Revista Elas por Elas 2018
A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.
A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.
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Machismo<br />
<strong>por</strong> Nanci Alves<br />
Canções<br />
que abalam<br />
Não im<strong>por</strong>ta a época nem o estilo<br />
musical – violência doméstica, psicológica,<br />
assédio sexual, apologia ao estupro<br />
e silenciamento sempre fizeram<br />
parte de inúmeras canções brasileiras,<br />
das antigas marchinhas de carnaval ao<br />
funk de hoje em dia. Ouvir e cantar estas<br />
músicas, até há pouco tempo, eram<br />
ações comuns feitas até mesmo <strong>por</strong><br />
muitas de nós, mulheres, que pouco<br />
questionávamos o conteúdo das letras,<br />
<strong>por</strong> mais machistas que fossem. Parece<br />
que tudo era mesmo naturalizado pela<br />
cultura patriarcal e machista herdada<br />
desde os tempos da colonização. Porém,<br />
com o crescimento do movimento<br />
feminista, em meados do século<br />
passado, esta história vem mudando.<br />
Embora o número de composições só<br />
tenha aumentado, cantar a violência<br />
contra a mulher virou um ofensa e até<br />
mesmo crime, principalmente num<br />
país onde, de acordo com o 11º Anuário<br />
Brasileiro de Segurança Pública (FBSP,<br />
2017) morrem, diariamente, 13 mulheres<br />
assassinadas <strong>por</strong> companheiros ou<br />
ex-companheiros, ou seja, uma a cada<br />
duas horas. Os dados mostram também<br />
que a cada 11 minutos uma menina/mulher<br />
é estuprada no Brasil –<br />
lembrando que esse número pode ser<br />
bem maior, pois muitos casos não são<br />
registrados <strong>por</strong> medo ou constrangimento<br />
sofridos pela vítima.<br />
Colocar em letras de música a mulher<br />
neste lugar de submissão ou merecedoras<br />
de agressões, física e psicológica,<br />
é dar voz ao machismo (com<br />
valores, representações e práticas vigentes),<br />
que deveria ser questionado.<br />
De acordo com a professora do curso<br />
de História da UFMG, Míriam Hermeto,<br />
"a canção popular pode ser pensada<br />
como uma produção cultural que não<br />
apenas veicula representações sociais,<br />
mas que as cria, as constrói – e nesse<br />
sentido, é também produtora da própria<br />
sociedade. Ao criar e veicular valores<br />
e práticas, ela não apenas representa<br />
parte do que está vigindo socialmente,<br />
como constrói 'novos fazeres' ”.<br />
<strong>Revista</strong> <strong>Elas</strong> <strong>por</strong> <strong>Elas</strong> - Outubro <strong>2018</strong><br />
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