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VISÃO JUDAICA agosto de 2007 Elul 5767 / Tishrei 5768<br />
O massacre de políticos no Líbano<br />
Walid Phares *<br />
om o assassinato do<br />
deputado libanês Gubran<br />
Tueni em dezembro<br />
de 2006, meses depois<br />
do assassinato dos<br />
líderes políticos George Hawi e<br />
Samir Qassir durante o verão, a<br />
estratégia do terror sírio-iraniano<br />
abriu a sangrenta temporada<br />
de caça ao Parlamento libanês<br />
eleito democraticamente.<br />
Walid Eido foi o último parlamentar<br />
libanês assassinado. Após<br />
a retirada das forças sírias regulares<br />
do Líbano em abril de 2005,<br />
Bashar Assad e seus aliados de<br />
Teerã traçaram uma contra-ofensiva<br />
para balançar a Revolução<br />
dos Cedros. Um dos principais<br />
componentes da estratégia era (e<br />
continua sendo) o uso de todos<br />
os ativos dos serviços de inteligência<br />
e segurança da Síria e do<br />
Irã no Líbano para “reduzir” a cifra<br />
de representantes que constituem<br />
a maioria anti-Síria no Parlamento.<br />
Tão simples como isso:<br />
assassinar quantos membros forem<br />
necessários para decantar a<br />
maioria quantitativa na Assembléia<br />
Legislativa. E quando acontecer<br />
isso, o governo de Seniora<br />
virá abaixo e se constituirá um<br />
gabinete encabeçado pelo Hezbolá.<br />
Além disso, se a guerra do<br />
terror matar outros 8 legisladores,<br />
o resto do Parlamento pode<br />
eleger um novo Presidente da<br />
República, que colocaria o país<br />
sob a tutela do regime de Assad.<br />
Tão incrivelmente selvagem<br />
como possa parecer isto no Ocidente,<br />
o genocídio dos legisladores<br />
do Líbano a mãos do regime<br />
sírio e seus aliados é “muito<br />
usual” na cultura política baathzista<br />
(e certamente na jihadista).<br />
Durante os anos 80, Saddam Hussein<br />
executou um grande segmento<br />
da Assembléia Nacional de seu<br />
próprio Partido Baath (lê-se Baatz)<br />
com o objetivo de manter intacto<br />
seu regime. Ao longo da mesma<br />
década Hafez Assad erradicava<br />
sistematicamente sua oposição<br />
política, tanto dentro da Síria<br />
como por todo o Líbano de<br />
ocupação síria, com o intuito de<br />
garantir seu controle sobre os<br />
dois países “irmãos”. De modo que<br />
ordenar desde o outono de 2004<br />
o assassinato de seus opositores<br />
políticos por parte de Bashar para<br />
perpetuar seu domínio sobre o<br />
pequeno “império” baath não é<br />
um fato tão surpreendente: é o<br />
procedimento padrão de Damasco<br />
desde 1970.<br />
E para “alcançar” estes obje-<br />
tivos, a junta da Síria tem todo um<br />
leque de ferramentas e ativos deixados<br />
para trás no Líbano. Em primeiro<br />
lugar, a gigantesca rede do serviço<br />
de inteligência sírio profundamente<br />
enraizada ainda no pequeno<br />
país; em segundo lugar o poderoso<br />
Hezbolá financiado pelo Irã, com seu<br />
letal aparato de segurança; em terceiro<br />
lugar, os grupos controlados<br />
pela Síria dentro de diversos acampamentos<br />
palestinos procedentes de<br />
diversos contextos ideológicos, incluindo<br />
baathzistas, marxistas, e até<br />
islamitas como o Fatah al-Islam; em<br />
quarto lugar, os simpatizantes pró-<br />
Síria e do Hezbolá “dentro” do exército<br />
libanês, assim como as unidades<br />
regulares e os serviços de segurança<br />
sob o controle ainda do general<br />
Emile Lahoud; em quinto lugar,<br />
as milícias e organizações satélites<br />
controladas à distância pelo serviço<br />
de inteligência sírio, como o<br />
Partido Nacional-Socialista da Síria;<br />
e em sexto lugar, os agentes introduzidos<br />
dentro dos grupos políticos<br />
que gravitam ao redor de Damasco,<br />
como os de Suleiman Frangieh, Michel<br />
Aoun ou Talal Arslán. Em poucas<br />
palavras, o eixo sírio-iraniano<br />
dispõe de todo um aparato de agentes<br />
de segurança e inteligência do<br />
qual pode escolher a vontade os autores<br />
materiais mais apropriados<br />
para cada uma das “operações de derrubada”.<br />
O regime Assad dispõe de<br />
“seus próprios agentes” sunitas para<br />
matar os sunitas, dispõe de cristãos<br />
para matar os cristãos, de drusos para<br />
eliminar os drusos, e dispõe de todos<br />
os recursos do terror do Hezbolá<br />
para obstruir o governo do Líbano<br />
e finalmente derrocá-lo.<br />
A “redução” — tanto física como<br />
política — da maioria no Parlamento<br />
libanês se iniciou tão logo que<br />
foi eleita a Assembléia, na primavera<br />
de 2005. A oposição libanesa a<br />
Assad e ao Hezbolá obteve originariamente<br />
72 cadeiras das 128 existentes,<br />
uma maioria confortável para<br />
retomar a “libertação” do país da<br />
ocupação e do terrorismo. Em dezembro<br />
