Comentários sobre o conto - Geia Plural

– Como não tem jeito?
– É... É uma espécie de isolado negro. Moram lá desde
quando comprei as terras.
– E com isso? Os outros também estavam.
– Certo, mas é que nesses pretos a gente não pode mexer.
O Gigante passou a soltar labaredas aos quatro ventos:
– Mas, para que ser humanitário agora? Por que não poder
mexer?
– Não é bem isso. E que já fizemos o possível e não deu certo.
Os meus homens já foram lá, alguns foram até mortos.
A Polícia foi, voltou correndo. Todos voltam alarmados e
não encontram nada. Ainda chegamos a queimar algumas
casas deles, mas eles são capazes de reconstruir tudo com
uma rapidez incrível.
– Mas não se pode ter compaixão.
Juca Sunguelo se fazia humilde ao contar a derrota de
seus capangas e ao imaginar-se sem os dólares com que
sonhava.
– Não é o caso de ter ou deixar de ter compaixão, não se
trata disso. O negócio é que a gente chegou a chamar a
atenção de uma revoada de cientistas quando nos metemos
a expulsar o pessoal do Vale da Boa Esperança. Tem muita
gente interessada em estudar esses negros, os modos,
a fala deles. Por mim, era melhor estudar um zoológico.
Mas... Um dos seus assessores conhece o Professor Simplício
Piticaia.
– Quantos cientistas já foram lá?
– Que eu saiba, só o Dr. Piticaia, É dificílimo chegar ao
Vale. Mas todos fazem um barulho dos diabos.
– Então, nada feito.
O Gigante se levantou e deu com a cabeça nos lustres da
sala. O grileiro pulou de lado.
– No, nada interessa. Nenhum dos seus argumentos conta
para mim. Você pode nos entregar também aquela área
livre e...
Juca Sunguelo se viu obrigado a juntar as suas últimas
palavras, agarrando-se a elas com as forças todas que tinha:
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