Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
última página<br />
IvelinRadkov/iStock<br />
mais amor,<br />
por favor<br />
cLAUDIA PenteADo<br />
Dia <strong>de</strong>sses, ouvindo o episódio do podcast<br />
Na Salinha, no qual o Daniel Oksenberg<br />
conversa com o uber diretor Fernando<br />
Meirelles, achei especialmente interessante<br />
seu relato sobre trabalhar com Fabio<br />
Fernan<strong>de</strong>s. Fernando diz que ele foi um<br />
dos únicos diretores <strong>de</strong> criação com quem<br />
teve dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalhar.<br />
“Ele sabia exatamente o que queria”,<br />
disse ele, que gosta <strong>de</strong> contribuir com<br />
i<strong>de</strong>ias nos jobs em que trabalha. Com Fabinho<br />
não dava: suas sugestões<br />
batiam na trave. Por acaso, naquela<br />
semana, o mercado vivia<br />
a ressaca do anúncio da saída do<br />
Fabio da F/Nazca, agência que<br />
fundou e, segundo <strong>de</strong>sabafou<br />
publicamente, da qual não tinha<br />
planos <strong>de</strong> sair tão cedo. Eu vinha<br />
refletindo sobre a sua saída<br />
e tentando encontrar uma lógica<br />
que o conectasse a outras saídas<br />
<strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong> seu calibre <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong>s agências, mania <strong>de</strong> jornalista<br />
que procura tendências<br />
e padrões nos acontecimentos. Para ligar<br />
os pontos, como dizia Steve Jobs, porque<br />
a vida é, afinal <strong>de</strong> contas, uma sucessão <strong>de</strong><br />
acontecimentos conectados em re<strong>de</strong>.<br />
Dá para ligar alguns pontos - consi<strong>de</strong>rando<br />
a disrupção que se instalou no mercado<br />
da publicida<strong>de</strong>, o jeito hoje fragmentado e<br />
menos autoral <strong>de</strong> fazer as coisas, a cada vez<br />
menos frequente realização <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s filmes<br />
publicitários, o downsizing das agências,<br />
o downsizing dos próprios trabalhos<br />
(cada vez mais efêmeros e menos épicos),<br />
o fim da era dos gran<strong>de</strong>s criativos em conexão<br />
direta e olho no olho com CEOs e super<br />
CMOs nos clientes, criativos estes que eram<br />
donos <strong>de</strong> seus negócios, dos seus narizes e<br />
do conteúdo que produziam <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa<br />
“Dá para<br />
ligar alguns<br />
pontos -<br />
consiDeranDo<br />
a Disrupção<br />
que se<br />
instalou no<br />
mercaDo Da<br />
publiciDaDe”<br />
- cases completos que dominavam, criativamente,<br />
a narrativa <strong>de</strong> tantas marcas, gerando<br />
valor, e sendo valorizadas por isso.<br />
Washington Olivetto, uma <strong>de</strong>ssas mentes<br />
brilhantes que rendiam belas histórias<br />
quando comecei a escrever sobre propaganda,<br />
resumiu a sensação que me causava<br />
o maior incômodo naquele momento: “nenhuma<br />
agência do mundo po<strong>de</strong> abrir mão<br />
<strong>de</strong> um talento como o Fabio Fernan<strong>de</strong>s”.<br />
Quando o Grupo Publicis escolhe abrir<br />
mão <strong>de</strong> um talento como ele, faz um statement<br />
muito importante para a<br />
indústria como um todo, pois<br />
abre mão <strong>de</strong> uma pessoa que<br />
- in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> qualquer<br />
coisa - é uma mente criativa<br />
inquestionavelmente especial<br />
que nutre por esse business,<br />
o <strong>de</strong> construir gran<strong>de</strong>s marcas,<br />
um amor incondicional.<br />
É este amor pelo fazer que<br />
me causa cada vez mais nostalgia,<br />
no universo em que eu surfo<br />
hoje, e é também o que mais<br />
escancaradamente conecta nomes como<br />
Fabio Fernan<strong>de</strong>s, Marcello Serpa e Washington<br />
Olivetto. Pessoas que cuidaram <strong>de</strong><br />
cada trabalho para marcas - sejam <strong>de</strong> cerveja,<br />
chinelo ou lã <strong>de</strong> aço - com o carinho <strong>de</strong><br />
quem cuida <strong>de</strong> um filho.<br />
Na segunda edição do livro do Olivetto,<br />
que acabou <strong>de</strong> sair, ele lista algumas frases<br />
que Bill Bernbach disse há mais <strong>de</strong> 60<br />
anos e, em sua opinião, continuam atuais.<br />
Esta me chamou especialmente a atenção:<br />
“A chama criativa é algo que uma agência<br />
<strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> não po<strong>de</strong> per<strong>de</strong>r. Nada <strong>de</strong><br />
acadêmicos. Nada <strong>de</strong> cientistas. Nada <strong>de</strong><br />
pessoas fazendo tudo certo. Fundamental<br />
é gente que faça as coisas com inspiração”.<br />
Como o Fabinho.<br />
66 <strong>19</strong> <strong>de</strong> <strong>agosto</strong> <strong>de</strong> 20<strong>19</strong> - jornal propmark