Comentários sobre o conto - Geia Plural

Percorreu a estrada de Rancho Grande em marcha de preguiça.
Cada curva, cada riacho trazia-lhe à mente pedaços
de sua vida. Nem sempre fora assim. Naquelas paragens
conhecera Rosilene e navegara suas águas, não por mero
prazer carnal, mas por amor mesmo, paixão... E teve saudades
de si mesmo. Seria ainda capaz de chorar de emoção
como no tempo de criança? – indagou-se. Não obteve resposta,
pois um bando de macacos que saltavam de galho
em galho nas copas das árvores em grande alarido trouxe-o
de volta à realidade.
– Altos paus, redondelas, ouvem-se os clamores! – exclamou
em tom solene de discurso.
Gostava, desde garoto, desse tipo de artimanha. Interpretava
os acontescimentos em frases sem sentido lógico, o
que lhe causava especial prazes, pois, falando sem pensar,
às vezes criava frases curiosas, que depois anotava em caderno.
– Boa frase! – disse de Astério para Astério.
Agora, desperto dos pensamentos e mais dono das emoções,
passou de pensativo a observador. Iria até o final da
viagem ocupando o tempo em fazer suas frases.
Perto de um lago avistou mulheres que lavavam roupas.
Parando o cavalo, interpelou-as:
– Hem, comadres o negócio aí é de xirre xirre xinxirre!
As lavadeiras, que nada haviam entendido, concordaram
com sorrisos. Astério ficou satisfeitocom essa outra frase
que criaria e seguiu viagem e repeti-la, a fim de não a esquecer
até o instante em que tivesse à mão seu caderno.
O sol já apontave para o meio-dia, quando pisou em pastos
de Rancho Grande. Um rebanho de caprinos pastava
à beira da estrada. Astério ficou em pé sobre os estribos e
declarou:
– Aí vai o capitão Mendonça, com suas forças armadas,
comandando seu batalhão e balançando seus badulaques!
O capitão Mendonça, no caso, era um bode velho que
encabeçava o rebanho. Riu satisfeito. Não conhecia tarefa
a que tivesse maior apego que a de construir suas frases,
anotá-las e usá-las em conversa de salão. Sempre surtiam
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