Comentários sobre o conto - Geia Plural

– Seu Barbosinha... Que mal pergunte, não lhe ocorre
saída menos danosa? Uma coisa mais suave? – indaga
Damião, encolhido.
– De existir existe, seu Damião, porque advogado nasceu
para este ofício de encontrar saída em labirinto. Só que eu
acho difícil o senhor concordar.
– Concordo sim, compadre Barbosinha! Diga a condição,
que eu concordo.
– Desista da ação e, se possível, faça as pazes com o coronel.
– Seu Barbosinha, compadre, o senhor pensou com acerto.
Depois, já era mesmo tempo do coronel ganhar uma,
senão a coisa ia perder a graça.
Formalizada a desistência que foi de pronto homologada
pelo juiz Gouveia, Barbosinha aproximou-se meio sem graça
de Astério e estendeu-lhe a mão.
– Posso dar-lhe meus parabéns? E caiu em elogios: o senhor
vestiu o arrazoado com roupa nova exibiu uma retorica
impecável! Falava e tocava na gola da beca de Astério,
como quem retira invisível poeira.
Num gesto elegante, Astério retirou a beca e a entregou a
mestre Barbosinha.
– É sua, mestre. E fico feliz que tenha gostado dela. É
nova em folha e eu faço questão que o senhor a receba
como recordação deste dia.
– Não sei se devo... – gaguejou Barbosinha.
– Claro que deve, mestre! Depois, eu tenho várias retóricas
em meu guarda-roupa. E, olhando em volta, em gesto de
despedida: agora me deem licença, que devo descansar. E
no ouvido de mestre Barbosinha: estou com o arrazoado
todo moído da viagem que fiz a cavalo.
Astério afastou-se em companhia do pai e de alguns parentes,
sob os aplausos dos que lotavam a praça do fórum.
Mestre Barbosinha sentiu uma tontura e apoiou-se num
poste. Ficara de repente só. Pensou na vida, pensou em
padre Eucrásio, nas pernas da prima Enedina e nos seus
avantajados, pensou em nos sessenta e cinco anos de idade,
em sua barriga, suas pernas finas, sua assimetria, seus
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