Comentários sobre o conto - Geia Plural

grupo adivinhar jamais o que se passava na luzidia Capital
dos Timbiras? Na manhã quente de agosto, dois vultos
saíram apressados do Hotel Vila Rica a caminho do Correio.
Nenhum cuidado tiveram em não ser vistos, e foi uma
pena que ainda poucas pessoas estivessem se movimentando
pelo centro da cidade àquela hora, pois quase ninguém
pôde presenciar o espetáculo que só agora é relatado por
uma testemunha ocular: um deles era tão desmedido no
peso e na altura, que quando passou diante da estátua de
Benedito Leite, o gigante de bronze teve um estremecimento
geral e levou a mão à cabeça, certo de sua impotência em
competir com o outro Gigante vivo, com medo do que antecipavam
os seus olhos seculares. Na outra praça, quando
os viu entrar no Correio, a estátua de João Lisboa levantou-se
com fúria e jogou depressa mais um jornal debaixo
da cadeira, para contemplar com toda atenção o que o seu
amor à terra negava-se a aceitar: dessa vez era Atenas que
era visitada pelo cavalo de Tróia e o povo, dormindo como
antes, não se dava conta do assédio.
Fora isso, pode-se dizer que os dois vultos passaram pelo
centro da cidade quase sem ser vistos. No Correio, um deles
abriu a caixa postal, desfez nervosamente a embalagem da
encomenda e, em silêncio, entregou ao Gigante a copia de
alguns papéis.
– Os mapas chegaram, eh?
– Vamos. Não podemos perder tempo.
E saíram, quase voando, a caminho do aeroporto, onde
um big jato os fez voar mais rápido ainda.
– Sua excelência foi muito acessíve1.
– Yeah. Razoável.
– Nós devíamos ter voltado a falar com o Sunguelo.
– Talvez da próxima. Vamos voltar logo.
Voltaram logo, como prometeram, desta vez acompanhados
de mais gente e mais dinheiro.
Eram tempos agitados. Todo o Estado, por obras de sucessivos
governos, ardia em franco progresso, dividido entre
alguns poucos milionários e alguns muitos miseráveis.
Municípios havia já completamente loteados e leiloados.
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