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Revista Elas por Elas 2018

A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.

A revista sobre gênero Elas por Elas foi criada, em 2007, com o objetivo de dar voz às mulheres e incentivar a luta pela emancipação feminina. A revista enfatiza as questões de gênero e todos os temas que perpassam por esse viés. Elas por Elas traz reportagens sobre mulheres que vivenciam histórias de superação e incentivam outras a serem protagonistas das mudanças, num processo de transformação da sociedade. A revista aborda temas políticos, comportamentais, históricos, culturais, ambientais, literatura, educação, entre outros, para reflexão sobre a história de luta de mulheres que vivem realidades diversas.

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a hegemonia de construção da ciência<br />

médica moderna, não só foi criada<br />

uma legislação que penalizava esse<br />

sistema de cura, como associado ao<br />

poder do clero, foi construído um imaginário<br />

que perseguiu violentamente<br />

benzedeiras, mães-de-santo, raizeiros<br />

nos centros urbanos.<br />

Em pleno séc. XXI, os povos de religiões<br />

de matriz africana, a maioria<br />

liderada <strong>por</strong> mulheres, não podem<br />

ter liberdade de praticar sua religião<br />

<strong>por</strong> temor de perseguição e racismo<br />

religioso, que tem levado a ataque os<br />

terreiros de candomblé e umbanda.<br />

No entanto, grande parte dos brasileiros<br />

sabe que o sistema de cura<br />

dessas casas (banhos, chás, benzeções)<br />

é que garante a vida de pelo menos<br />

80% dos brasileiros.<br />

Epistemicídio e<br />

renascimento<br />

É impossível não reconhecer que a<br />

forma como as mulheres cuidam e<br />

gerenciam os ecossistemas da natureza<br />

é muito diferenciada da dos homens.<br />

O modelo capitalista, ocidental, patriarcal<br />

fez a escolha <strong>por</strong> um modelo<br />

tecnológico energívoro (gasta muita<br />

energia) e poluidor; um modelo de<br />

consumo que trocou o ser pelo ter, e<br />

um modelo de crescimento ilimitado<br />

e insustentável que quer lucros a qualquer<br />

custo ambiental.<br />

Nos últimos decênios, a sociedade<br />

foi se dando conta também de que<br />

não vigora apenas uma injustiça social,<br />

mas também uma injustiça social ecológica:<br />

devastação de ecossistemas inteiros,<br />

contaminação de cursos d’àgua,<br />

exaustão dos bens naturais e surgimento<br />

de doenças autoimunes (câncer,<br />

“o Ecofeminismo é<br />

um movimento<br />

necessário, de luta<br />

para construção<br />

de uma sociedade<br />

sustentável, justa<br />

e feliz<br />

<strong>por</strong> exemplo). Uma crise geral do sistema-vida<br />

e do sistema-Terra.<br />

Passados 500 anos, podemos dizer<br />

que a barbárie do racismo segue matando<br />

negros, mulheres e pobres: morre<br />

quem conserva a natureza. Nos últimos<br />

12 anos em que se implantou a<br />

lei Maria da Penha, diminuiu o número<br />

de mulheres brancas assassinadas,<br />

mas aumentou, em 54%, o número de<br />

mulheres negras.<br />

As forças produtivas se transformaram<br />

em forças destrutivas. Diretamente,<br />

o que se busca mesmo é dinheiro<br />

e a dominação cultural.<br />

Cabe ainda perguntar: quem controla<br />

os ecossistemas da Terra, em<br />

termos de tecnologia, capital e poder?<br />

A resposta é simples: a maioria são<br />

empresas controladas <strong>por</strong> homens<br />

brancos, eurodescendentes.<br />

Então, essa matriz patriarcal, capitalista,<br />

ocidental e eurocêntrica tem<br />

que ser responsabilizada pela crise<br />

ecológica que produziu.<br />

A matriz matriarcal trilhou <strong>por</strong> outros<br />

rumos, mas foi invisibilizada; trilhou<br />

pela vida, pela subjetividade, pela<br />

complexidade e pela sustentabilidade<br />

ecológica. Criou os princípios da agroecologia,<br />

“princípios femininos”.<br />

Assim, o Ecofeminismo é um movimento<br />

necessário, de luta para construção<br />

de uma sociedade sustentável,<br />

justa e feliz. É de onde vieram as transformações<br />

integradas com os ciclos<br />

femininos e os ciclos da natureza. De<br />

onde viemos e jamais deveríamos ter<br />

nos separado. Revisitar esse movimento<br />

é sim retomar o elo do AYÊ<br />

(terra) com o Orum (forças do universo)<br />

e a justiça. Inclusive feministas negras,<br />

na marcha de Mulheres Negras em<br />

2015, em Brasília, afirmavam que a<br />

cosmovisão de mundo das matrizes<br />

matriarcais afro-indígenas, pode ser<br />

uma metodologia libertária das oprimidas<br />

e dos oprimidos.<br />

O Ecofeminismo pode redesenhar<br />

revolucionariamente outro modelo de<br />

desenvolvimento que inclua a ecologia<br />

e os direitos humanos e ensine o conceito<br />

de BEM VIVER. Tudo está conectado<br />

com tudo: princípios femininos<br />

e desafios para o século XXI.<br />

Dra. Ângela Maria da Silva Gomes<br />

Engenheira Florestal. Dra. em Geografia Cultural pela<br />

UFMG: etnobotânica negro africana<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Elas</strong> <strong>por</strong> <strong>Elas</strong> - Outubro <strong>2018</strong><br />

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