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2 editorial VISÃO JUDAICA • agosto de 2007 Elul 5767 / Tishrei 5768 Publicação mensal independente da EMPRESA JORNALÍSTICA VISÃO JUDAICA LTDA. Redação, Administração e Publicidade visaojudaica@visaojudaica.com.br Curitiba PR Brasil Fone/fax: 55 41 3018-8018 Dir. de Operações e Marketing SHEILLA FIGLARZ Dir. Administrativa e Financeira HANA KLEINER Diretor de Redação SZYJA B. LORBER Publicidade DEBORAH FIGLARZ Arte e Diagramação SONIA OLESKOVICZ ALEXANDRE VICTORINO Webmaster RAFFAEL FIGLARZ Colaboram nesta edição: Antonio Carlos Coelho, Aristide Brodeschi, Breno Lerner, Daniel Benjamin Barenbein, David Harris, Edda Bergmann, Eduard Yitzhak, Eugenia Souza, Fred Dalton Thompson, George Chaya, Hana Beris, Jane Bichmacher de Glasman, Pilar Rahola, Reda Mansour, Sara Schulman, Sérgio Feldman, Sonia Bloomfield, Ted Feder, Tzvi Freeman, Youssef M. Ibrahim, Yossi Groisseoign e Walid Phares Visão Judaica não tem responsabilidade sobre o conteúdo dos artigos, notas, opiniões ou comentários publicados, sejam de terceiros (mencionando a fonte) ou próprios e assinados pelos autores. O fato de publicá-los não indica que o VJ esteja de acordo com alguns dos conceitos ou dos temas. Contém termos sagrados, por isso trate com respeito esta publicação. www.visaojudaica.com.br Este jornal é um veículo independente da Comunidade Israelita do Paraná Um ano bom e doce, apesar dos microcéfalos stamos nos aproximando de Rosh Hashaná, que marca o início do novo ano e de Iom Kipur, o Dia do Perdão. São duas das mais importantes celebrações judaicas simbolizando renovação do ciclo da vida, o arrependimento por más ações e a remissão perante D-us. Entre ambas as datas estão os Iamim Noraim, os Dias Temíveis, na verdade, dias altamente sagrados, durante os quais devemos refletir profundamente e realizar um exame de consciência um autobalanço. Também são conhecidos como os “Dias Intensos”, um período de 10 dias considerado como de julgamento para cada um de nós. Entende-se que o Édito Divino só pode ser alterado através de três ações em conjunto: Tshuvá (Retorno), Tsedaká (Boas ações) e Tefilá (Orações). Devido à importância deste período — Iamim Noraim —, Nossa capa Datas importantes foi definido um mês inteiro de preparação, que é o de Elul. Tem significado especial, e por isso é chamado de “Tempo de Piedade e Perdão”, a oportunidade de invocar a D-us Sua piedade e Seu perdão, para que nos ajude a iniciar um novo ano com saúde, paz e prosperidade. Se, no entanto, almejamos mudanças com o novo ano, certos fatos, porém, parecem nunca mudar. O anti-semitismo, uma dessas deploráveis doenças, sempre se adapta ao meio e ao tempo, mas jamais desaparece. Pode dissimular, trocar de alvo (antigamente era o judeu ser humano, hoje é Israel, o judeu das nações), ou de posição política, mas segue sendo o mesmo fétido dejetório onde proliferam ódio, intolerância e preconceito racial, que já deveriam ter desaparecido da face do planeta. Mas essa malignidade continua a grassar em certos indivíduos psiquicamente perturbados. Talvez seja esse o caso do es- Shabat Shofetim Shabat Ki Tetsê Shabat Ki Tavó Shabat Nitsavim / Vaiêlech Véspera de Rosh Hasahná 1º dia de Rosh Hashaná 2º dia de Rosh Hashaná Haazinu / Shabat Shuvá Jejum de Guedália Véspera de Iom Kipur Iom Kipur Véspera de Sucot crevinhadeiro que assina por Fausto Wolff, nas páginas daquele que foi um dia gigante da imprensa brasileira, o Jornal do Brasil, e que hoje dá espaço para o vomitório provocativo do infausto microcéfalo. Sua última excrescência: Garatujar algumas linhas para defender a tese (!?) de que o demente de Teerã, outro nanocefálico, Ahmadinejad, nunca quis ou pretendeu varrer Israel do mapa! Isso, a despeito das seguidas e inúmeras manifestações, nesse sentido, do verborrágico iraniano, as quais foram sobejamente registradas na imprensa mundial. Uma rápida pesquisa no Google revela a fonte inspiradora do artigo: sites anti-sionistas já davam “notícia” igual. Interessante é confrontar os “fatos” que também citou, com o histórico da população judaica no Irã: em 1948 