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skynesher/iStock<br />
Síndrome<br />
<strong>de</strong> Chester<br />
“Muitas vezes, mentira é uma<br />
verda<strong>de</strong> pessimamente contada”.<br />
Fralber Saidam<br />
Francisco alberto Madia <strong>de</strong> souza<br />
Você sabe o que é? Lá atrás, durante alguns<br />
anos, repetia-se a mesma cena no<br />
Natal. Na Sadia, quando ainda não moravam<br />
numa mesma casa chamada BRF, era alegria<br />
só. Na Perdigão, um clima <strong>de</strong> velório. A Sadia<br />
tinha o peru! E reinava no mês <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro<br />
e nos lares brasileiros com o seu mais que famoso<br />
e reputado Peru Sadia, claro, tendo na<br />
sequência, como sobremesa ou para acompanhar<br />
o café, o panetone da Bauducco. E<br />
assim seguiam os natais brasileiros.<br />
Num dia, cansado das lamurias natalinas,<br />
Saul Brandalise Jr. <strong>de</strong>cidiu buscar uma alternativa.<br />
Dentre seus técnicos escolheu os<br />
dois melhores e mandou dar uma varrida no<br />
que <strong>de</strong> mais revolucionário existisse no território<br />
das penosas, nos Estados Unidos.<br />
viu um chester vivo?” Será que no Natal que<br />
se aproxima as empresas voltarão a jurar que<br />
é <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, que não é um frango ciborgue?<br />
Pior ainda, além das dúvidas, diante das<br />
proezas <strong>de</strong> qualquer outro produto <strong>de</strong> outra<br />
categoria qualquer, vão logo dizendo, “esse<br />
aí é um chester...”. Virou <strong>de</strong>signação genérica<br />
<strong>de</strong> trambique.<br />
Pegou! Todas as vezes que um produto<br />
oferece vantagens e argumentos <strong>de</strong>sproporcionais,<br />
que colocam as pessoas na retranca,<br />
costuma-se batizar essa patologia como Síndrome<br />
<strong>de</strong> Chester. Que é o que ocorre, repito,<br />
com a ave chester, agora exclusivida<strong>de</strong> da<br />
BRF, em todos os fins <strong>de</strong> ano. Até hoje, e não<br />
obstante todas as campanhas, as pessoas<br />
continuam não acreditando no que veem e<br />
têm certeza tratar-se <strong>de</strong> um frango bombado,<br />
anabolizado, à base da química.<br />
No bagageiro dos aviões da Varig trouxeram<br />
11 linhagens da galinha escocesa, imediatamente<br />
internalizadas na avícola Passo<br />
da Felicida<strong>de</strong>, em Tangará, interior <strong>de</strong> Santa<br />
Catarina. Tudo sob o maior sigilo. E em meio<br />
a uma reserva <strong>de</strong> araucárias. Três anos <strong>de</strong><br />
pesquisas, simulações, testes e mais testes...<br />
No Natal <strong>de</strong> <strong>19</strong>82, <strong>de</strong>butou o Chester – <strong>de</strong><br />
peito – da Perdigão. Uma espécie <strong>de</strong> Jojo Todinho<br />
da época. Mais adiante copiado pela<br />
Sadia, hoje as duas moram numa mesma casa<br />
e empresa.<br />
Agora, em dupla, insistem em dizer que<br />
não se trata <strong>de</strong> frangos anabolizados. O segredo<br />
está exclusivamente na alimentação.<br />
Criados à base <strong>de</strong> milho e soja evitando ao<br />
máximo a presença <strong>de</strong> gordura. Mais peso<br />
e menos gordura. Porém, como a Perdigão<br />
fraquejou na comunicação no lançamento...<br />
Até hoje as pessoas continuam não acreditando<br />
na mágica.<br />
E multiplicam-se as indagações. “Você já<br />
E aí volta a BRF, como acabou <strong>de</strong> fazer<br />
no Natal passado, com campanha publicitária<br />
tentando <strong>de</strong>smistificar, recordando<br />
a origem da ave, e que não usa compostos<br />
químicos nenhum. Mas, não adianta. Em<br />
situações como essa ou se planta certo no<br />
início ou torna-se praticamente impossível<br />
corrigir. Pior que não comunicar é comunicar<br />
errado.<br />
A Perdigão errou no lançamento, a Sadia<br />
piorou, e agora, mesma empresa que são,<br />
pagam por uma comunicação inicial incompetente.<br />
Praticamente impossível fazer as<br />
pessoas acreditarem que o bonitão Chester<br />
não é <strong>de</strong> plástico e nem siliconado. Todos<br />
repetem que o chester é o rei do botox! Lembra<br />
do Chacrinha? “Quem não se comunica,<br />
se trumbica?”. Pois é, quem se comunica <strong>de</strong><br />
forma incompleta, superficial, negligente<br />
e irresponsável, alimenta lendas. E, assim,<br />
não tem do que reclamar. Quando o milagre<br />
é <strong>de</strong>mais, e mal contado no início, nem<br />
o santo acredita. O que dizer-se então, das<br />
pessoas comuns?<br />
Francisco Alberto Madia <strong>de</strong> Souza<br />
é consultor <strong>de</strong> marketing<br />
famadia@madiamm.com.br<br />
32 <strong>19</strong> <strong>de</strong> <strong>agosto</strong> <strong>de</strong> 20<strong>19</strong> - jornal propmark