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EXAME Abril 2020

Nesta edição analisamos o impacto da crise provocada pelo Covid 19 a nível global, no continente africano e em Moçambique, recorrendo à opinião de diversos especialistas. Mas não só. Procuramos também opiniões de como sair dela. A secção Inovação apresenta um conjunto de iniciativas que se estão a desenvolver para o ataque a este vírus. E a resposta só pode vir da inovação.

Nesta edição analisamos o impacto da crise provocada pelo Covid 19 a nível global, no continente africano e em Moçambique, recorrendo à opinião de diversos especialistas. Mas não só. Procuramos também opiniões de como sair dela.
A secção Inovação apresenta um conjunto de iniciativas que se estão a desenvolver para o ataque a este vírus. E a resposta só pode vir da inovação.

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CAPA PANDEMIA<br />

O VÍRUS QUE DEVOROU <strong>2020</strong><br />

O coronavírus deve o nome ao seu aspecto. Ao microscópio<br />

parece ser emoldurado por uma coroa. O novo vírus, que provoca<br />

a doença COVID-19, espalha-se a uma velocidade digital. Para se<br />

ter uma ideia, basta dizer que o vírus do SARS, o seu mais perigoso<br />

antecessor, demorou 130 dias a infectar as primeiras mil pessoas.<br />

O novo coronavírus só precisou de 48 dias para o fazer. Menos<br />

letal que os seus antecessores mais imediatos, é muito mais veloz<br />

e agressivo, contagiando muito mais pessoas e acabando por saldar-se<br />

num elevado número de mortos. Os sintomas da doença<br />

são idênticos aos da gripe comum, consistindo em febre elevada,<br />

dificuldades respiratórias e tosse seca. E vão-se acrescentando<br />

outros, como a perda de olfacto e paladar. Acontece que, até<br />

os sintomas se revelarem, tanto quanto se sabe podem passar-<br />

-se entre 2 a 14 dias. Ou seja, qualquer pessoa, ainda que “assintomática”<br />

pode contagiar, até se saber que é portadora do vírus,<br />

as outras com quem se cruza ao longo de…14 dias. A experiência<br />

dos países que mais recorreram a testes da doença mostram que<br />

70% dos infectados são contagiados por aqueles que não apresentam<br />

sintomas, os assintomáticos.<br />

Trata-se de uma infecção respiratória, em que o grau de mortalidade,<br />

a taxa de letalidade, aumenta com a idade, matando mesmo<br />

cerca de 15% dos infectados nas idades superiores a 70 anos. Pode<br />

alojar-se só no nariz e na garganta nos casos mais benignos, ou<br />

infiltrar-se também nos pulmões, gerando pneumonias, colapsos<br />

cardíacos e falência renal. Transmite-se directamente através de<br />

gotículas emitidas pela pessoa infectada e propaga-se também<br />

através das superfícies, mas ainda há muitas interrogações sobre<br />

a progressão do vírus. Dentro do corpo hospedeiro o vírus apodera-se<br />

do sistema natural das células para replicar-se. Já existem<br />

duas variantes do novo vírus e poderão vir a ocorrer novas mutações.<br />

Uma possibilidade terrível, notando os especialistas que a<br />

doença apresenta taxas de letalidade diferentes nas primeiras<br />

regiões mais atingidas: China, Itália e Irão.<br />

Sendo um vírus desconhecido, o organismo humano<br />

não possui anticorpos que se lhe oponham,<br />

ao contrário do que acontece com a<br />

gripe. Numa corrida sem precedentes<br />

a ciência já decifrou o genoma<br />

do vírus, descobriu como este<br />

invade o organismo (disfarçado<br />

de proteína) e anuncia-se que<br />

vai ser obtida uma vacina em<br />

tempo recorde. O último anúncio<br />

veio do potentado farmacêutico<br />

Johnson & Johnson, que estará<br />

em condições de disponibilizar uma<br />

vacina no início de 2021.<br />

sobretudo os dois maiores, Arábia Saudita e Rússia.<br />

Esperava-se, entretanto, que mais uma vez os<br />

dois grandes produtores da matéria-prima, a Arábia<br />

Saudita e a Rússia (desde a última crise petrolífera,<br />

esta e mais nove países passaram a conjugar esforços<br />

com a Organização dos Países Exportadores de<br />

Petróleo — OPEP), chegassem novamente a acordo.<br />

Os sauditas propunham que se retirassem do mercado<br />

mais 1,5 milhões de barris diariamente até ao<br />

final do ano. Surpreendentemente, ou não, os russos<br />

não estiveram pelos ajustes e a Arábia Saudita<br />

tomou a iniciativa de jorrar petróleo no mercado<br />

e fazer mesmo descontos nas vendas mais imediatas.<br />

O objectivo da Rússia será “levar ao tapete” a<br />

produção de petróleo extraído do xisto nos Estados<br />

Unidos, que garante ao país a sua autonomia energética,<br />

como Donald Trump não se cansa de repetir.<br />

A ironia é que, no passado recente, foi a Arábia Saudita<br />

a assumir a audácia de neutralizar a produção<br />

norte-americana e tudo acabou, face à persistente<br />

baixa do preço, na frente alargada constituída pela<br />

OPEP e outros dez grandes produtores não alinhados<br />

na organização. A 9 de Março, na abertura do<br />

mercado asiático, o nervosismo provocou, em poucas<br />

horas, uma queda de 30% na cotação da matéria-prima,<br />

só equiparável à verificada aquando da<br />

Guerra do Golfo. Dissiparam-se muitas nuvens de<br />

poluição no céu da China e o maior cliente mundial<br />

vai importar menos petróleo. No dia 9 de Março<br />

o preço do barril de Brent desceu ao patamar dos<br />

35 dólares, o que mostra como um vírus desconhecido<br />

e veloz amedronta os mercados e faz vir<br />

ao de cima as tensões nele existentes e mal resolvidas.<br />

Mas o pior ainda estava para vir, a expressão<br />

mais utilizada a propósito da progressão deste<br />

vírus, com os futuros de Brent a descerem para a<br />

casa dos 20 dólares por barril, o que constitui um<br />

rombo nos países exportadores da matéria-prima<br />

e que vivem das receitas que obtêm com esta para<br />

equilibrarem os balanços fiscais, assim como imobiliza<br />

a produção norte-americana de óleo e gás a<br />

partir da fragmentação do xisto, já de si altamente<br />

endividada, comprometendo a autonomia energética<br />

de que os Estados Unidos tanto se orgulham<br />

de ter alcançado.<br />

As bolsas entraram em pânico, evoluindo erraticamente,<br />

mas deixando sempre um lastro de<br />

enorme descapitalização das empresas cotadas e<br />

corrigindo, para muitos, numa visão que adopta o<br />

optimismo possível, a espiral especulativa em que<br />

se encontravam. A 9 de Março os principais índices<br />

de Wall Street caíram 7% e o Dow Jones caiu<br />

2 mil pontos, a que terá sido a sua maior quebra diá-

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