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edição de 12 de novembro de 2018

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última página<br />

Divulgação<br />

a árvore<br />

claudia penteado<br />

Ela voltou. Sempre foi controversa. Foi,<br />

possivelmente, na visão <strong>de</strong> muitos,<br />

mais vilã do que heroína. Ficou 20 anos<br />

tomando porrada, durante pelo menos 35<br />

dias dos 365 do ano. Entrou para a paisagem<br />

do Rio <strong>de</strong> Janeiro encantando uns, irritando<br />

outros. Em 2015, foi <strong>de</strong>rrubada por<br />

uma ventania, mas foi recuperada a tempo<br />

<strong>de</strong> completar seu vigésimo aniversário, patrocinada<br />

ininterruptamente pela Bra<strong>de</strong>sco<br />

Seguros. No ano seguinte, não voltou<br />

mais. Saiu <strong>de</strong> cena e sua ausência se transformou<br />

em símbolo da crise <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong>.<br />

Na era da polarização, do preto ou do<br />

branco, da ausência <strong>de</strong> tons<br />

<strong>de</strong> cinza, a Árvore da Lagoa<br />

ou é linda ou é foco <strong>de</strong> raiva,<br />

em especial <strong>de</strong> muitos<br />

moradores próximos, que<br />

não curtem o aumento do<br />

trânsito e as limitações <strong>de</strong><br />

vagas <strong>de</strong> estacionamento<br />

no dia a dia. Até grupos no<br />

Facebook em protesto à árvore foram formados,<br />

mas andaram esvaziados <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

2016. Não moro por perto, e reconheço que,<br />

nos dias em que ela se acen<strong>de</strong> por volta das<br />

18h, a própria circulação a pé no entorno da<br />

Lagoa se torna um <strong>de</strong>safio. Corredores precisam<br />

correr <strong>de</strong> manhã, ciclistas precisam<br />

rever seus circuitos e, obviamente, motoristas<br />

precisam pensar duas vezes na hora<br />

<strong>de</strong> planejar suas passagens pelo local.<br />

A Árvore dA LAgoA<br />

é um símboLo<br />

<strong>de</strong> empAtiA, <strong>de</strong><br />

pertencimento,<br />

<strong>de</strong> toLerânciA<br />

O que ocorre, como sempre, é certa confusão<br />

entre público e privado, entre papel<br />

do po<strong>de</strong>r público e das empresas. Algumas<br />

pessoas acreditam que priorida<strong>de</strong> são obras<br />

no entorno da Lagoa, a segurança e assim<br />

por diante. Pesquisas mostram cada vez<br />

mais o quanto as pessoas esperam que empresas<br />

privadas resolvam seus problemas,<br />

já que o po<strong>de</strong>r público não resolve e anda<br />

cada vez mais <strong>de</strong>sacreditado. Investir numa<br />

árvore parece supérfluo diante <strong>de</strong> tantos<br />

problemas. Só que não. Po<strong>de</strong>mos ter a árvore,<br />

e <strong>de</strong>vemos também cobrar dos nossos<br />

governantes que resolvam os problemas da<br />

cida<strong>de</strong> - votando melhor, sendo melhores<br />

cidadãos e participando mais do dia a dia<br />

da política da cida<strong>de</strong> e do estado.<br />

Árvore da Lagoa é a maior árvore flutuante<br />

do mundo, feita por um time <strong>de</strong> craques<br />

como o Abel Gomes e não há uma tar<strong>de</strong><br />

quente <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro em que eu não vire<br />

o olhar ao passar por perto, nem que seja<br />

por alguns segundos, para procurar aquele<br />

objeto reluzente e pontiagudo no espelho<br />

d’água mais bonito do Rio. Embasbacada,<br />

pensando em como é possível que um ícone<br />

<strong>de</strong> Natal promova tanta discórdia e ao<br />

mesmo tempo alegre tanta gente. Gente<br />

que mora perto, e também<br />

muitos que saem <strong>de</strong> bairros<br />

distantes do Rio para<br />

ter aquela mesma visão que<br />

eu, comendo pipoca, milho<br />

e cachorro quente e ajudando<br />

a vida dos ven<strong>de</strong>dores<br />

ambulantes e quiosques<br />

naquele período. São centenas<br />

<strong>de</strong> famílias filmando, fotografando,<br />

curtindo, passeando e se apropriando daquele<br />

espaço e pensando “sim, esta cida<strong>de</strong><br />

também é minha, tem lugar pra mim e não<br />

custa uma fortuna”.<br />

A Árvore da Lagoa é um símbolo <strong>de</strong> empatia,<br />

<strong>de</strong> pertencimento, <strong>de</strong> tolerância. Há<br />

problemas na Lagoa que <strong>de</strong>vem ser resolvidos?<br />

Claro. E também em Copacabana,<br />

Queimados, na Penha, em Santa Cruz, em<br />

Bangu, em Realengo, na Taquara. A Árvore<br />

da Lagoa era uma bola quicando que a Petrobras<br />

Distribuidora resolveu pegar, marcando<br />

um golaço em termos <strong>de</strong> timing. Ela<br />

agora se chama Árvore do Rio Petrobras. A<br />

empresa está interessada em se associar a<br />

uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> resgate da autoestima da cida<strong>de</strong><br />

e dos cariocas. É um investimento em<br />

um propósito, que transcen<strong>de</strong> promoções<br />

em postos (embora elas também sejam importantes).<br />

Com a coragem <strong>de</strong> não ser uma<br />

unanimida<strong>de</strong>. Como não achar isso bacana?<br />

58 <strong>12</strong> <strong>de</strong> <strong>novembro</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> - jornal propmark

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