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edição de 29 de junho de 2020

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entrevista<br />

Fernando Machado<br />

CMO global do Burger King<br />

Faça a diFerença<br />

priMeiro na<br />

sua casa, <strong>de</strong>pois<br />

no Mundo<br />

O<br />

brasileiro Fernando Machado tem se<br />

<strong>de</strong>dicado a uma tarefa complexa nos<br />

últimos anos: cuidar para que a linguagem<br />

irreverente e a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do Burger King<br />

permaneçam unificadas globalmente, respeitando,<br />

claro, mercados tão distintos como Brasil ou<br />

Indonésia. A criativida<strong>de</strong> orientou esse trabalho,<br />

que foi reconhecido inúmeras vezes por gran<strong>de</strong>s<br />

festivais. Em 2019, foram três GPs em Cannes. Agora,<br />

em <strong>2020</strong>, acaba <strong>de</strong> ser eleito o Anunciante do Ano<br />

no One Show. Mas por trás da excelência criativa<br />

está algo muito mais essencial: o espírito coletivo <strong>de</strong><br />

sua equipe. Na entrevista a seguir, o executivo fala<br />

sobre posicionamento <strong>de</strong> marca, propósito e como<br />

contribuir para a igualda<strong>de</strong> racial começando com<br />

ações <strong>de</strong>ntro da própria companhia.<br />

Danúbia Paraizo<br />

Em seu perfil no Twitter, você comentou<br />

que, em vez <strong>de</strong> receber briefings<br />

para campanhas em apoio às<br />

comunida<strong>de</strong>s negras, seria melhor<br />

ver ações reais <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> no<br />

mercado. Quando o racismo <strong>de</strong>veria<br />

ser pauta para a propaganda?<br />

A luta contra o preconceito é<br />

algo que o Burger King trabalha<br />

há muito tempo. Fizemos progresso<br />

em algumas áreas, como<br />

na comunida<strong>de</strong> LGBTQI+ e na<br />

igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> gêneros, por exemplo.<br />

Não é perfeito, mas evoluímos.<br />

A área racial está um pouco<br />

atrás. Sendo muito honesto, não<br />

vejo tanto a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ida<strong>de</strong><br />

na companhia, e menos ainda <strong>de</strong><br />

cor <strong>de</strong> pele. Justamente por eu<br />

ter essa <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>, e a gente sabe<br />