eram cerca de 100.000; em 2002 caíram para 20.405 (Wikipedia) e atualmente menos de 11.000 (segundo o Ame- A capa reproduz a obra de arte cujo título é “Toque do Shofar”, elaborada com a técnica aquarela e dimensões de 50 x 35 cm, criação de Aristide Brodeschi. O autor nasceu em Bucareste, Romênia, é arquiteto e artista plástico, e vive em Curitiba desde 1978. Já desenvolveu trabalhos em várias técnicas, dentre elas pintura, gravura e tapeçaria. Recebeu premiações por seus trabalhos no Brasil e nos EUA. Suas obras estão espalhadas por vários países e tem no judaísmo, uma das principais fontes de inspiração. É o autor das capas do jornal Visão Judaica. (Para conhecer mais sobre ele, visite o site www.brodeschi.com.br). 18 18 de de agosto agosto 25 25 de de agosto agosto 1º de de de setembro setembro setembro 8 8 de de setembro setembro 12 12 de de de setembro setembro setembro 13 13 de de de setembro setembro setembro 14 14 de de de setembro setembro setembro 15 15 de de de setembro setembro setembro 16 16 de de de setembro setembro setembro 21 21 de de de setembro setembro setembro 22 22 de de de setembro setembro setembro 26 26 de de de setembro setembro setembro Falecimentos Ricardo Killner, dia 25/7 - 10 de Av de 5767, sepultado no Cemitério Israelita de Umbará dia 27/ 7/07. Luiz Schrier, dia 1º/8 - 17 de Av de 5767, sepultado no cemitério Israelita do Umbará Jacques Frischmann, dia 2/8 – 18 de Av de 5767, em São Paulo, SP. Moisés Liberman, dia 18/8 – 4 de Elul de 5767, em Campinas, SP, pai de Alberto Liberman e Gilza Strachman. Sepultado no Cemitério Israelita do Butantã, em SP. Humor judaico Redes Redes Redes Durante escavações nos EUA arqueólogos descobriram, a 100 m de profundidade, vestígios de fios de cobre que datavam do ano 1000. Os americanos concluíram que seus antepassados já dispunham de uma rede telefônica naquela época. Os franceses, para não ficar para trás, escavaram também seu subsolo, encontrando restos de fibras ópticas a 200 m de profundidade. Após minuciosas análises, concluíram, triunfantes, que seus antepassados, há 2.000 anos atrás já dispunham de uma rede digital a base de fibra óptica! Uma semana depois, em Tel-Aviv, foi publicado o seguinte anúncio: “Após escavações arqueológicas no subsolo de cidades e vilas em toda a Região de Haifa, até uma profundidade de 500 metros, os cientistas israelenses não encontraram absolutamente nada. Eles concluem que os antigos judeus já dispunham há 5.000 anos de uma rede wireless”. rican Jewish Committee). Já pensaram o que diriam de Israel se a população palestina tivesse diminuído em cerca de 90%? Mais: Desde a revolução islâmica, pelo menos 19 judeus foram executados no Irã por razões religiosas ou conexões com Israel (segundo o “2001 Annual Report on International Religious Freedom”, U.S. Department of State). A verdade é que temos anti-semitas usando máscaras de direitos humanos na imprensa brasileira. E produzindo uma mentirada execrável. Não obstante tudo isso, nós do jornal Visão Judaica, queremos renovar nosso compromisso de continuar combatendo inabalavelmente não só o anti-semitismo como qualquer tipo de preconceito racial, afirmar o nosso sionismo, a defesa de Israel e os valores democráticos, e reforçar os nossos laços com o judaísmo. A todos os leitores desejamos um Shaná Tová Umetuká neste novo ano de 5.768. A Redação Acendimento das velas em Curitiba agosto/setembro 2007 Véspera de Shabat DATA HORA 24/8 17h42 31/8 17h44 7/9 17h47 12/9 1 17h49 13/9 2 após 18h43 14/9 3 17h49 21/9 4 17h52 26/9 5 17h54 1 - Véspera de Rosh Hashaná 2 - 1 0 dia de Rosh Hasahná 3 - 2 0 dia de Rosh Hasahná 4 - Véspera de Iom Kipur 5 - Véspera de Sucot
