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Comentários sobre o conto - Geia Plural

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As ponderações de mestre Barbosinha ocuparam espaço<br />

de latifúndio na cabeça e no sono do coronel. Sujeitinho<br />

encapetado este Barbosinha, capaz de fazer gato-e-sapato<br />

com as palavras e de deixar tonto o juiz Gouveia, que acaba<br />

sempre concordando com suas teses, suas jurisprudências<br />

e sua hermenêutica. E foi no rabo de noite passada, em<br />

desconforto de insônia grave, que o coronel formou decisão<br />

passada e repassada em travesseiro desdormido. Vou produzir<br />

meu próprio advogado. Formo Astério meu filho em<br />

doutor e fica resolvida a questão. E riu esperançoso: vai ser<br />

Barbosinha de contrair mal de alegria a compartimento de<br />

fórum.<br />

Nos dias que se seguiam, o coronel não se dedicou a outra<br />

tarefa. Escrevia cartas e mais cartas a amigos seus da<br />

capital e passava o tempo restante em reunião do sigilo com<br />

Astperio, que, do dia para a noite, assumiu ares de gente<br />

importante, de não consentir intimidades com a criadagem,<br />

coisa que nunca fora de seu natural proceder. Criado pelas<br />

mãos de preta Emerenciana, acostuma-se desde menino<br />

a brincar com os filhos de cambiteiros e dos cortadores de<br />

cana, do sujeito não diferençar o patrão do empregado.<br />

Numa coisa apenas não mudou Astério. No avançado<br />

da madrugada com Rosilene, moça de grande serventia de<br />

cama e cheiro de maresia, porto particular de suas navegações<br />

noturnas, era menino de colo, chorão em noite de<br />

manha, de só dispensar os serviços da menina no clarear<br />

do dia.<br />

E foi em manhã de muito conselho do coronel e lágrimas<br />

de Rosilene, que Astério partiu para a capital.<br />

– Não me volte aqui sem diploma, seu Astério – dizia o coronel.<br />

Não carece! Mando tudo de que precisar, pois doutor<br />

é vivente ocupado, sem tempo para desperdiçar em coisa<br />

desimportante.<br />

Vez por outra Astério se fazia presente em cartas que relatavam<br />

os progressos que fazia. Já desbancara muita raposa<br />

velha do direito na capital, em apenas três anos de<br />

estudo. Contava as maiores vantagens, de deixar o coronel<br />

orgulhosão. No final vinha sempre o pedido de dinheiro para<br />

compra de livros e pagamento de cursos necessários à sua<br />

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