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marketing & negócios<br />
Antonio Gravante/iStock<br />
Fluxos e refluxos<br />
- Parte 2<br />
Depois da onda do digital, o refluxo será<br />
li<strong>de</strong>rado pela TV, que <strong>de</strong>verá refortalecer<br />
a publicida<strong>de</strong> e sua ca<strong>de</strong>ia produtiva<br />
Rafael Sampaio<br />
Voltando ao tema da coluna anterior, dos<br />
fluxos e refluxos do mercado, é importante<br />
registrar que o tsunami digital sinaliza<br />
que a fase do entusiasmo irracional está<br />
terminando e uma etapa <strong>de</strong> mais racionalida<strong>de</strong><br />
se inicia, com o resgate <strong>de</strong> algumas<br />
soluções que jamais <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> ter força,<br />
mas foram menosprezadas por parte dos<br />
anunciantes e agências.<br />
Usando a referência do mercado publicitário<br />
americano, po<strong>de</strong>mos observar que<br />
o ponto <strong>de</strong> inflexão foi a década <strong>de</strong> <strong>19</strong>60 e<br />
<strong>19</strong>70, quando a TV aberta passou a dominar<br />
a publicida<strong>de</strong> e a gerar riquezas <strong>de</strong> monta,<br />
não só para esta mídia, mas para as agências<br />
e o campo da produção. O negócio movimentava<br />
US$ 11,9 bilhões em <strong>19</strong>60 e passou<br />
para US$ 53,6 bi em <strong>19</strong>80.<br />
Melhor ainda para o ecossistema da publicida<strong>de</strong>,<br />
a TV passou a oferecer maiores<br />
resultados em termos <strong>de</strong> fortalecimento<br />
da marca e ativação <strong>de</strong> negócios, alimentando<br />
o ciclo virtuoso dos investimentos<br />
em mídia dos anunciantes. E a expansão<br />
da TV não ocorreu à custa da redução da<br />
receita das <strong>de</strong>mais mídias. Recentemente,<br />
além da concentração no duopólio<br />
Google e Facebook, houve a entrada das<br />
martechs, que estão retirando mais recursos<br />
do sistema do que contribuindo para<br />
sua receita, e o câncer das frau<strong>de</strong>s, que leva<br />
investimentos dos anunciantes para a<br />
caixa-preta do nada.<br />
Além da redução do ritmo <strong>de</strong> expansão<br />
do digital, que ainda se beneficia da inércia<br />
recente, temos, como registrado na<br />
última coluna, uma reativação do rádio,<br />
do OOH e do cinema, além <strong>de</strong> sinais <strong>de</strong><br />
que a TV não apenas está segurando sua<br />
posição, mas dá sinais <strong>de</strong> reversão da sua<br />
curva <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte. Em nosso negócio, o<br />
dinheiro segue o nível <strong>de</strong> consumo das<br />
mídias, ou seja, a audiência que motiva<br />
os anunciantes a colocarem seus recursos<br />
na perspectiva <strong>de</strong> obterem resultados<br />
comerciais.<br />
A audiência da TV registra gran<strong>de</strong> vitalida<strong>de</strong>,<br />
lembrando que não se trata apenas<br />
<strong>de</strong> seu core, a programação linear da live<br />
TV, que ainda domina, <strong>de</strong> longe, o share<br />
of vi<strong>de</strong>o dos consumidores nos Estados<br />
Unidos, Reino Unido e, principalmente,<br />
no Brasil (e também na maioria dos mercados<br />
ao redor do planeta). Um dado recente,<br />
<strong>de</strong> junho agora, foi gerado pela Comcast,<br />
a maior operadora <strong>de</strong> TV a cabo do mundo,<br />
que contabilizou um crescimento, nos<br />
EUA, da TV aberta, agora consumida, juntando<br />
live e on <strong>de</strong>mand, por 6h25m diárias<br />
em cada domicílio - uma expansão <strong>de</strong> 20<br />
minutos por dia no ano <strong>de</strong> 2018.<br />
Outro sinal é a guerra pelo streaming,<br />
pois todos os big players estão sentindo<br />
cheiro <strong>de</strong> expansão <strong>de</strong> audiência com esse<br />
formato, inclusive do AdVOD (on <strong>de</strong>mand<br />
com publicida<strong>de</strong>). Estamos falando da<br />
Netflix, mas também da Hulu (negócio da<br />
Comcast, Fox e Disney, agora controlada<br />
por esta última), da Amazon, do sistema<br />
HBO (Time Warner, hoje da AT&T), das <strong>de</strong>mais<br />
re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> TV americanas e britânicas e<br />
<strong>de</strong> outros concorrentes <strong>de</strong> peso pelo mundo,<br />
como a Globoplay.<br />
No Reino Unido, houve redução do consumo<br />
<strong>de</strong> TV <strong>de</strong> 2017 para 2018, mas a distância<br />
<strong>de</strong>sse meio para o streaming e o You-<br />
Tube permanece enorme. No ano, a média<br />
<strong>de</strong> minutos consumidos por dia na TV tradicional<br />
foi <strong>de</strong> <strong>19</strong>2 minutos, contra 26 do<br />
streaming e 34 do YouTube. Nos Estados<br />
Unidos, o VAB fez uma análise da audiência<br />
total da TV em relação ao meio digital<br />
e chegou a dados impressionantes, fazendo<br />
uma consolidação das informações referentes<br />
a junho <strong>de</strong> 20<strong>19</strong>.<br />
Na população acima <strong>de</strong> 18 anos, a audiência<br />
média dos canais <strong>de</strong> TV por minuto<br />
(incluindo sua “transmissão” online) é <strong>de</strong><br />
31,4 milhões <strong>de</strong> pessoas, contra 15,8 milhões<br />
da soma dos <strong>de</strong>z digitais <strong>de</strong> maior<br />
audiência que vêm em seguida. São claros<br />
os sinais <strong>de</strong> que o refluxo da publicida<strong>de</strong> se<br />
inicia e a TV, uma vez mais, será uma das<br />
forças dominantes <strong>de</strong>sse movimento.<br />
Rafael Sampaio é consultor em propaganda<br />
rafaelsampaio103@gmail.com<br />
jornal propmark - <strong>19</strong> <strong>de</strong> <strong>agosto</strong> <strong>de</strong> 20<strong>19</strong> 63