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edição de 19 de agosto de 2019

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última página<br />

IvelinRadkov/iStock<br />

mais amor,<br />

por favor<br />

cLAUDIA PenteADo<br />

Dia <strong>de</strong>sses, ouvindo o episódio do podcast<br />

Na Salinha, no qual o Daniel Oksenberg<br />

conversa com o uber diretor Fernando<br />

Meirelles, achei especialmente interessante<br />

seu relato sobre trabalhar com Fabio<br />

Fernan<strong>de</strong>s. Fernando diz que ele foi um<br />

dos únicos diretores <strong>de</strong> criação com quem<br />

teve dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalhar.<br />

“Ele sabia exatamente o que queria”,<br />

disse ele, que gosta <strong>de</strong> contribuir com<br />

i<strong>de</strong>ias nos jobs em que trabalha. Com Fabinho<br />

não dava: suas sugestões<br />

batiam na trave. Por acaso, naquela<br />

semana, o mercado vivia<br />

a ressaca do anúncio da saída do<br />

Fabio da F/Nazca, agência que<br />

fundou e, segundo <strong>de</strong>sabafou<br />

publicamente, da qual não tinha<br />

planos <strong>de</strong> sair tão cedo. Eu vinha<br />

refletindo sobre a sua saída<br />

e tentando encontrar uma lógica<br />

que o conectasse a outras saídas<br />

<strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong> seu calibre <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong>s agências, mania <strong>de</strong> jornalista<br />

que procura tendências<br />

e padrões nos acontecimentos. Para ligar<br />

os pontos, como dizia Steve Jobs, porque<br />

a vida é, afinal <strong>de</strong> contas, uma sucessão <strong>de</strong><br />

acontecimentos conectados em re<strong>de</strong>.<br />

Dá para ligar alguns pontos - consi<strong>de</strong>rando<br />

a disrupção que se instalou no mercado<br />

da publicida<strong>de</strong>, o jeito hoje fragmentado e<br />

menos autoral <strong>de</strong> fazer as coisas, a cada vez<br />

menos frequente realização <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s filmes<br />

publicitários, o downsizing das agências,<br />

o downsizing dos próprios trabalhos<br />

(cada vez mais efêmeros e menos épicos),<br />

o fim da era dos gran<strong>de</strong>s criativos em conexão<br />

direta e olho no olho com CEOs e super<br />

CMOs nos clientes, criativos estes que eram<br />

donos <strong>de</strong> seus negócios, dos seus narizes e<br />

do conteúdo que produziam <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa<br />

“Dá para<br />

ligar alguns<br />

pontos -<br />

consiDeranDo<br />

a Disrupção<br />

que se<br />

instalou no<br />

mercaDo Da<br />

publiciDaDe”<br />

- cases completos que dominavam, criativamente,<br />

a narrativa <strong>de</strong> tantas marcas, gerando<br />

valor, e sendo valorizadas por isso.<br />

Washington Olivetto, uma <strong>de</strong>ssas mentes<br />

brilhantes que rendiam belas histórias<br />

quando comecei a escrever sobre propaganda,<br />

resumiu a sensação que me causava<br />

o maior incômodo naquele momento: “nenhuma<br />

agência do mundo po<strong>de</strong> abrir mão<br />

<strong>de</strong> um talento como o Fabio Fernan<strong>de</strong>s”.<br />

Quando o Grupo Publicis escolhe abrir<br />

mão <strong>de</strong> um talento como ele, faz um statement<br />

muito importante para a<br />

indústria como um todo, pois<br />

abre mão <strong>de</strong> uma pessoa que<br />

- in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> qualquer<br />

coisa - é uma mente criativa<br />

inquestionavelmente especial<br />

que nutre por esse business,<br />

o <strong>de</strong> construir gran<strong>de</strong>s marcas,<br />

um amor incondicional.<br />

É este amor pelo fazer que<br />

me causa cada vez mais nostalgia,<br />

no universo em que eu surfo<br />

hoje, e é também o que mais<br />

escancaradamente conecta nomes como<br />

Fabio Fernan<strong>de</strong>s, Marcello Serpa e Washington<br />

Olivetto. Pessoas que cuidaram <strong>de</strong><br />

cada trabalho para marcas - sejam <strong>de</strong> cerveja,<br />

chinelo ou lã <strong>de</strong> aço - com o carinho <strong>de</strong><br />

quem cuida <strong>de</strong> um filho.<br />

Na segunda edição do livro do Olivetto,<br />

que acabou <strong>de</strong> sair, ele lista algumas frases<br />

que Bill Bernbach disse há mais <strong>de</strong> 60<br />

anos e, em sua opinião, continuam atuais.<br />

Esta me chamou especialmente a atenção:<br />

“A chama criativa é algo que uma agência<br />

<strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> não po<strong>de</strong> per<strong>de</strong>r. Nada <strong>de</strong><br />

acadêmicos. Nada <strong>de</strong> cientistas. Nada <strong>de</strong><br />

pessoas fazendo tudo certo. Fundamental<br />

é gente que faça as coisas com inspiração”.<br />

Como o Fabinho.<br />

66 <strong>19</strong> <strong>de</strong> <strong>agosto</strong> <strong>de</strong> 20<strong>19</strong> - jornal propmark

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