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Comentários sobre o conto - Geia Plural

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ilustração. Babando de contente o coronel despachava malas<br />

de dinheiro para Astério.<br />

Romualdo Galego, cunhado do coronel, intervinha cauteloso:<br />

– Compadre, vá devagar com o andor, que o santo é<br />

de barro...<br />

– Umas favas, seu Romualdo! O santo é de madeira de lei!<br />

O senhor até parece desconhecer o sobrinho que tem. Leia<br />

as cartas! Leia e aquilate se é de barro! Ando a investir no<br />

futuro, compadre Romulo. No futuro nosso e do País, no<br />

campo da educação. Se todos obrassem com igual patriotismo,<br />

quebraríamos as peias do subdesenvolvimento e o<br />

País correria em asa de relâmpago ao encontro de seu glorioso<br />

destino! E discursava de general.<br />

A fama de Astério corria meio mundo, alardeada pelo coronel,<br />

em palestras, cartas e notícias na Gazeta Pequiense.<br />

Falavam do monstro da oratória em grandes julgamentos<br />

na capital. Elegiam Astério à condição de professor da faculdade,<br />

antes mesmo de terminar o curso. Contavam das<br />

viagens que o rapaz fazia frequentemente ao estrangeiro em<br />

tarefa de pesquisa, onde deixava ingleses e americanos embasbacados<br />

com suas teses. Até mestre Barbosinha arriscava<br />

em elogio:<br />

– Nunca me enganou esse menino. Foi meu aluno ainda<br />

no ginasial e já naquele tempo apresentava todos os sintomas<br />

de gênio que viria a ser.<br />

Passados seis anos desde a ida de Astério, chega a Ribeira<br />

dos Pequis a notícia de sua formatura, e em carta jeitosa,<br />

com fala macia, requeria mais dois anos de prazo para<br />

estudo no exterior em matéria de especialização.<br />

Não faz mal, seu Romualdo! – dizia o coronel. O doutor<br />

quer chegar em Ribeira munido de cultura, de modo a desbancar<br />

de vez com a topetice desse Barbosinha, que, a bem<br />

dizer, ainda advoga pela aritmética.<br />

– É compadre Zequinha, faz pena que Ribeira dos Pequis<br />

não tenha crescido o bastante para comportar sujeito letrado<br />

no calibre do doutor Astério... – dizia Romualdo compenetrado.<br />

Não sabia o coronel que Astério nunca frequentara recinto<br />

de faculdade e que empregava o tempo e o dinheiro que<br />

recebia em ofício de sem-vergonhice nas boates e cabarés,<br />

onde enterrava a fortuna do pai.<br />

E foi em manhã de sol e passarinho na fazenda Rancho<br />

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