Comentários sobre o conto - Geia Plural

- Era certo, viera mesmo remanchando, porque... queriam
saber? Porque estava até com vergonha de os encontrar!
Tornou-se maior a surpresa da vasta companhia.
- Mas por que, homem de Deus? - perguntou alguém.
O santo não veio?
- Veio... mas foi uma de todos os diabos! Veio, mas a
carga está vazia, porque não foi necessária! Querem ver
o santo?
E arrancou de uma das amplas algibeiras do paletó
de riscado, onde se abrigava, cuidadosamente embrulhada,
a imagenzinha de um frade, que depois
verificaram não ir além de 18 centímetros, o qual sustinha
em um dos braços um minúsculo Menino Deus
de cabelos de oiro.
- Sim, senhores, ali estava a rica imagem de quase
um metro de altura, que tinham pedido da cidade
de Lisboa! Pelo menos, era a que lhe haviam entregue
em Caxias! Até andara perto de não a receber, de indignado
que ficara! Sim, senhores, uma de cabo-de-
esquadra!
O santinho começou a andar de mão em mão, no meio
de um imenso desconsolo. Ninguém se podia conformar
com aquela extraordinária fatalidade. Havia quanto
tempo não se falava em outra coisa, na vila e em
toda a freguesia? E tantos preparativos, tanta alegria,
tamanho entusiasmo! E o padre Hildebrando? E com
que cara entrariam na vila, conduzindo o andor vazio,
porque não haviam de levar um santo tão pequeno
dentro de um andor tão grande?
Cessava o foguetório, emudecera o Hino de Santo Antônio.
Ninguém tinha alma para ouvir estalos de bombas
e notas de músicas, depois de uma daquelas!
E, quebrando o silêncio de subterrâneo, pesado e opressivo,
que se estabeleceu por minutos, principiaram os comentários
em torno do lamentável acontecimento. Lembraram-se
várias hipóteses para explicar a substituição
do tamanho da imagem. Uma, finalmente, foi admitida
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