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marketing & negócios<br />
As agências precisam<br />
promover seu valor<br />
mais profundo<br />
É mais do que hora <strong>de</strong> promoverem <strong>de</strong><br />
forma coletiva seu valor mais profundo,<br />
para além da propagação superficial<br />
PeopleImages/iStock<br />
Rafael Sampaio<br />
CEO da 4As (a Abap americana), Marla<br />
A Kaplowitz, <strong>de</strong>u uma oportuna entrevista<br />
para a Ad Age ressaltando que passou da<br />
hora <strong>de</strong> as agências serem acusadas, sem<br />
gran<strong>de</strong> reação pública e coletiva, <strong>de</strong> uma<br />
série <strong>de</strong> <strong>de</strong>feitos, muito <strong>de</strong>les não substanciados,<br />
na linha <strong>de</strong> ligarem pouco para os<br />
problemas <strong>de</strong> seus clientes ou serem <strong>de</strong>scuidadas<br />
com seus investimentos.<br />
Ela falou na esteira da conclusão da<br />
investigação do Departamento <strong>de</strong> Justiça<br />
(DOJ) dos Estados Unidos sobre cinco<br />
gran<strong>de</strong>s holdings do setor - Omnicom, Publicis<br />
Groupe, WPP, IPG e MDC Partners<br />
-, a respeito <strong>de</strong> manterem práticas pouco<br />
recomendáveis <strong>de</strong> “empurrar” empresas<br />
<strong>de</strong> produção por elas controladas para os<br />
clientes das agências que estão nas re<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> sua proprieda<strong>de</strong>.<br />
Como o DOJ conclui que as <strong>de</strong>núncias<br />
não tinham fundamento, Marla rompeu o<br />
silêncio que manteve durante as investigações<br />
e aproveitou tanto para reclamar da<br />
onda <strong>de</strong> reclamações <strong>de</strong> clientes, veículos<br />
e outros tipos <strong>de</strong> competidores a respeito<br />
da “longa” lista <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiências das agências<br />
como para instá-las a se posicionarem<br />
<strong>de</strong> forma mais institucional, ativa e coletiva<br />
sobre seus predicados e sua relevância<br />
no setor, especialmente o valor que geram<br />
para as marcas que administram e as empresas<br />
anunciantes a que servem, além<br />
da própria contribuição ao ecossistema do<br />
mercado publicitário.<br />
De fato, essas questões não se limitam<br />
ao mercado americano, são praticamente<br />
universais, sem <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> fora o Brasil,<br />
evi<strong>de</strong>ntemente. Empresas que concorrem<br />
indiretamente com elas, anunciantes, a<br />
mídia especializada e as próprias agências<br />
não se cansam <strong>de</strong> apontar <strong>de</strong>feitos e ina<strong>de</strong>quações<br />
conceituais e operacionais <strong>de</strong>las.<br />
Na outra mão, a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong>las é feita pela<br />
promoção <strong>de</strong> suas peculiarida<strong>de</strong>s, premiações,<br />
vantagens sobre as <strong>de</strong>mais e todo o<br />
tipo que faz cada uma ser distinta <strong>de</strong> todas<br />
as outras. Pouco se fala das características<br />
e benefícios comuns ao conjunto das<br />
agências. Falta tanto esprit <strong>de</strong> corps para a<br />
categoria como a visão estratégica <strong>de</strong> que,<br />
quanto maior for o valor coletivo do conjunto<br />
das agências, mais fácil será a promoção<br />
<strong>de</strong> suas individualida<strong>de</strong>s e a valoração<br />
<strong>de</strong> cada uma.<br />
Nem sempre foi assim, é claro, pois durante<br />
décadas a união entre as agências foi<br />
maior e o trabalho <strong>de</strong> propagação e promoção<br />
<strong>de</strong> sua função no setor publicitário, feito<br />
com voz mais ativa e positiva.<br />
Nas palavras <strong>de</strong> Marla, que a rigor se<br />
aplicam em todos os mercados, “as agências<br />
precisam dizer ‘não’. Elas não <strong>de</strong>vem<br />
ser obrigadas a receber em 120 ou 180 dias,<br />
pois têm pessoas para pagar, tecnologias<br />
nas quais <strong>de</strong>vem investir e há muito trabalho<br />
que precisa ser feito. Temos, então um<br />
gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio: assegurar que elas sejam<br />
valorizadas pelo que prestam e pelas pessoas<br />
que empregam”.<br />
As agências não são perfeitas e têm sua<br />
dose <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiências, <strong>de</strong> <strong>de</strong>feitos e até alguns<br />
pecados. Mas, a rigor, todos do setor<br />
publicitário também têm, incluindo os<br />
clientes-anunciantes.<br />
O que elas não <strong>de</strong>vem é apanhar caladas,<br />
sem maiores reações, inclusive, e principalmente,<br />
coletivas. E muito menos <strong>de</strong>vem<br />
continuar agindo como avestruzes, fazendo<br />
que não estavam vendo o perigo; ou como<br />
hienas, que ficam rindo da <strong>de</strong>sgraça das<br />
companheiras.<br />
As agências são essenciais para a prosperida<strong>de</strong><br />
do ecossistema do mercado publicitário,<br />
começando pela sua contribuição <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong> mérito para construir o valor das<br />
marcas e os negócios dos clientes, para maximizar<br />
o efeito da mídia veiculando publicida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> maior eficiência e eficácia e até<br />
para reconhecer o <strong>de</strong>vido valor ao setor <strong>de</strong><br />
produção, que só chegou ao elevado padrão<br />
que tem hoje pela influência qualitativa recebida<br />
das agências.<br />
Rafael Sampaio é consultor em propaganda<br />
rafael.sampaio@uol.com.br<br />
34 <strong>24</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> <strong>2018</strong> - jornal propmark