edição de 22 de abril de 2024
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
última página<br />
Alê Oliveira<br />
Stalimir Vieira<br />
é diretor da Base <strong>de</strong> Marketing<br />
stalimircom@gmail.com<br />
Lembranças<br />
Stalimir Vieira<br />
Semana passada foi aniversário do Neil Ferreira. E<br />
ele recebeu uma bela homenagem <strong>de</strong> Eliana Machado<br />
Ferreira, com quem foi casado por quase<br />
cinco décadas.<br />
Um site criado com muito esmero, contendo toda a<br />
história e a obra <strong>de</strong>sse formidável criativo, com quem<br />
tive o privilégio <strong>de</strong>, por anos, dividir o espaço da mais<br />
emblemática agência <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> do Brasil: a DPZ.<br />
Embora colegas <strong>de</strong> trabalho, nos víamos e falávamos<br />
pouquíssimo. Recém-chegado <strong>de</strong> Porto Alegre e ainda<br />
me ambientando às idiossincrasias do ecossistema daquela<br />
verda<strong>de</strong>ira instituição criativa, em que egos inflados<br />
por prêmios e elogios disputavam espaço, cumpri o<br />
ritual <strong>de</strong> ater-me à comunida<strong>de</strong> do quinto andar, o andar<br />
do Petit e do Washington.<br />
Aliás, pelo menos enquanto estive por lá, conheci um<br />
único personagem que transitava com <strong>de</strong>senvoltura entre<br />
esses “dois mundos”, o querido Nelo Pimentel.<br />
Acabo <strong>de</strong> lembrar, inclusive, que no dia em que fui<br />
apresentar meu portfólio e ser entrevistado, quem estava<br />
ao lado do W, era exatamente o Nelo.<br />
Mas, voltando ao Neil, as primeiras impressões que<br />
tive <strong>de</strong>le me causaram um certo receio <strong>de</strong> me aproximar<br />
mais. Parecia-me um avaliador implacável, em ação<br />
permanentemente. A inquietu<strong>de</strong> do olhar, a resposta<br />
pronta, a indagação <strong>de</strong>safiadora, tudo isso, confesso, me<br />
espantava um pouco.<br />
Por outro lado, seu trabalho me inspirava. E acho que<br />
hoje, tantos anos passados, e sem retirar uma sílaba <strong>de</strong><br />
toda a gratidão que tenho pelo Washington, posso falar<br />
que o Neil me inspirava mais. E explico a razão: talvez por<br />
preconceito elitista <strong>de</strong> gaúcho, achava o estilo do meu<br />
diretor <strong>de</strong> criação popular <strong>de</strong>mais, seja lá como eu interpretasse<br />
isso na época. Mas não tenho dúvida <strong>de</strong> que,<br />
assim, o Washington se tornou um dos maiores responsáveis<br />
pela simpatia dos brasileiros pela propaganda.<br />
O padrão do Neil, no entanto, me soava mais elegante,<br />
mais sofisticado no uso da inteligência, e eu me i<strong>de</strong>ntificava<br />
melhor com isso.<br />
Claro que nunca comentei essa impressão nem com<br />
um nem com outro, por motivos óbvios. Quando assumi<br />
a direção <strong>de</strong> criação da DPZ-Rio, fiquei mais sob a mira<br />
do andar do Zara (<strong>de</strong> quem, ironicamente, me aproximaria,<br />
no futuro, muito mais do que do Petit).<br />
Mas na época em que cuidava da conta da Souza Cruz,<br />
vivi algumas situações difíceis, reconheço agora, produto<br />
<strong>de</strong> uma teimosia idiota dos meus 30 e poucos anos.<br />
Simplesmente, certa vez me neguei a cumprir um<br />
briefing <strong>de</strong> um dos maiores clientes da DPZ. Um escândalo!<br />
E só por ser uma agência como aquela, não fui<br />
<strong>de</strong>mitido sumariamente. Mas fui chamado às falas em<br />
São Paulo, pela primeira vez no sexto andar e com o Zara.<br />
Cheguei cedo e tive <strong>de</strong> esperar, ocasião em que encontrei<br />
o Neil no café. Com um olhar que misturava estranhamento<br />
e <strong>de</strong>boche, ele me perguntou que história<br />
era aquela e emendou um pedido <strong>de</strong> que eu ensinasse<br />
a ele como se faz isso, porque nunca havia passado pela<br />
sua cabeça se negar a cumprir o briefing, por pura teimosia.<br />
Já a conversa com o Zara foi mais curta: me perguntou<br />
se eu gostaria <strong>de</strong> continuar trabalhando na DPZ. Respondi<br />
que sim. E ele, sem retirar os olhos do layout que<br />
ia rabiscando: então, vai lá e faz essa porra que o cliente<br />
está pedindo.<br />
“O padrão do Neil<br />
me soava mais<br />
elegante, mais<br />
sofisticado no uso<br />
da inteligência”<br />
38 <strong>22</strong> <strong>de</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2024</strong> - jornal propmark