Comentários sobre o conto - Geia Plural

estudos científicos de que lhe falou o Sunguelo. Deixe eu
lhe falar mais de Simplício Piticaia: é um antropólogo de
fama internacional, um dos poucos que já manteve contato
direto com esse grupo, depois de ganhar confiança deles, e
já vem pesquisando há anos esta estranha fauna, com trabalhos
apreciados em congressos e mais congressos.
– Não posso acreditar nisso.
– Acho melhor você acreditar. Nós nos colocaríamos muito
mal se fôssemos mexer nesses pretos assim sem mais
nem menos.
O mostro coçou-se com raiva, jogando de lado a cabeleira
leonina. Nunca que lhe pudesse entrar pela cabeça, qualquer
que fosse o motivo, chegasse a impedir as muitas léguas
contínuas dos seus muitos hectares de terra virgem.
– Compramos um país...
– Sim, um país dentro do País, maior do que muitos países
por esse mundo afora.
– Mas, desafortunadamente...
– O quê?
– Não podemos ocupa-lo.
– Oh, não, não, está cedo para qualquer decisão final.
Veja, eu não descartei nenhuma medida de força. É que
acho que o assunto podia se resolver diferentemente, se
pensássemos... Você me dá carta branca, por uns minutos?
Só a muito custo o assessor extraordinário convenceu-o a
descerem no meio da aldeia. À medida que o helicóptero perdia
altura, o Gigante passou a exalar uns odores estranhos,
não, como se pensou à primeira vista, em consequência do
medo de ser comido vivo, mas por causa de uma desidratação
amazônica de que ia sendo acometido.
Mas não existia viv’alma nos casebres. O assistente especial
percorreu toda a clareira até onde pôde e percebeu que
havia gente escondida à beira da mata.
– Alô, gente. Alô, gente. É de paz.
À sombra das árvores ele viu os negros amontoados a um
canto, apavoradíssimos, abraçados a um tronco como a um
mastro de navio negreiro.
– É de paz. Somos amigos. Quero falar com o chefe de
vocês. Pode vir sem medo que não viemos pra fazer mal.
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