Comentários sobre o conto - Geia Plural

por um megafone, o foguetório acompanhando-a de entre
as folhas do Piquizeiro:
- Atenção, atenção! Estamos aqui - e a noite se faz uma
fogueira -, estamos aqui para anunciar uma grande novidade.
Amanhã, às dez horas da manhã, grande show, o maior
de todos os tempos, em todo o mundo, o maior de todos
os acontecimentos. Amanhã, no alto do Piquizeiro Velho,
o Homem-Que-Foi-à-Lua virá fazer uma visita a todos os
moradores deste lugar. Ninguém deve perder este grandioso
espetáculo em uma única apresentação: o senhor Neil
Armstrong em pessoa virá contar para todos como foi a sua
chegada à lua, as novidades incríveis, fantásticas, extraordinárias,
que trouxe de lá. Não percam, não percam! Amanhã
às dez horas!
A voz sobe e desce pelas encostas dos pequenos morros,
em cujas matas os pretos apavorados se escondem da
maior visagem de sua vida.
Só Preto Balbino e Chico Venâncio ainda teimam:
– Eu num lhe disse?
– Disse o quê, Balbino? Tu num tá vendo que o fim do
mundo começa assim?
– Eu num sei. Só sei que amanhã eu vou conversar com
esse tal de Nélio Armestrume. Vou tirar essa questão a limpo,
que não tou aguentando mais.
Cedinho da manhã, os visitantes correm para o Piquizeiro
com um sacolão e outros apetrechos. Quando os negros
abrem os olhos vêem um balão gigantesco amarrado ao
alto da árvore mal-assombrada.
– Em que língua querem que eu fale? - pergunta o pontífice
daquela cerimônia.
– Fale numa língua que essa pretama entenda bem do
que se trata - responde o chefe de operações.
Às dez horas em ponto começa o grande espetáculo. Nova
e estrondosa queima de fogos, para iniciar, e das alturas
do balão para dentro da mata faz-se o maior de todos os
anúncios:
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