Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Ativistas da comunidade<br />
As primeiras escolas judaicas no Paraná VI<br />
Sara Schulman *<br />
A grande polêmica: formação do<br />
ginásio hebreu brasileiro em<br />
Curitiba<br />
A polêmica sobre a possibilidade da<br />
formação de um curso ginasial (2º grau),<br />
como seqüência do 1º grau da Escola<br />
Israelita Brasileira Salomão Guelmann<br />
(EIBSG), começou a “borbulhar” no<br />
mesmo ano em que se cogitava sobre<br />
onde e como deveriam ser as novas instalações<br />
da sede do Centro Israelita. É<br />
no “O Macabeu” nº 15, de 1955 (sete<br />
anos após a Fundação do Estado de Israel),<br />
pg. 21, na seção “Uma enquête<br />
por mês”, que vamos encontrar os primeiros<br />
debates, com opiniões divergentes<br />
sobre a formação de um curso que<br />
poderia ampliar em quatro anos o ensino<br />
escolar, e consequentemente o yidishkait<br />
e o contato entre as nossas<br />
crianças, dentro da comunidade judaica<br />
da época, em Curitiba.<br />
As justificativas pró e contra a criação<br />
do ginásio eram bastante contraditórias<br />
e variadas, mas todas importantes;<br />
porque, sem dúvida, refletiam as<br />
condições, as dificuldades, os problemas<br />
e as preocupações dos judeus de<br />
então. Desde o início das discussões,<br />
em 1955, e do funcionamento do ginásio<br />
em 1970, quando foi fundado, e até<br />
hoje, esporadicamente, ouvimos aqui e<br />
ali as mesmas discussões de 52 anos<br />
atrás. Por que a ampliação dos anos na<br />
escola continua sendo um problema?<br />
Houve até uma enquête com a pergunta:<br />
“Que pode dizer-nos sobre a<br />
necessidade e a possibilidade da fundação,<br />
em Curitiba, de um Ginásio<br />
Hebreu Brasileiro?” As respostas foram<br />
tanto positivas como negativas,<br />
principalmente por causa da questão<br />
financeira.<br />
Em “O Macabeu” nº 16, do mesmo<br />
ano, pg. 7, a entrevista do mês, “Um<br />
assunto, duas opiniões” trás dois depoimentos<br />
de grande relevância sobre<br />
o assunto: Do diretor e professor de<br />
iídiche e hebraico da EIBSG, Zvi Raphaeli;<br />
e do professor José Sheinkman, lente<br />
de diversos ginásios da Capital, e<br />
figura querida e consagrada no seio do<br />
magistério de Curitiba.<br />
Pergunta: Na sua opinião há necessidade<br />
da criação, em Curitiba, de um<br />
Ginásio Hebreu Brasileiro?<br />
Prof. Raphaeli: Há sim necessidade<br />
do Ginásio, mas, antes disso,<br />
precisa-se ter em mente que é indispensável<br />
um bom curso primário (primeiro<br />
grau), onde sejam lecionados<br />
iídiche e hebraico, e onde os pais<br />
sejam instruídos no sentido de que<br />
não devem retirar os seus filhos no<br />
meio da aula... Temos atualmente<br />
(1955) um curso “ginasial” em iídi-<br />
che, para crianças, ao qual assistem<br />
sete alunos, parte para poderem,<br />
após as aulas, jogar futebol e parte<br />
porque os pais assim o desejam.<br />
Prof. Sheinkman: Existe essa necessidade.<br />
Uma colônia como a de Curitiba,<br />
com o constante desenvolvimento<br />
que vem apresentando, precisa da<br />
formação de núcleos para o contato<br />
entre seus componentes. No Rio, em<br />
S. Paulo e em outras cidades grandes,<br />
o Ginásio tem, nesse sentido,<br />
prestado grandes serviços.<br />
Já em 1946 fui convidado pelo saudoso<br />
Salomão Guelmann e tive a oportunidade<br />
de vir a Curitiba com a intenção<br />
de fundar um colégio. Encontrei,<br />
realmente, por parte de muitos elementos,<br />
grande interesse no sentido de<br />
concretizar a idéia. Chegou-se mesmo<br />
a formar um esboço de sociedade, graças<br />
ao idealismo dinâmico do Sr. Salomão<br />
Guelmann. Infelizmente, porém, um<br />
outro professor, residente em Curitiba,<br />
espalhou entre alguns elementos a notícia<br />
de que o colégio deveria gastar<br />
cerca de 40 mil cruzeiros só em giz.<br />
