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Comentários sobre o conto - Geia Plural

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Os honorários, no grosso, vinham em moeda de gratidão.<br />

– Doutor Barbosinha, era gosto meu e da Do Santo que o<br />

senhor fosse padrinho de Getulinho. Não se falava mais em<br />

horários.<br />

Onde já se viu cobrar besteira de compadre? Comadre é<br />

parente! E estava enterrado o assunto.<br />

Fora dos festejos de padre Eucrásio, a bem da verdade,<br />

Barbosinha era outra pessoa. Dominava com grande competência<br />

o terreno do delito de safadeza. Dançador pé-deseda,<br />

não desperdiçava folguedo no Clube Cultural e Recreativo<br />

Pequiense. E em prosa vadia no Café Palácio:<br />

– É como eu sempre digo: não conheço ofício mais mimoso<br />

que este de alisar cangote de moça donzela em salão de<br />

festa de luz escassa. É ter início a função e este seu criado<br />

contrair um fungado renitente, coisa de origem jurídico-filosófica,<br />

mas muito do gosto das damas. Fungue, seu Barbosinha..<br />

Olhe, seu Bertoldo, não é qualquer menino de<br />

dezoito anos que vai colocar em situação de desvantagem<br />

este seu criado, em tarefa de fungamento e sem-vergonhice<br />

em casa de mulher desimpedida.<br />

A bem dizer, uma única desamizade em Pequis. O coronel<br />

Zequinha das contendas, político, dono de alambique e<br />

perdedor contumaz de questões para mestre Barbosinha.<br />

Na ultima demanda braba travada por encomenda de Damião<br />

de Esmeralda, vereador de oposição e que sentia especial<br />

gosto em patrocinar causas de seus eleitores contra<br />

o coronel, Barbosinha fizera-lhe umas ponderações.<br />

– Ouça, coronel: é do meu especial deleite contar com o<br />

senhor entre os opositores de minhas causas, porque um<br />

homem não pode, sem risco de rebaixamento, abrir mão do<br />

direito de escolher seus amigos e seus inimigos, e este seu<br />

criado nunca gostou de medir força com sujeito amareloso,<br />

padecente de malária. De modo que, em me considerando<br />

detentor vitalício de sua desamizade, da qual não abro mão,<br />

me dou o direito de lhe passar aviso: se o coronel não requerer<br />

reforço do céu, vai acabar pobrinho de Jó, em cobrimento<br />

de despesas de honorários de advogados e taxas do<br />

governo. E conselheirão: tome juízo, coronel! Tome juízo e<br />

acabe com essa fome de terra, que o senhor não é minhoca.<br />

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