Comentários sobre o conto - Geia Plural

– Muito obrigado. Mas, pelo jeito, algo mais do que a intenção
de ver um nariz ou um chafariz traz vocês até aqui.
– Verdade.
– Então, vamos ao que importa.
– Certo. Gosto de gente assim – rosnou o Gigante, soltando
fogo.
O assessor explicou-lhe de que se tratava:
– Ah, sim vocês são compradores de terras.
– É. Temos lá uma invasão.
– Sei: eles são invasores. Vocês são grileiros.
– Não, não. Nós temos o título de propriedade, tudo legalizado.
– Sim, como tem de ser. Uma questão de jeito, de prestígio
e de semântica. Ricos e pobres disputando o mundo,
há alguns milhões de anos. Grilagem e invasão são verso
e reverso de uma só moeda. O invasor é o grileiro pobre. O
grileiro é o invasor rico.
– Doctor Piti...
– Perdoem a digressão. O caso é que vocês estão mexendo
em chapim de caba. Aquela é uma das últimas comunidades
negras mais ou menos puras do País. Conservam
quase intactos uns velhos costumes, como a sua religião
anímica, e desconhecem muitos dos nossos. Como todos
nós, são muito supersticiosos...
– Supersticiosos?
– Sim. A superstição é o adubo das suas relações com o
Absoluto. Vocês certamente encontraram uma grande árvore,
um piquizeiro centenário no meio da clareira, não?
Não sei como lhes diga: eles temem a essa árvore como se
ela fosse ao mesmo tempo, e conforme a ocasião, a encarnação
de Deus ou do Diabo.
– E o que desconhecem do nosso mundo atual?
– Bem, não é desconhecer, mas... Por exemplo, a televisão,
as viagens espaciais. Lembro-me quando riram e
protestaram com animação quando lhes falei que o homem
já tinha ido à lua.
Os homens se despediram de Piticaia sem conseguir nada
do que buscavam.
No coração da megalópole paulista, no trigésimo segundo
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