disso, e tem trabalhado para melhorar,<br />

meu foco <strong>de</strong>ve ser melhorar<br />

essa questão primeiro. Quer<br />

fazer diferença? Faça a diferença<br />

primeiro na sua casa e <strong>de</strong>pois<br />

vai fazer para o mundo. Não dá<br />

para entrar na discussão da “casa<br />

<strong>de</strong> ferreiro, o espeto é <strong>de</strong> pau”.<br />

Quando uma agência, que muitas<br />

vezes nem trabalha com a gente,<br />

me manda uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> campanha<br />

com foco em diversida<strong>de</strong>, e<br />

eu sei que ali as minorias são realmente<br />

minorias, fico um pouco<br />

constrangido. O meu feedback é o<br />

seguinte: antes da i<strong>de</strong>ia, por que<br />

a gente não se une para ter mais<br />

diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro da agência?<br />

Isso está no meu controle. Fazer<br />

uma campanha a mais, enquanto<br />

tem um monte <strong>de</strong> marca já fazendo,<br />

não vai mudar nada. O que eu<br />

posso mudar, e leva tempo para<br />

fazer da forma correta, é ter políticas<br />

<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> na minha<br />

empresa. Diversida<strong>de</strong> é tão importante<br />

que a gente <strong>de</strong>ve focar<br />

em fazer mais do que falar.<br />

Isso significa que assuntos mais<br />

sensíveis, como racismo, ou mesmo<br />

pan<strong>de</strong>mia, não são necessariamente<br />

briefings? Precisam fazer sentido<br />

para não parecer oportunismo ou<br />

lacração?<br />

A pan<strong>de</strong>mia é um pouco diferente<br />

da questão racial. Eu vi pelas<br />

pesquisas que as pessoas estavam<br />

inseguras <strong>de</strong> ir aos nossos<br />

restaurantes por medo <strong>de</strong> contaminação<br />

do vírus. Então, precisávamos<br />

explicar que elas estavam<br />

seguras no Burger King. Depois,<br />

quando fechamos as lojas, fizemos<br />

um briefing <strong>de</strong> campanha<br />

mostrando as facilida<strong>de</strong>s do <strong>de</strong>livery.<br />

Em paralelo, e isso não foi<br />

um briefing, tivemos consciência<br />

social, então fizemos algumas iniciativas<br />

para ajudar a população.<br />

Nunca pedimos ao nosso presi<strong>de</strong>nte<br />

no Brasil, o Iuri Miranda,<br />

que fizesse uma doação ao SUS. A<br />

operação teve a consciência que<br />

era algo importante. Antes <strong>de</strong> fazer<br />

campanha, agimos. Na questão<br />

racial, a única i<strong>de</strong>ia boa para<br />

mim é aquela que vai me ajudar a<br />

aumentar a diversida<strong>de</strong> na minha<br />

empresa, e isso não é necessariamente<br />

uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> comunicação<br />

externa. É aquele velho ditado,<br />

primeiro você anda, <strong>de</strong>pois fala.<br />

Quando as marcas procuram direto<br />

fazer uma campanha contra<br />

o racismo é quase como falar<br />

primeiro e <strong>de</strong>pois andar. Isso, na<br />

maioria dos casos, não faz sentido.<br />

A não ser que a marca tenha<br />

um trabalho <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> forte,<br />

mas, no caso da maioria das empresas,<br />

primeiro as marcas <strong>de</strong>vem<br />

buscar fazer e <strong>de</strong>pois pensar<br />

em comunicação.<br />

O BK sempre teve uma postura <strong>de</strong><br />

levar o consumidor à reflexão, <strong>de</strong><br />

questionar. As marcas estão sendo<br />

mais cobradas a se posicionar?<br />

Quando a pan<strong>de</strong>mia começou,<br />

e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do país, ela atingiu<br />

<strong>de</strong> uma maneira diferente,<br />

as marcas que fizeram o melhor<br />

trabalho foram as que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

começo assumiram a postura <strong>de</strong><br />

ajudar a população. No nosso<br />

caso, como temos um time <strong>de</strong><br />

marketing muito forte em todos<br />

os países-chave, mesmo sem precisar<br />

<strong>de</strong> dar um briefing, ou sugerir<br />

<strong>de</strong> os países tomarem alguma<br />

atitu<strong>de</strong>, todo mundo foi pelo<br />

mesmo caminho: usar a nossa<br />

marca, a força da empresa para<br />

ajudar a população. Nos EUA,<br />

muitas crianças comem nas escolas<br />

e, com elas fechadas, as famílias<br />

tiveram dificulda<strong>de</strong>s porque<br />

mudou a rotina. Vendo isso,<br />

anunciamos que daríamos a refeição<br />

para as crianças. No Brasil,<br />

logo <strong>de</strong> imediato, fizemos uma<br />

doação <strong>de</strong> um milhão <strong>de</strong> reais<br />

para o SUS; na Europa, oferecemos<br />

comidas e bebidas para médicos<br />

e profissionais <strong>de</strong> serviços<br />

essenciais. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />

do posicionamento <strong>de</strong> marca,<br />

da sua coragem <strong>de</strong> estar falando<br />

sobre assuntos controversos, as<br />

marcas que como primeiro passo<br />

fizeram coisas para ajudar a população<br />

foram as que começaram<br />

a ter o direito <strong>de</strong> falar <strong>de</strong> si em um<br />

segundo momento.<br />

Em uma recente entrevista ao<br />

PROPMARK, o Ariel Grunkraut, CMO<br />

do BK Brasil, falou que o papel da<br />

marca é muito mais do que ven<strong>de</strong>r<br />

hambúrguer. Como manter a unida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sse posicionamento <strong>de</strong> marca<br />

em contextos tão diferentes?<br />

A marca BK é muito querida<br />

no Brasil. Crescemos muito, principalmente<br />

com os jovens. É uma<br />

marca divertida, ela olha no olho<br />

da pessoa, não é arrogante. Sim,<br />

produto importa porque você<br />

precisa ser bom, mas para ter afinida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> longo prazo você precisa<br />

investir para que as pessoas<br />

entendam qual a personalida<strong>de</strong><br />

da marca, seus valores e o que ela<br />

representa. E o Brasil é um dos<br />

países que melhor fazem esse<br />

trabalho. A gente tem um time <strong>de</strong><br />

marketing fortíssimo. Não é à toa<br />

que a marca tem crescido tanto<br />

em preferência e vendas. A pessoa<br />

escuta a palavra Burger King<br />

e abre um sorriso porque a gente<br />

é brincalhão, leva as coisas com<br />

leveza, entregamos i<strong>de</strong>ias fora do<br />

comum. E é o que as pessoas esperam<br />

da gente. E num período<br />

como o da pan<strong>de</strong>mia, primeiro<br />

focamos no que era certo e evoluímos,<br />

consi<strong>de</strong>rando o contexto<br />

da pan<strong>de</strong>mia, inserindo outros<br />

aspectos que faziam mais parte<br />

da filosofia da marca. As campanhas<br />

feitas no Brasil têm um pouco<br />

do conceito que o Ariel sempre<br />

fala: the zoeira never ends. Por<br />

16 <strong>29</strong> <strong>de</strong> <strong>junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2020</strong> - jornal propmark

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