Sérgio Feldman * proximam-se as Grandes Festas e se faz necessário realizar o “Cheshbon Nefesh”, o acerto de contas com D-us e com o próximo. Neste período refletimos sobre o que fizemos no ano anterior e tratamos de refazer nossas relações, pedir perdão e tentar se tornar seres humanos mais elevados, justos e piedosos. Neste espírito, escreverei meu último artigo sobre as mulheres da Bíblia. Refletir sobre as distorções que foram feitas na imagem feminina, tendo como referência o Judaísmo e tentar perceber que as mulheres na Bíblia Hebraica (Tanach) não eram consideradas, seres inferiores, e tampouco eram excluídas do convívio social e espiritual. A exclusão social da mulher surgiu num período posterior, fato que eu tento demonstrar em um artigo acadêmico, que deve ser publicado numa revista de uma universidade do sul do Brasil (UCS). Neste breve artigo tecerei reflexões simples e ilustrarei minhas interpretações e opiniões com citações bíblicas. Mas não pretendo esgotar o tema. Nos estudos de História que se dedicam às questões do feminino, denominados “Estudos de Gênero” (que abarcam também outros gêneros) concebe-se a definição de espaços abertos e fechados e da liberdade de circular e de ser ou não ser ativa nestes espaços, como um parâmetro para definir a autonomia da mulher. Um destes é o espaço dito privado que seria o espaço controlado da família, do lar e do clã. Um espaço restrito e controlado. O outro espaço seria o público, que seria o espaço da sociedade em geral, da rua, dos recintos externos a casa. Nos Estudos de Gênero define-se que as mulheres foram sendo gradualmente excluídas do espaço público e controladas dentro do espaço privado, na família ou clã, e dentro da casa. Coloca-se uma cerca em torno da mulher e limitam-se suas funções. Um exemplo comum é a da mulher ateniense. Consideradas inferiores e incapazes tornamse reclusas a um espaço da casa denominado gineceu. O que ocorre no caso das mulheres da Bíblia? As narrativas da Bíblia são de um espaço de tempo muito extenso. As mulheres da Bíblia hebraica ou Tanach viveram dentro de um longo período. Entre Sara e Betsabé (Bat Sheva) há cerca de oitocentos anos. Se for entre Sara e as mulheres da época de Jeremias haveria cerca de mil e trezentos anos. Uma imensidão de tempo. As coisas mudam em um século, imagine em dez a treze séculos. Ainda assim, faremos uma impre- VISÃO JUDAICA Mulheres da Bíblia (III) agosto de 2007 Elul 5767 / Tishrei 5768 cisa generalização, visto termos pouco espaço para escrever. As mulheres do período dos patriarcas e dos períodos seguintes (até o período dos Reis e Profetas) eram socialmente ativas e circulavam pelos espaços públicos. Alguns exemplos: o namoro entre Moisés e Séfora (Tzipora) ou os encontros de Jacob e Raquel ou de Eliezer com Rivka (Rebeca) nos poços da cidade demonstram que as mulheres livres circulavam pelos espaços das aldeias e das cidades em busca de água, por exemplo. Vale ressalvar que todos estes exemplos são de fora da Terra de Israel. A arqueologia e a história provam que isto é comum no mundo bíblico. Argumentos podem ser ditos que isto é parte de uma função familiar e de uma divisão de funções e trabalho, na qual a mulher buscava a água nas fontes, mas não representa uma participação social ou religiosa. Isso pode ser refutado com alguns exemplos. Um deles é sensível e exemplar: No primeiro capítulo do Primeiro Livro de Samuel, Elcana leva suas duas esposas, Penina e Hana (Ana) ao santuário de Siló (Shiló), aonde efetuavam oferendas de graças a D-us. Lá, Hana realiza, aquilo que se convencionou definir Raquel, uma mulher do período dos Patriarcas como a “primeira oração (reza)” da Bíblia. Naquele período os cultos eram celebrados através de sacrifícios. Ela pede através de oração balbuciada a D-us que lhe dê um filho, já que ela era estéril e a outra esposa de Elcana era fértil. E com a intercessão de Eli (Heli) ela concebe com seu esposo, o pequeno Samuel. Hana circula nos serviços religiosos, dialoga com o sacerdote e é ativa na sociedade na religião. Outro exemplar fato é a profeta e “juíza” Débora (Dvora) que faz julgamentos e lidera o povo numa batalha, mesmo tendo um “general” (ou oficial militar) denominado Barak, a liderar “fisicamente” o seu exército. E ainda por cima a glória da execu- ção do líder inimigo paira sobre a figura polêmica de Jael (Yael), num texto que determina a forte presença e o status privilegiado das mulheres no mundo bíblico. Outra personagem feminina de presença social e iniciativa é a moabita Rute. Uma das personagens mais