edição de 22 de abril de 2024
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Alê Oliveira<br />
O <strong>de</strong>safiador negócio<br />
<strong>de</strong> sorvetes no Brasil<br />
“Ama a verda<strong>de</strong>, mas perdoa o erro”.<br />
Voltaire<br />
Francisco Alberto Madia <strong>de</strong> Souza<br />
Nas últimas décadas, muitas das gran<strong>de</strong>s corporações<br />
já tentaram. E quase todas quebraram a<br />
cara. Des<strong>de</strong> uma campeã em distribuição como<br />
a Philip Morris, que foi dona durante anos da Kibon e<br />
<strong>de</strong>pois ven<strong>de</strong>u para a Unilever, até uma Nestlé que vai,<br />
volta, gira e permanece no mesmo lugar.<br />
“Brasileiro não gosta <strong>de</strong> sorvete”... Adora!”, Ou, “o clima<br />
no Brasil é adverso aos sorvetes”... Muito pelo contrário...<br />
E qual o <strong>de</strong>safio, qual o maior <strong>de</strong>safio...?<br />
Que todos os 5.565 municípios do país têm 1,2,3 ou 19<br />
fabricantes artesanais, mais as industriais e locais, muitos<br />
no território da informalida<strong>de</strong>, e aí chega a gran<strong>de</strong><br />
indústria e vê seu negócio <strong>de</strong> sorvetes, se não <strong>de</strong>rretendo,<br />
<strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>r a uma longa distância à<br />
expectativa <strong>de</strong> resultados.<br />
Dentre todas as marcas <strong>de</strong> sucesso nesse território<br />
em nosso país, a gran<strong>de</strong> vencedora foi a Kibon.<br />
Marca que chegou ao Brasil em <strong>de</strong>corrência da<br />
ameaça <strong>de</strong> guerra entre China e Japão, e fez com que a<br />
U.S.Harkson <strong>de</strong>sembarcasse <strong>de</strong> Xangai no Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />
1941, e, num dos primeiros fins <strong>de</strong> semana <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> sua<br />
chegada, alcançou a espetacular cifra <strong>de</strong> três milhões <strong>de</strong><br />
picolés vendidos.<br />
Já em 1942 circulavam no Rio os primeiros carrinhos<br />
amarelos, que gradativamente foram invadindo as principais<br />
cida<strong>de</strong>s do Brasil.<br />
Em 1960, é vendida para a General Foods; em 1985,<br />
para a Philip Morris; e em 1997, a Unilever compra a empresa<br />
por quase US$ 1 bi – US$ 930 milhões.<br />
E <strong>de</strong> lá para cá, teve bons e maus momentos, <strong>de</strong> verda<strong>de</strong><br />
jamais conseguiu realizar os ambiciosos planos<br />
que tinha, e agora, finalmente, anuncia estar separando<br />
seus negócios <strong>de</strong> sorvetes, <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> juntar, reestruturar,<br />
reposicionar e tentar dar um sentido a seu business <strong>de</strong><br />
sorvetes...<br />
E que no meio do caminho incluiu a aquisição global<br />
<strong>de</strong> uma marca com personalida<strong>de</strong> exclusiva e específica,<br />
quase <strong>de</strong> nicho, a Ben & Jerry, e a confusão generalizou-<br />
-se, incluindo embates na Justiça.<br />
A <strong>de</strong>claração oficial da Unilever revela que a empresa<br />
preten<strong>de</strong> economizar € 800 milhões nos próximos três<br />
anos, <strong>de</strong>ntre outras medidas, com a <strong>de</strong>missão <strong>de</strong> 7,5 mil<br />
empregados em toda a operação, separando a operação<br />
<strong>de</strong> sorvetes <strong>de</strong> todos os <strong>de</strong>mais negócios da empresa,<br />
e, não disseram, mas, mais que evi<strong>de</strong>nte, preparando-se<br />
para um eventual e provável venda...<br />
Nas justificativas, que não justificam porque a empresa<br />
mais que sabia das especificida<strong>de</strong>s do negócio <strong>de</strong><br />
sorvetes, é que, “O sorvete tem particularida<strong>de</strong>s, como<br />
uma logística mais complexa e ação no ponto <strong>de</strong> venda,<br />
dada à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> refrigeração...”<br />
Socorro! É patético, décadas <strong>de</strong>pois, uma empresa<br />
da dimensão e competência da Unilever apresentar<br />
essa justificativa...<br />
Ou seja, amigos, mais uma gran<strong>de</strong> corporação fracassa<br />
no <strong>de</strong>safiador negócio <strong>de</strong> sorvetes.<br />
A pergunta que fica, é: quando a Nestlé seguirá o<br />
mesmo caminho na totalida<strong>de</strong> da operação?<br />
A propósito e lembrando, em 2019 a Nestlé ven<strong>de</strong>u<br />
sua divisão <strong>de</strong> sorvetes nos Estados Unidos...<br />
E no Brasil, hoje integra uma joint venture com a<br />
R&R, realizada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2016, criando uma nova empresa,<br />
a Froneri, presente em 20 países e especializada<br />
em sorvetes.<br />
Além das marcas <strong>de</strong> sorvetes da Nestlé, também cuida<br />
das marcas da Mon<strong>de</strong>lez e da Fini.<br />
Ou seja, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente dos <strong>de</strong>safios exclusivos<br />
do Brasil, o maior <strong>de</strong> todos as milhares <strong>de</strong> fábricas locais,<br />
as movimentações <strong>de</strong> Unilever e Nestlé são mais<br />
que conclusivas e <strong>de</strong>finitivas.<br />
O negócio <strong>de</strong> sorvete precisa ser tocado à parte. Caso<br />
contrário... Como o sorvete... Derrete...<br />
Francisco Alberto Madia <strong>de</strong> Souza<br />
é consultor <strong>de</strong> marketing<br />
fmadia@madiamm.com.br<br />
36 <strong>22</strong> <strong>de</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2024</strong> - jornal propmark