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Comentários sobre o conto - Geia Plural

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contar, “para não arranjarem namoros escandalosos”. Foi<br />

por isso vaiado em plenário e revidou, lamentando que a<br />

família maranhense negasse o reconhecimento a um de<br />

seus “mais legítimos defensores”. Na capital do Estado celebrizou-se<br />

como uma figura bombástica. Mas no sertão,<br />

reunia em torno de sua pessoa o prestígio da força e de<br />

fortuna que detinha.<br />

Fez-se abastado proprietário de terras e gado, constituindo<br />

um vultoso patrimônio, herdado pelo filho único -<br />

Josias Nogueira, de índole muito diferente do pai. Era um<br />

solteirão festeiro. D. Juan matuto que morreu em plena<br />

juventude, sem deixar prole. Homem de coração boníssimo.<br />

Boêmio que nunca aprendeu a tocar nenhum instrumento<br />

musical, mas tinha muita sensibilidade. Dava<br />

casa, roupa e comida a Jerônimo Violeiro, que enchia de<br />

canções dolentes as noites enluaradas do sertão, em serenatas<br />

que marcaram para sempre a memória dos mais<br />

velhos. Amava as caboclinhas moradoras de suas terras,<br />

mas nunca fez mal a nenhuma delas sem que pagasse<br />

um dote compensador. Era um romântico, um sonhador<br />

que teria deixado até versos, talvez, se soubesse algo mais<br />

que ferrar o nome. Seus herdeiros foram Chico Severo e<br />

Zé Nogueira, primos entre si e os parentes mais próximos<br />

do finado Josias, que morreu cedo, mas deixou fama de<br />

bonitão.<br />

Os dois novos ricos efetuaram a divisão do gado, das<br />

casas e de alguns outros bens, sem grandes problemas. Mas<br />

quando chegou a vez de partilhar as terras, discordaram<br />

violentamente. Ambos reivindicavam o Baixão do Babaçu.<br />

E de primos e amigos que eram, em pouco tempo estavam<br />

feitos inimigos viscerais. Cada um se estabeleceu num ponto<br />

extremo da Malhada Bonita. Mas nenhum deles investia<br />

<strong>sobre</strong> aquela faixa de terra que valia, só ela, quase mais<br />

que o restante de toda a data. E não havia como dividir<br />

a contento de ambos as terras de Malhada Bonita. Se a<br />

divisão fosse feita de norte a sul, ficaria para Zé Nogueira<br />

o Baixão, com o que absolutamente não concordava Chico<br />

Severo. Este exigia obediência à trajetória solar, isto é –<br />

que a divisão da data Malhada Bonita tivesse por base<br />

uma linha reta iniciada na direção em que o sol nasce,<br />

terminando na em que se põe.<br />

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