Comentários sobre o conto - Geia Plural

e jardim ao lado. Às nove da manhã já transbordava de
gente e os homens refluíam para a sombra das árvores,
a fim de que as senhoras ficassem mais bem acomodadas.
Entretanto, só excepcionalmente uma ou outra das
pessoas que iam chegando deixava de, embora a custo,
penetrar a sala onde se oferecia à admiração geral rico
andor que se destinava à honra insigne de trazer o Padroeiro.
O andor resplandecia ao centro da sala, fartamente enfeitado
de galões, ostentando uma vasta policromia de fitas
e flores, cuidadosamente presas a um fundo de seda
azul-celeste.
- Que encanto! Que beleza de trabalho! É um primor!
Crivavam-no de elogios. Às moças que o haviam feito, e
que pertenciam às melhores famílias da terra, não faltavam
aplausos dos mais vibrantes.
Finalmente, às 10 horas, abalou o vultoso cortejo, por
entre o crebro estalar dos foguetes e ao som do Hino
Nacional executado com entusiasmo pela Harmonia Maranhense,
nome da charanga da vila. O andor, conduzido
aos ombros de quatro robustos latagões, luzia, como
um sólio de oiro, ao vivo esplendor dos raios solares. De
quando em quando, incorporavam-se ao cortejo grupos
endomingados e risonhos, postados de espera às margens
do caminho. Eram pessoas da grande família matuta,
em cujo coração ainda existe, desanuviada de toda
a dúvida, com a crença perfeita em Deus e nos santos, a
certeza plena da outra vida. E aquelas que, por qualquer
motivo, não tinham podido fazer o mesmo, e residiam à
vista da estrada, quedavam à porta das casas, olhando-
-o, num enlevo, até que a multidão dos romeiros desaparecia
ao longe, entre as árvores, ou na descida de alguma
lombada...
O sol, entretanto, já se aproximava do zênite, sem
que o encontro se desse. Os romeiros começavam a inquietar-se.
Teria acontecido alguma coisa ao portador
da imagem? Segundo fora combinado, ele devia ter partido,
na madrugada daquele dia, da fazenda dos Montes
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