Chicos 64 - 10.04.2021
Chicos é uma publicação literária que circula apenas pelos meios digitais. Envie-nos seu e-mail e teremos prazer de te enviar nossas edições. A linha editorial é fundamentalmente voltada para a literatura dos cataguasenses, mas aberta ao seu entorno e ao mundo. Procura manter, em cada um dos seus números, uma diversidade temática.
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Chicos
que no outro dia tinham que alterar. Gente estranha,
estes terráqueos! E, como é óbvio, não
tinham chegado a nenhuma conclusão sobre o
assalto ou não ao seu planeta. Até o sétimo aluado,
o tal mais inteligente e, por isso mesmo,
nomeado chefe dos outros, mudava de opinião
quase todos os dias. E isso porquê? Ora porquê!
Então não se está mesmo a ver? Ora encontravam
povos comandados por broncos e analfabetos
(enquanto na lua mandavam apenas os que
tinham categoria para mandar) que, apesar das
pessoas morrerem aos milhares, não aceitavam
que o vírus era mortal e alguns até diziam que
não passava de uma gripezinha que em instantes
passaria, ora por outros menos estúpidos,
mas orientados apenas para o capital, para os
postos de trabalho e rendimentos que prejudicavam
a economia e não se davam conta dos milhares
que iam morrendo. E assim o planeta
Terra ia ficando sem gente...
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Mas esta vigilância dos aluados tinha que
acabar, não poderia tornar-se indefinida e, um
dia, esse dia, quer dizer, essa noite, pois foi de
noite que decidiram encontrar-se, chegou. O
chefe começou a averiguar as opiniões de cada
um. E, desnorteado, começou a achar que os
seus companheiros estavam a ser contagiados
por opiniões completamente díspares. Um até
aprendeu a mentir, coisa que na lua era impensável,
mas o pobre coitado também não teve
muita culpa, pois tinha sido mandado para uma
zona do Globo terrestre onde o seu chefe dizia,
todos os dias, dezenas de mentiras. Hoje uma
coisa era branca e dali a meia hora era verde,
azul ou preta e, no dia seguinte, a mesmíssima
coisa até deixava de ter cor ou de existir. Outro
foi parar a um local estranho, pois ninguém sabia
onde estava, ou melhor, estavam todos no
mesmo local, mas uns queriam lá permanecer e
outros queriam ir embora, não conseguiram os
aluados saber para onde e porquê. Enfim, encontraram
todos coisas estranhíssimas. Aqui fechavam
as portas aos forasteiros de determinada
zona, mas abriam-nas a outros de outras, ali
encontravam as ruas cheias de gente, noutro
ponto tudo vazio, como se todos os terráqueos
já tivessem sido abatidos pelo tal vírus.
O tempo ia passando, o planeta Terra estava
a ser percorrido meticulosamente pelos sete
aluados que, diga-se em abono da verdade, não
por culpa deles, não atavam nem desatavam nas
suas opiniões. Num ponto, o pensamento dos
sete era unânime: os terráqueos eram gente estranhíssima,
de atitudes contraditórias, o que
hoje era sim, no dia seguinte era não, viviam
em constante desarmonia, porque, como cada
um pensava apenas em si próprio, cada um
considerava-se com direitos que prejudicavam o
seu semelhante que, por sua vez, barafustava,
barafustava...até conseguir inverter a situação a
seu favor. Porém, quando o conseguia, tinha
comportamento semelhante aos outros que tanto
criticou e, deste modo, voltavam as discussões,
as represálias, os insultos… Isso mesmo!
Insultos! Nunca a tal tinham assistido estes pobres
habitantes da Lua! E onde a sua surpresa
atingiu o auge foi na visita a um ponto do planeta,
terra linda e cheia de sol e mar, mas onde
os seus habitantes estavam todos completamente
loucos, de uma loucura estranha e incompreensível,
porque, quem os olhasse, acharia que
pareciam todos irmãos, falando a mesma língua,
usando roupas semelhantes, vivendo em
cidades ou espaços campesinos em casas feitas
com materiais idênticos… Que se passaria ali,
para que uns e outros, apesar de irmãos, se tratarem
tão mal entre si?
O chefe reuniu todos numa noite e disselhes:
-Eu sei que vocês estão cansados, traumatizados
e não param de se interrogar sobre comportamentos
tão anómalos desta gente. Algo se
passa aqui e não iremos embora sem descobrirmos.
Mãos à obra e ouvidos à escuta. Reunire-