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edição de 22 de abril de 2024

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última página<br />

Alê Oliveira<br />

Stalimir Vieira<br />

é diretor da Base <strong>de</strong> Marketing<br />

stalimircom@gmail.com<br />

Lembranças<br />

Stalimir Vieira<br />

Semana passada foi aniversário do Neil Ferreira. E<br />

ele recebeu uma bela homenagem <strong>de</strong> Eliana Machado<br />

Ferreira, com quem foi casado por quase<br />

cinco décadas.<br />

Um site criado com muito esmero, contendo toda a<br />

história e a obra <strong>de</strong>sse formidável criativo, com quem<br />

tive o privilégio <strong>de</strong>, por anos, dividir o espaço da mais<br />

emblemática agência <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> do Brasil: a DPZ.<br />

Embora colegas <strong>de</strong> trabalho, nos víamos e falávamos<br />

pouquíssimo. Recém-chegado <strong>de</strong> Porto Alegre e ainda<br />

me ambientando às idiossincrasias do ecossistema daquela<br />

verda<strong>de</strong>ira instituição criativa, em que egos inflados<br />

por prêmios e elogios disputavam espaço, cumpri o<br />

ritual <strong>de</strong> ater-me à comunida<strong>de</strong> do quinto andar, o andar<br />

do Petit e do Washington.<br />

Aliás, pelo menos enquanto estive por lá, conheci um<br />

único personagem que transitava com <strong>de</strong>senvoltura entre<br />

esses “dois mundos”, o querido Nelo Pimentel.<br />

Acabo <strong>de</strong> lembrar, inclusive, que no dia em que fui<br />

apresentar meu portfólio e ser entrevistado, quem estava<br />

ao lado do W, era exatamente o Nelo.<br />

Mas, voltando ao Neil, as primeiras impressões que<br />

tive <strong>de</strong>le me causaram um certo receio <strong>de</strong> me aproximar<br />

mais. Parecia-me um avaliador implacável, em ação<br />

permanentemente. A inquietu<strong>de</strong> do olhar, a resposta<br />

pronta, a indagação <strong>de</strong>safiadora, tudo isso, confesso, me<br />

espantava um pouco.<br />

Por outro lado, seu trabalho me inspirava. E acho que<br />

hoje, tantos anos passados, e sem retirar uma sílaba <strong>de</strong><br />

toda a gratidão que tenho pelo Washington, posso falar<br />

que o Neil me inspirava mais. E explico a razão: talvez por<br />

preconceito elitista <strong>de</strong> gaúcho, achava o estilo do meu<br />

diretor <strong>de</strong> criação popular <strong>de</strong>mais, seja lá como eu interpretasse<br />

isso na época. Mas não tenho dúvida <strong>de</strong> que,<br />

assim, o Washington se tornou um dos maiores responsáveis<br />

pela simpatia dos brasileiros pela propaganda.<br />

O padrão do Neil, no entanto, me soava mais elegante,<br />

mais sofisticado no uso da inteligência, e eu me i<strong>de</strong>ntificava<br />

melhor com isso.<br />

Claro que nunca comentei essa impressão nem com<br />

um nem com outro, por motivos óbvios. Quando assumi<br />

a direção <strong>de</strong> criação da DPZ-Rio, fiquei mais sob a mira<br />

do andar do Zara (<strong>de</strong> quem, ironicamente, me aproximaria,<br />

no futuro, muito mais do que do Petit).<br />

Mas na época em que cuidava da conta da Souza Cruz,<br />

vivi algumas situações difíceis, reconheço agora, produto<br />

<strong>de</strong> uma teimosia idiota dos meus 30 e poucos anos.<br />

Simplesmente, certa vez me neguei a cumprir um<br />

briefing <strong>de</strong> um dos maiores clientes da DPZ. Um escândalo!<br />

E só por ser uma agência como aquela, não fui<br />

<strong>de</strong>mitido sumariamente. Mas fui chamado às falas em<br />

São Paulo, pela primeira vez no sexto andar e com o Zara.<br />

Cheguei cedo e tive <strong>de</strong> esperar, ocasião em que encontrei<br />

o Neil no café. Com um olhar que misturava estranhamento<br />

e <strong>de</strong>boche, ele me perguntou que história<br />

era aquela e emendou um pedido <strong>de</strong> que eu ensinasse<br />

a ele como se faz isso, porque nunca havia passado pela<br />

sua cabeça se negar a cumprir o briefing, por pura teimosia.<br />

Já a conversa com o Zara foi mais curta: me perguntou<br />

se eu gostaria <strong>de</strong> continuar trabalhando na DPZ. Respondi<br />

que sim. E ele, sem retirar os olhos do layout que<br />

ia rabiscando: então, vai lá e faz essa porra que o cliente<br />

está pedindo.<br />

“O padrão do Neil<br />

me soava mais<br />

elegante, mais<br />

sofisticado no uso<br />

da inteligência”<br />

38 <strong>22</strong> <strong>de</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2024</strong> - jornal propmark

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