EXAME Abril 2020
Nesta edição analisamos o impacto da crise provocada pelo Covid 19 a nível global, no continente africano e em Moçambique, recorrendo à opinião de diversos especialistas. Mas não só. Procuramos também opiniões de como sair dela. A secção Inovação apresenta um conjunto de iniciativas que se estão a desenvolver para o ataque a este vírus. E a resposta só pode vir da inovação.
Nesta edição analisamos o impacto da crise provocada pelo Covid 19 a nível global, no continente africano e em Moçambique, recorrendo à opinião de diversos especialistas. Mas não só. Procuramos também opiniões de como sair dela.
A secção Inovação apresenta um conjunto de iniciativas que se estão a desenvolver para o ataque a este vírus. E a resposta só pode vir da inovação.
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ECONOMIA IDAI UM ANO DEPOIS<br />
CONSTRUIR MELHOR:<br />
A habitação de Bill<br />
Malissane é um exemplo<br />
de construção mais<br />
resiliente<br />
sempre melhor que os locais de origem<br />
de quem acolhe, oriundos de bairros de<br />
lata e zonas de risco.<br />
AINDA NÃO É O CENÁRIO IDEAL<br />
“Estou melhor, aqui é o meu espaço, não<br />
estou a pagar renda”, conta Rabica Andrade<br />
no reassentamento de Mandruzi, onde<br />
integra um grupo de mulheres que produzem<br />
tapetes — uma das actividades<br />
de rendimento dinamizadas pelas organizações<br />
que estão a apoiar a consolidação<br />
destas novas aldeias. Mas são espaço<br />
aonde ainda há muito por fazer, diz Mira<br />
Vilanculo em Mutua. “Estamos a chorar<br />
por energia e por um mercado” onde se<br />
possa ter “outro caril”, ou seja, produtos<br />
e ingredientes que complementem a ajuda<br />
alimentar humanitária, baseada em arroz<br />
e milho. “Com um mercado podíamos<br />
ter um repolho ou uma banana, laranja<br />
ou tangerina”, que para já ficam só na<br />
ementa de sonho.<br />
Nas áreas de reassentamento é comum<br />
haver a ambição de construir uma boa<br />
casa porque as actuais, quando já não são<br />
tendas, ainda misturam lonas e caniço,<br />
barro e pedaços de madeira, finas coberturas<br />
de zinco, à vista, nada que imponha<br />
respeito a uma tempestade. Já se fazem<br />
testes e divulgação de técnicas de construção<br />
resilientes. A habitação de Bill Malissane,<br />
na vila de Dondo, ficou a céu aberto<br />
durante o ciclone Idai é uma das casas-<br />
-piloto da ONU-Habitat para demonstrar<br />
técnicas de reconstrução resiliente.<br />
“Aqui vivem oito pessoas”, refere, ao mostrar<br />
as técnicas de construção usadas para<br />
reforçar a cobertura. O título numa das<br />
paredes, “Casa Amor de God”, também<br />
reflecte esperança nos princípios de Building<br />
Back Better (BBB), ou seja, voltar a<br />
construir melhor. Mas ainda é uma excepção<br />
e a maioria das que se fazem continua<br />
a ser precária.<br />
Num “cenário ideal” todos deviam ter<br />
“uma boa casa, mas estamos em Moçambique,<br />
um dos países mais pobres em<br />
África. São necessários muitos recursos”<br />
que não estão disponíveis, resume Ghulam<br />
Sherani. “Por isso, tentamos fazer o<br />
melhor possível com os recursos disponíveis<br />
para estas pessoas recomeçarem<br />
as suas vidas”, conclui. Um ano depois,<br />
estar longe de zonas de risco de inundação<br />
e fixar residência em zonas seguras é<br />
o primeiro (e único) passo, a reconstrução<br />
de sonho poderá vir a seguir.<br />
O período chuvoso de 2018/2019 foi<br />
dos mais severos de que há memória em<br />
Moçambique: 714 pessoas morreram,<br />
incluindo 648 vítimas de dois ciclones (Idai<br />
e Kenneth) que se abateram sobre Moçambique.<br />
O ciclone Idai atingiu o Centro de<br />
Moçambique em Março, provocou 603<br />
mortos e a cidade da Beira, uma das principais<br />
do país, foi severamente afectada.<br />
O ciclone Kenneth, que se abateu sobre o<br />
Norte do país em <strong>Abril</strong>, matou 45 pessoas. b<br />
* Serviço especial da Lusa para a <strong>EXAME</strong> Moçambique.<br />
60 | Exame Moçambique