de 2006, um carro-bomba<br />
matava o deputado Jebran Tueni, reduzindo<br />
a maioria a 71. Ainda que<br />
rapidamente tenha sido substituído<br />
por seu pai Ghassán, a avançada<br />
idade do segundo e sua reticência<br />
em prosseguir no mesmo ativismo<br />
anti-terror, isso supõe um ponto<br />
negativo na batalha geral. Em janeiro<br />
de 2006 um deputado da maioria,<br />
Edmond Naim, faleceu de causas<br />
naturais. A revolução anti-Cedros<br />
força as coisas colocando Pierre Daccache,<br />
“neutro” em princípio, mas<br />
essencialmente próximo do Hezbolá<br />
e aliado de Michel Aoun. Naquele momento,<br />
a maioria tinha 71 assentos.<br />
Em dezembro de 2006, o deputado<br />
da maioria Pierre Gemayel é assassinado<br />
por agentes sírios. A cifra de<br />
deputados dedicados ao seu trabalho<br />
cai para 70. Faz algumas semanas,<br />
as ameaças sírias procedentes<br />
do norte obrigam o deputado Alawi<br />
a abandonar a maioria, reduzindo a<br />
cifra a 69. O assassinato agora do<br />
sunita Walid Eido, feroz opositor do<br />
regime sírio, reduz a cifra de deputados<br />
a 68. Quatro assassinatos mais<br />
e a maioria parlamentar entrará em<br />
colapso, devolvendo o poder terrorista<br />
de Ahmedinijad e Assad às costas<br />
do Mediterrâneo Oriental.<br />
O que pode ser feito para deter o<br />
massacre de legisladores no Líbano<br />
e suas dramáticas conseqüências? O<br />
Conselho de Segurança da ONU, em<br />
virtude das resoluções 1559 e 1701,<br />
deveria intervir maciçamente, ordenando<br />
e supervisionando os seguintes<br />
passos:<br />
a) Colocar cada um dos 68 deputados<br />
restantes sob a proteção internacional<br />
direta. Uma força de segurança<br />
internacional especial seria despachada<br />
ao Líbano, reuniria os legisladores<br />
em perigo numa ou várias localizações<br />
protegidas, e mais tarde os<br />
escoltaria para que pudessem cumprir<br />
seus deveres constitucionais.<br />
b) Solicitar ao governo libanês<br />
de Seniora a convocação de eleições<br />
legislativas apropriadas nos distritos<br />
de Matn e Beirute com o objetivo<br />
de substituir os deputados assassinados<br />
Gemayel e Eido. Enviar observadores<br />
da ONU para supervisionar<br />
estas eleições.<br />
c) Solicitar ao Parlamento libanês<br />
a eleição de um novo Presidente<br />
durante o período constitucional que<br />
inicia em agosto, e escoltar os 68 deputados<br />
em perigo (mais os dois recém-eleitos)<br />
até o local das eleições<br />
presidenciais e proporcionar segurança<br />
durante o processo de votação.<br />
Ao fazê-lo, o Conselho de Segu-<br />
rança da ONU estará implementando suas<br />
próprias resoluções, assistindo o processo<br />
democrático no Líbano, e combatendo<br />
o terrorismo com o poder do povo do Líbano.<br />
Quando um novo Presidente escolhido<br />
sair eleito democraticamente no Líbano,<br />
o caminho — ainda muito difícil e<br />
perigoso – até a democracia, se abrirá.<br />
Nota da Redação: O PT (Partido dos<br />
Trabalhadores) brasileiro firmou no início<br />
de junho um acordo “de cooperação”<br />
com o Baath sírio (Partido Nacional<br />
Socialista Árabe) para “coordenar<br />
pontos de vista”, “fortalecer a cooperação<br />
entre organizações populares” e “intercâmbio<br />
de experiências”. Não é a toa<br />
que no nome do Baath, se insira a expressão<br />
“nacional-socialista” pois foi<br />
decalcado do Partido Nazista de Hitler.<br />
O PT se diz de esquerda e abraça uma<br />
agremiação partidária extremante fascista<br />
de direita, inspirada no nazismo! Até<br />
agora, as leis da Física não se aplicavam<br />
à política, especialmente a que diz que<br />
os pólos diferentes se atraem...<br />
* Walid Phares é professor de Estudos<br />
do Oriente Médio e especialista em islã<br />
político e da jihad, graduado em<br />
Direito e Ciências Políticas pelas<br />
Universidades Jesuíta e Libanesa,<br />
doutor em Relações Internacionais e<br />
Estudos Estratégicos pela Universidade<br />
de Miami. Lecionou na Saint Joseph<br />
University nos anos 80 e exerceu o<br />
Direito em Beirute até 1990. Editou<br />
também publicações no Líbano e mais<br />
tarde emigrou para os Estados Unidos,<br />
onde dá aulas na Florida International<br />
University e na Florida Atlantic<br />
University. Publicou centenas de<br />
artigos e escreveu sete livros sobre o<br />
fundamentalismo islâmico, e foi<br />
consultado pelo Congresso americano<br />
em três ocasiões, pois trata-se da<br />
maior autoridade sobre o Oriente<br />
Médio nos EUA. De origem libanesa,<br />
dirige a Fundação por um Líbano<br />
Livre e é membro do Middle East<br />
Forum. Colabora com a CNBC e a<br />
MSNBC, e é colunista regular de várias<br />
publicações internacionais.<br />
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