Comentários sobre o conto - Geia Plural

– Hello, people! Meu nome é Neil Armstrong e trago uma
saudação para todos os povos irmãos, habitantes do Universo.
Estamos em missão de paz e fraternidade. Mas cumprimos
o dever de avisar a todo o mundo sobre a Grande
Ruína que vai acabar com metade da Terra. Os homens
têm feito muito mal e estão se destruindo. Um grande banho
de fogo, um grande banho de fogo - (e o foguetório zune
por todo lado) - vai incendiar todas as florestas sem sobrar
uma. Quem não quiser morrer, deve procurar o caminho
dos rios ou refugiar-se por onde tenha água. Vocês não percam
tempo. Desapareçam dessa mata logo. Vão-se embora
todos. Quem não obedecer a essa recomendação vai virar
uma rocha acesa cheirando a carne assada.
A fala do astronauta termina por uma gargalhada e logo
recomeça no mesmo tom:
– Hello, people! Meu nome é Neil Armstrong ... - como se
fosse uma gravação. A voz ecoa pelos sete morros junto
com o ribombar dos foguetes e precisa ser repetidas muitas
vezes:
– ... meu nome é...
– Seu Nélio. Seu Nélio. Quero uma palavrinha com vosmicê.
Desça daí.
Na Capital, o professor Simplício Piticaia lê a notícia do
desbaratamento misterioso do isolado da Boa Esperança,
que ele mesmo levara à imprensa. O jornal informa: quase
todos parecem ter morrido afogados. Apenas um dos negros
ficou lá, endoidecido, zanzando no meio da clareira,
com as mãos pros céus:
- Seu Nélio, seu Nélio. Desça daí...
Só depois é que o jornal deu o que comprovavam há tempo
uns escondidos mapas do levantamento aerofotogramétrico
da Amazônia: no local onde era o casario dos negros
estava a maior mina de ouro da região. A céu aberto.
Sebastião Moreira Duarte
M.Sc Administração Universitária, University of Alabama; PhD em Literatura Latino
Americana, University Illinois, membro da Academia Maranhense de Letras.
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