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Revista Elas por Elas 2018

A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.

A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.

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dado em uma presidenta, fica claro<br />

nossa analogia de que quanto mais se<br />

degrada a Mãe Terra, mais se degrada<br />

a figura da mulher no país e no mundo<br />

culturalmente, em uma crescente misoginia.<br />

O que fizeram ao Rio Watu<br />

(Rio Doce), sagrado dos parentes Krenak,<br />

é resultado desse descaso com a<br />

Grande Mãe. Mataram um rio e tudo<br />

que ele significava. Nós, indígenas, jamais<br />

mataríamos um rio”, desabafa<br />

novamente com o choro embargado.<br />

Avelin chama a atenção para o<br />

poder das mineradoras. “<strong>Elas</strong> fazem o<br />

que querem no país e nas Minas Gerais,<br />

cujo nome já diz 'Minas'. Deveríamos<br />

ser o Estado das 'Águas Gerais',<br />

mas nossa água está sendo levada para<br />

ex<strong>por</strong>tar minério (mineroduto) e nossos<br />

rios assassinados como foi o crime<br />

em Mariana e aqui, ao nosso lado. Na<br />

retomada indígena na cidade de Brumadinho,<br />

o Rio Paraopeba agoniza<br />

atrás da fachada do Inhotim, museu<br />

que esconde a mineração dos olhos<br />

das pessoas, mas a poluição não dá pra<br />

esconder. Não houve resposta ou solução<br />

para o crime Vale/Samarco e a resposta<br />

virá dos povos indígenas,<br />

originalmente protetores da Mãe<br />

Terra. Por isso, reforço a ajuda à retomada<br />

Naô Xohã, em Brumadinho, para<br />

que possamos preservar o que resta de<br />

mata e os animais, e o Rio Paraopeba.<br />

Chega de Mineração”, afirma. A retomada<br />

está conseguindo reunir em<br />

uma mesma terra dezenas de indígenas<br />

de diversas nações que viviam em<br />

Belo Horizonte e região.<br />

Se a luta pela terra é feminina, também<br />

é preciso destacar a força de cada<br />

indígena chamada, carinhosamente,<br />

<strong>por</strong> Avelin de 'Guerreira'. “Eu gosto<br />

dessa expressão. Assim é a mulher<br />

Kambiwá, uma guerreira que trabalha<br />

muito. É brava, brigona, lutadora e não<br />

fica parada esperando as coisas cairem<br />

do céu. Em toda minha infância, nunca<br />

vi minha avó e minha mãe ficarem de<br />

braços cruzados. A mulher Kambiwá<br />

é respeitada e tem seu lugar dentro de<br />

todas as instâncias da comunidade, inclusive<br />

políticas. Apesar de toda opressão<br />

de gênero, que desde a invasão<br />

acontece e impera”, ressalta.<br />

Desde a colonização, quando houve<br />

massacre de diversos povos indígenas<br />

do país, a situação nunca foi favorável.<br />

A ganância pelo dinheiro sempre destruiu<br />

matas, rios, montanhas e povos<br />

indígenas e quilombolas. Além da colonização<br />

que matou milhares de indígenas,<br />

Avelin nos lembra da ditadura<br />

militar que, além de encarcerar centenas,<br />

matou 8 mil indígenas de diferentes<br />

povos. “Estes nem foram contabilizados.<br />

História silenciada”, afirma<br />

Avelin ao reforçar que hoje o agronegócio<br />

também tenta acabar com o que<br />

restou. “Precisamos, urgentemente,<br />

de demarcação das terras indígenas,<br />

essa é a nossa maior luta. Não existe<br />

BEM VIVER sem o território e os indígenas<br />

que migram para as cidades<br />

têm que ter seus direitos garantidos<br />

e sua cultura respeitada. Atualmente,<br />

“Mataram um rio e<br />

tudo que ele significava.<br />

Nós, indígenas,<br />

jamais mataríamos<br />

um rio”<br />

nós somos uma população de mais de<br />

900 mil pessoas tendo negado os direitos<br />

básicos à saude e à educação,<br />

mas principalmente nos é negado o<br />

direito a ter uma identidade. Existe<br />

um medo no país de ter raízes e também<br />

um medo do outro. Nós indígenas<br />

estamos sempre sendo mitificados,<br />

mas não nos deixam falar de nós mesmos.<br />

Somos negligenciados até em situações<br />

que se presa pela 'igualdade racial'.<br />

Nós não queremos ser iguais,<br />

queremos ser o outro, sim, e essa alteridade<br />

nos é especial e nos faz indígenas<br />

tronco e raiz dessa nação chamada<br />

agora de Brasil”, afirma.<br />

Kuekaturete! (muito obrigada!) Assim<br />

se despede Avelin em nossa conversa,<br />

desejando ver um Brasil que<br />

lute pela retomada da democracia e<br />

da defesa dos direitos dos menos favorecidos<br />

deste país.<br />

Indígenas no Brasil<br />

De acordo com o último censo do IBGE<br />

(Instituto Brasileiro de Economia e<br />

Estatística), em 2010 havia 817.693 indígenas<br />

no Brasil, dos quais 502.783<br />

no meio rural e 315.180 no ambiente urbano.<br />

Em Minas, de acordo com o<br />

Centro de Documentação Eloy Ferreira<br />

da Silva, há 13 etnias pertencentes ao<br />

tronco linguístico Macro-Jê, com cerca<br />

de 15 mil indivíduos aldeados.<br />

Só na capital, segundo o IBGE, há<br />

3.477 membros de alguma etnia indígena.<br />

Em Uberlândia, 926; em Contagem,<br />

810; em Ribeirão das Neves, 677;<br />

em Betim, 498. Já o número de aldeias<br />

costuma variar, <strong>por</strong> conta das<br />

migrações e formação de novas aldeias.<br />

Em todos esses lugares, um dos<br />

grandes problemas enfrentados é o<br />

preconceito.<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Elas</strong> <strong>por</strong> <strong>Elas</strong> - Outubro <strong>2018</strong><br />

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