strong>ntro<br />

do sistema... I<strong>de</strong>alistas não têm o ferramental.<br />

Os que dominam as ferramentas<br />

não têm o i<strong>de</strong>al... É possível ter lucro fazendo<br />

algum bem pela socieda<strong>de</strong> e não apenas<br />

filantropia”.<br />

Bingo! Naquele momento revela ter <strong>de</strong>codificado<br />

e entendido os novos tempos.<br />

Ameaçava constituir-se numa consistente<br />

li<strong>de</strong>rança empresarial do que se convencionou<br />

<strong>de</strong>nominar hoje <strong>de</strong> Os Novos Normais.<br />

E assim nasceu a Mãe Terra e muitas pessoas,<br />

mais que acreditar, a<strong>de</strong>riram <strong>de</strong> cabeça<br />

e alma o posicionamento <strong>de</strong> Alexandre e <strong>de</strong><br />

sua empresa. E como essa <strong>de</strong>nominação,<br />

então, uma a<strong>de</strong>são quase que irresistível e<br />

imediata. Meses atrás, Alexandre recebeu<br />

uma boa proposta da Unilever e não resistiu.<br />

Ven<strong>de</strong>u.<br />

Todos acreditavam que Alexandre fosse<br />

mandar a Unilever lamber sabão ou caçar<br />

sapo. Mas, como diz o ditado reescrito, o<br />

bolso tem razões que o próprio coração<br />

<strong>de</strong>sconhece... Durante o almoço-entrevista<br />

com a Vanessa surge o assunto. E Alexandre<br />

revela-se assustado. Parte dos consumido-<br />

res dos produtos Mãe Terra reagiu muito<br />

mal à venda para uma gran<strong>de</strong> indústria e se<br />

manifestou via re<strong>de</strong>s sociais, questionando<br />

a perda do compromisso com alimentação<br />

saudável e sustentabilida<strong>de</strong> ambiental.<br />

Diz Alexandre: “Eu não esperava. Sabia<br />

que era uma marca querida, mas veio com<br />

violência, com uma força, fiquei mal, triste,<br />

me senti atingido”. E, mimimimimimimi...<br />

O que é que o Alexandre queria e esperava?<br />

Que as pessoas o cumprimentassem<br />

pela traição? Pior ainda, criticou publicamente<br />

os que acreditaram nele e converteram-se<br />

em seguidores <strong>de</strong> sua causa; ofen<strong>de</strong>u<br />

seus “Angels”.<br />

Para os que ainda não estão habituados<br />

com esse fantástico stakehol<strong>de</strong>r, “Angels”<br />

são aqueles clientes apaixonados que não<br />

param <strong>de</strong> disseminar a empresa e sua causa.<br />

Também conhecidos como “preachers”<br />

ou, se preferirem, em português, “evangelizadores”.<br />

Reclamou Alexandre: “As pessoas na internet<br />

são muito reducionistas, te categorizam,<br />

jogam pedras sem enten<strong>de</strong>r o todo, as<br />

razões...”. Lamentável!<br />

Assim como a XP, que mandava ou estimulava<br />

os clientes do Itaú, Bra<strong>de</strong>sco, Santan<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong>sbancarizarem e acabou se ven<strong>de</strong>ndo<br />

para o Itaú, a Mãe Terra mandava ou<br />

estimulava seus seguidores a fugirem <strong>de</strong><br />

empresas como a Nestlé, Unilever, Procter<br />

e Danone, mas acabou <strong>de</strong>ixando-se ven<strong>de</strong>r<br />

para uma <strong>de</strong>las, a Unilever.<br />

Apenas isso. Fez o que recomendava a<br />

seus seguidores que jamais fizessem. Tudo<br />

o mais é choro <strong>de</strong> novo rico e mau ganhador.<br />

Pessoas que têm um discurso e,<br />

supostamente, uma causa, rapidamente<br />

<strong>de</strong>scartada diante <strong>de</strong> uma primeira, boa e<br />

lamentável oferta. Em verda<strong>de</strong> Alexandre<br />

não tinha uma causa. Apenas dizia ter...<br />

Francisco Alberto Madia <strong>de</strong> Souza<br />

é consultor <strong>de</strong> marketing<br />

famadia@madiamm.com.br<br />

56 8 <strong>de</strong> <strong>outubro</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> - jornal propmark

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