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O olhar da rã<br />
A<br />
rã falava pelos olhos que lhe espocavam da<br />
cabeça. Perto do lago, com as longas patas traseiras<br />
mutiladas, a rã não podia pular: foi o que<br />
concluiu o menino, conhecendo tão bem o olhar e pulo de<br />
rã. E como o pulo era o que parecia ao menino a razão maior<br />
de qualquer rã, esta rã estava sem a sua razão de ser.<br />
Todo olhar de rã, por si, é sem igual. Toda rã olha como<br />
quem está sob uma aflição, como quem fareja o alimento<br />
ou perscruta o limiar da afronta. Esse olhar de rã está ligado<br />
ao pulo com o qual empreende a busca ou a fuga na<br />
hora necessária.<br />
Mas o olhar desta rã era único, o menino logo percebeu.<br />
Nenhuma outra rã terá olhar parecido: quer fosse abundancia<br />
ou ameaça, ela apenas via com arredondados e enormes<br />
olhos, escancarados para o fim.<br />
O menino, então, agachou-se espantado e esperou.<br />
Arlete Nogueira da Cruz<br />
Romancista, ensaísta, poetisa e contista maranhense<br />
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