<strong>Sem</strong> dúvida alguma, foi uma informação<br />
errada e maliciosa, mas fez com<br />
que muitos elementos desistissem de<br />
cooperar com a nossa idéia. Naquela<br />
ansiedade dinâmica, começamos a negociar<br />
a compra do Colégio Iguaçu, que<br />
representaria um patrimônio extraordinário<br />
para fortificar a idéia. Ao final,<br />
porém, não vingou o nosso desejo.<br />
No momento, acho difícil organizar<br />
um Ginásio em Curitiba devido ao espírito<br />
egoísta que domina alguns elementos<br />
da colônia, principalmente aqueles<br />
que possuem dinheiro. Senti isso, com<br />
maior intensidade, há dois anos, quando<br />
iniciei uma campanha no sentido de<br />
dotar a Escola Israelita Brasileira de<br />
um ônibus, como ocorre nas cidades<br />
maiores. As respostas dos pais de alunos<br />
foram desanimadoras. Isto tudo tem<br />
feito com que as crianças israelitas em<br />
Curitiba tomem rumos diversos e se torne<br />
cada vez mais difícil a concretização<br />
de um colégio.<br />
Pergunta: Teria esse ginásio as mesmas<br />
características dos outros do país?<br />
Prof. Sheinkman: Poderia ter desde<br />
que a colônia compreendesse sua<br />
necessidade.<br />
Prof. Raphaeli: Sei de ginásios nesse<br />
molde, em S. Paulo e no Rio de Janeiro.<br />
O de S. Paulo tem trazido bons<br />
frutos para aquela coletividade. As crianças<br />
recebem ali, quatro horas diárias<br />
de aulas e os exames são feitos<br />
tanto nas matérias em iídiche como em<br />
português. Pergunta-se, porém: já está<br />
Curitiba em condições de ter um Ginásio?<br />
Compreendem os pais o que significa<br />
um ginásio no verdadeiro espírito<br />
iídiche e hebraico? Às vezes, chego a<br />
pensar que o que se quer aqui não são<br />
professores, mas um Rabi que ensine<br />
as crianças a rezar, como ocorria antigamente<br />
nas velhas escolas da Europa...<br />
Um Ginásio Hebreu Brasileiro só<br />
deve vir no momento em que os próprios<br />
pedagogos puderem organizar o<br />
programa, nele integrando a idéia da<br />
educação nacional judaica. Deve-se criar<br />
antes um Colégio de Pedagogia que,<br />
com a ajuda do Conselho Central de<br />
Educação e Cultura do Rio de Janeiro,<br />
fará os estatutos e elaborará o programa<br />
do futuro Ginásio.<br />
Pergunta: Seriam os cursos de português<br />
e iídiche independentes entre si?<br />
Prof. Raphaeli: Na primeira parte,<br />
incluiríamos cursos de Tanach, história,<br />
palestinografia, literatura. Nas classes<br />
mais adiantadas, haveria curso especial<br />
de sionismo. Isto tudo, porém, com<br />
a condição de que o ginásio tenha a<br />
“estampa da família judaica sionista”.<br />
No Conselho Pedagógico devem tomar<br />
parte somente os especialistas. E o comitê,<br />
nos moldes do atual, só deve analisar<br />
questões materiais e econômicas.<br />
O professor ficará sob a jurisdição apenas<br />
do Conselho.<br />
Prof. Sheinkman: Ter-se-ia, de acordo<br />
com a lei federal, que obedecer ao<br />
Ministério, quanto à programação das<br />
matérias em português. Quanto a parte<br />
judaica, haveria a relação das matérias<br />
judaicas a serem ensinadas; independentemente<br />
destas, formando-se<br />
além disso, um ambiente iídiche para<br />
a mocidade iídiche.<br />
Pergunta: Haverá facilidade para<br />
formar um corpo docente quanto aos<br />
professores de assuntos judaicos?<br />
Prof. Raphaeli: O <strong>Sem</strong>inário Hebraico<br />
do Rio de Janeiro, no qual estudam<br />
hoje cerca de 50 futuros professores,<br />
poderá constituir a vanguarda do futuro<br />
ginásio. Suas lições seguem o espírito<br />
moderno, estão ligadas com a realidade<br />
e, como brasileiros natos, conhecem<br />
a língua e o histórico nacional.<br />
Não se pode mais pensar em professores<br />
de Israel, que aqui vem por curto<br />
espaço de tempo. A base deve ser constituída<br />