marcantes do período de transição entre a o nomadismo e a sedentarização e que reflete o conceito de não discriminação do não judeu que se agrega ao povo e a religião judaica. Rute não nasceu judia, mas se “converte” (não havia processos de conversão naquela época, é óbvio). E se torna a bisavó do rei David e tronco da casa real de Judá (Iehudá). De seus descendentes sairá o Messias. Ou seja, uma “não judia”, que se insere na raiz da casa de David. Uma mulher de personalidade que opta por seguir sua sogra, após a morte de seu esposo. Uma opção que vem marcada pelos dizeres: “[...] Teu povo será meu povo; teu D-us será meu D-us” (Rute, 1, 16). Rute circula nos espaços públicos a busca de restos da colheita (respigar nos campos) que permita a ela e a sua idosa sogra sobreviverem. Contata com homens e dialoga com eles. E participa do festival de Shavuot aonde se aproxima de seu futuro marido, Boaz, que lhe permitira respigar em seus campos. Ou seja, as mulheres não são reclusas e tampouco excluídas dos espaços públicos. Num período bem mais “recente” da história bíblica, temos a narrativa de Judite, que executa o general assírio Holofernes. Mescla de lenda e história, repleta de realidade. Uma líder espiritual e comunitária que faz jus a um livro e a reverencia da memória. A opinião das mulheres era acatada até na sociedade patriarcal. Na crise conjugal instaurada na casa de Abraão devido aos conflitos entre Sara e a concubina Agar, percebe-se que a palavra de D-us, define o respeito pela “sabedoria da esposa” e sua proeminência. Sara exige que Abraão expulse de casa a serva Agar e seu filho Ismael (que ela tivera com o próprio Abraão), pois percebe que isto não seria benéfico a Isaac (Itzchak), o pequeno filho de Abraão com Sara. Abraão que ama ambos os filhos não quer perder o contato com Ismael. Sara pressiona e D-us conclui dizendo que o patriarca acatasse suas palavras: “[...] em tudo o que Sara te diz, ouve a sua voz; porque em Isaac será chamada a tua descendência”. (Gênesis, 21, 12). Nem o patriarca poderia superar a mulher na sua sabedoria. Sendo este um modelo arquetípico pode-se concluir que se trata de uma lição para os homens, no sentido de ouvirem a “sensibilidade” feminina ao tomarem alguns tipos de decisão. O modelo mais clássico de mulher atuante na política também é o de uma mulher “reprimida” e inserida numa sociedade patriarcal e que aparentemente se trata de uma mulher “objetificada” (num termo anacrônico, ou seja, não adequado ao mundo antigo). A rainha Ester é o modelo de uma mulher numa sociedade oriental (persa ou helenística) aonde o status feminino é de inferioridade. É, de fato, externa à sociedade bíblica: vive na Pérsia e já num mundo em transformação. Forçada a participar de um concurso de beleza e colocada num palácio, torna-se reclusa e controlada. Não pode sequer ver o Rei, se não for convidada por ele. Ela é mais uma “preferida do harém”, que a Rainha no sentido pleno. Ela se “faz rainha” e atua em surdina, elaborando uma teia de relações que salvam seu povo e levam o inimigo Haman à forca. Modelo e arquétipo de uma mulher numa sociedade na qual, as transformações sociais levaram a exclusão da mulher dos espaços públicos e a enclausuraram. Ainda assim ela tem o controle dos fatos e na hora da necessidade sabe articular as coisas e salvar seu povo. Um ensinamento às mulheres que todos os anos ouvem a leitura da Meguilá de Ester para que saibam como manter o controle das coisas, mesmo sem ter a hierarquia e o poder familiar a seu favor. Este texto já se insere num período que extrapola o mundo bíblico: é reflexo das mudanças ocorridas no contato com o mundo persa e com o mundo Continua na página 4 3 Naomi e Rute, detalhe de ilustração feita em 1795 por William Blake, no Victoria and Albert Museum de Londres Sérgio Feldman * Sérgio Feldman é doutor em História pela UFPR e professor de História Antiga e Medieval na Universidade Federal do Espírito Santo, em Vitória, e ex-professor adjunto de História Antiga do Curso de História da Universidade Tuiuti do Paraná.
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