Comentários sobre o conto - Geia Plural

– O senhor não vai entender. Por favor, vocês expliquem
isso aí pra ele – pedia aos assessores do Monstro.
– Qual é o problema?
– É que a área é toda mal-assombrada. Todo mundo que
vai lá, até o mais corajoso, volta na carreira conversando
coisas que não sabe contar. No meio do Vale tem um piquizeiro
enorme, uma das nossas árvores tropicais, está
me entendendo? É impossível se fazer coisa séria contra os
pretos sem atravessar o caminho onde está o piquizeiro. E
contam que dois homens que foram enfrentar a visagem
também se encantaram, andando nus no alto da serra.
Surpreendentemente, o Gigante torceu a boca e, em vez
de labaredas, soltou uma gargalhada:
– Oh! Voodoo!
– É isso mesmo, feitiçaria – completaram os seus cupinchas.
– Coisas de negro mesmo.
– No problema, no problema. – E abriu-se no que importava:
- Paguem ao homem. O negócio está feito. Nós nos
arranjamos quanto a esse Vale.
– Está certo que negro e merda é tudo uma coisa só - concordou
o assessor imediato. - Mas, por isso mesmo, não vamos
apanhar merda com as mãos. Vamos limpar isso com
muito cuidado, se não a gente também se suja.
A comitiva olhava das alturas do helicóptero o casario de
palha lá em baixo e a população toda correndo, apavorada
com o bate-bate das asas do gafanhoto metálico.
– Destruam tudo. Use napalm, if necessary - insistia o
Gigante, encolhendo-se em oito das dez poltronas da máquina
voadora.
– Poderíamos fazer isso. O problema é que não iria pegar
bem.
– E quem vai se preocupar com esses animais nessa selva
escondida?
– Certo. Estamos distantes da civilização e estes são, em
verdade, uns bugres. Acontece que se transformam mesmo
numa atração internacional.
– Você está brincando. Esses são uns macacos.
– São, está bem. Mas, exatamente por isso, objetos dos
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