por elementos do próprio país.<br />
E não se deve contar com professores<br />
da velha geração. Faço questão de frisar<br />
novamente: acredito na geração<br />
jovem do novo Ginásio. Conheço a juventude<br />
intelectual de Curitiba. Nela há<br />
diversos pedagogos que poderiam lecionar<br />
no ginásio.<br />
Prof. Sheinkman: Nossa Faculdade<br />
de Filosofia tem formado muitos professores<br />
da colônia judaica, de forma<br />
a poder ser organizado, com eles, o<br />
corpo docente do futuro ginásio. Curitiba<br />
é uma cidade universitária, possuindo,<br />
no magistério, elementos de<br />
grande capacidade, que poderiam formar<br />
um corpo de professores à altura<br />
do que se deseja para o novo colégio.<br />
* Sara Schulman é farmacêutica e bioquímica, foi casada com Saul Schulman (falecido em 2006), neto de Bernardo<br />
Schulman. Fundou, em 1988, e é a atual presidente do Instituto Cultural Judaico Bernardo Schulman,<br />
sob cujos auspícios se publica esta coluna.<br />
VISÃO JUDAICA agosto de 2007 Elul 5767 / Tishrei 5768<br />
O LEITOR<br />
ESCREVE<br />
13<br />
Mulheres da Bíblia<br />
Prezados Senhores:<br />
Parabéns a toda equipe do jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong> pela qualidade<br />
em forma e conteúdo que vem aperfeiçoando desde<br />
sua iniciação.<br />
Gostaria de cumprimentar especialmente o dr. Sérgio Feldman<br />
pelo seu artigo “Mulheres da Bíblia (II)”, onde tece<br />
com a habilidade e conhecimento que lhe são peculiares as<br />
análises sobre ícones embrionários da formação do Ser.<br />
Sinto-me enriquecido podendo absorver parte da preleção.<br />
Deixo apenas a dúvida de que se o “Homem” foi criado á<br />
semelhança de D-us, não estariam Adão e Eva já compostos<br />
da perfeição divina? O livre arbítrio já não faria parte do<br />
“kit” original?<br />
Se não era para comer do fruto do bem e nem do mal,<br />
não era para comer e ponto final. Daí, a desobediência foi<br />
o fator único e fundamental!<br />
Enfim, metafisicamente, deveremos pesquisar sobre o Anthropos<br />
arquetípico; Purusha; o Adão Cádmio; o Homo Maximus;<br />
ou seja, o homem cósmico.<br />
Marco Alzamora<br />
Arquiteto<br />
Curitiba - Paraná<br />
Nathan Yalom e Moshavá<br />
Senhores redatores:<br />
Acabei de ler o artigo sobre Nathan Yalom, bem como o de<br />
Clara Guelmann sobre a entrevista com o escritor Nahum Mandel<br />
e a Moshavá de 1944 no Paraná. Excelente resgate da memória<br />
curitibana. Que papel importante o jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong><br />
está desempenhando também sob este aspecto!<br />
Nachman Falbel<br />
Professor, historiador e escritor<br />
São Paulo – SP<br />
Uma surpresa<br />
Prezados amigos,<br />
Quero contar-lhes um episódio que ocorreu uma tarde dessas.<br />
Estava eu voltando para casa do trabalho, no metrô cheio,<br />
quando agarrado a um estribo eu passei a prestar atenção a um<br />
tablóide que um senhor lia sentado. Nele haviam dois artigos.<br />
O do alto da página tinha um <strong>título</strong> mais ou menos assim:<br />
“Novidades virão da Síria e do Irã” (N. R. Na verdade, “Ventos<br />
opostos sopram da Síria e do Irã”). De imediato pensei<br />
que o tal senhor estivesse a ler algum jornaleco ultra-esquerdo-nazista,<br />
quando vi o <strong>título</strong> do artigo abaixo: “Israel<br />
descobre petróleo” e lembrei que um artigo com o mesmo<br />
<strong>título</strong> que eu tinha lido dias trás. Forcei um pouco mais minhas<br />
retinas míopes e consegui ler no alto da página o nome<br />
do jornal. Sabem qual era? VISÃO JUDAICA!<br />
Shalom,<br />
Victor Grinbaum<br />
Jornalista e radialista<br />
Rio de Janeiro - RJ<br />
Para escrever ao jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong><br />
basta passar um fax pelo telefone: 0**41 3018-8018<br />
ou um e-mail para visaojudaica@visaojudaica.com.br